Nesses tempos de pouco dinheiro e muito desemprego, costuma demorar a chegar uma boa notícia. E quando ela chega, vale a pena divulgar. Como nossos leitores devem saber, eu sou o presidente, com muita honra, de uma comissão parlamentar de inquérito do Congresso Nacional que apura os crimes praticados na emigração ilegal. Mas não é só isso.
Nós temos também o objetivo de lutar pela cidadania de nossos irmãos, que hoje vivem no exterior e somam mais de dois milhões. Este objetivo é tão importante quanto o primeiro e foi por isso que fomos inúmeras vezes aos Estados Unidos, por exemplo, para visitar os brasileiros presos e trazê-los de volta para casa. Estivemos também no Japão.
Aliás, do vice-ministro da Justiça japonês, ouvi um pedido de desculpas formal do Governo daquele país pelos delitos praticados por jovens brasileiros, já que eles estavam convencidos de que aqueles rapazes não cometiam tais crimes no Brasil e nem tinham ido ao Japão para cometê-los. Na verdade, a violência praticada era uma forma de expressar a revolta pela falta de condições de aprenderem a língua e de se integrarem à sociedade local.
Estivemos também em Londres, cobrando das autoridades britânicas a punição dos culpados pela morte de Jean Charles de Menezes, para que a responsabilidade de um crime bárbaro como aquele não fosse diluída na cadeia de comando ou transferida para uma suposta falha no regulamento.
Mas a boa notícia a que me referi no título é em relação aos nossos brasileiros que vivem nos Estados Unidos. Centenas de milhares deles estão lá ilegalmente. Entraram escondidos pela fronteira com o México, pela mão de um coiote, ou foram como turistas e não deixaram o país quando o visto expirou. Normalmente eles recorrem a falsários para obter vistos e torcem para que ninguém os descubra. Esta é uma situação de alta vulnerabilidade, ou seja, eles podem ser presos a qualquer momento, deportados, explorados por maus patrões e, pior, ficam impossibilitados de vir ao Brasil, por exemplo para visitar uma mãe doente, prestes a falecer. É vida de exilado.
Nesse sentido nossa comissão visitou o senador Eduard Kenneddy, democrata de Massachusset, e eu mesmo entreguei em mãos uma carta ao presidente George Bush por ocasião de sua última visita ao Brasil, pedindo que fosse aprovado o projeto “guest worker” (trabalhador convidado), que tramita no Congresso americano há anos.
Esse projeto permite a regularização por três anos, renováveis por mais três, de todos os imigrantes ilegais nos Estados Unidos, que tiverem emprego formal no momento da promulgação da lei. É a conquista da cidadania para milhares de brasileiros. Pois bem: esta semana o projeto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado americano, dominada por republicanos conservadores e, portanto, passou pelo maior teste. Só falta a votação em plenário, o que deve ocorrer em breve. Uma boa notícia para todos e especialmente para os mineiros do Vale do Rio Doce, que possuem tantos amigos e parentes na América.
Publicado na Folha Universal, edição 731, de 2006