Criada há cerca de dois meses, a lei federal que tenta impedir as “corridas” de motoboys pelas ruas das cidades brasileiras ainda não conseguiu frear o problema. A legislação proíbe que empresas pressionem e estimulem a produtividade de seus funcionários ao estabelecer prêmios por cumprimento de horários de entrega, cada vez mais curtos. A falta de fiscalização, a cargo do Ministério do Trabalho e Emprego, é o principal obstáculo para que a norma comece realmente a mudar o panorama do trânsito do País.

De acordo com o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), autor da lei, o mais importante é regulamentar a profissão e criar mecanismos para que haja uma maior segurança. “O que acontece é que as empresas, muitas vezes, acabavam fazendo com que os entregadores tivessem de andar muito rápido para garantir as entregas em um tempo que agradasse o destinatário”, disse.

Gilberto Almeida dos Santos, presidente do Sindicato dos Motoboys de São Paulo, afirma que a pressão em cima dos motoboys sempre existe, mas que agora, pelo menos eles têm a cobertura da lei, que prevê multa de R$ 300 a R$ 3 mil para as empresas infratoras. “É importante que os trabalhadores tenham ciência de que a lei existe e eles não podem ser pressionados dessa maneira. Acredito que a situação geral vai melhorar”, afirma.

Nas ruas, motoboys ouvidos pelo Terra acreditam que pouco vai mudar, já que muitas vezes o acúmulo de trabalho faz com que eles próprios procurem andar mais rápido para cumprir a jornada.

Enquanto descansava sobre a própria moto logo após o almoço, o motoboy Edivair Souza, 23 anos, que atua na profissão há quatro anos, diz que a vida deles na rua é uma loteria. “Normalmente, faço de dez a 15 entregas de documentos por dia, em uma jornada das 9h às 17h. São documentos que muitas vezes precisam chegar rapidamente aos seus destinatários. Muitas vezes, exageramos um pouco no trânsito, mas os motoristas dos veículos nem sempre nos enxergam. Não é uma vida fácil”, diz. Souza disse que já perdeu pelo menos cinco amigos em acidentes com motos, mas nunca sofreu um acidente grave. “Quando a gente sai de casa, sempre pensamos na família. Acho que é a melhor receita para voltar bem para casa”, diz.

Souza afirma que as empresas legalizadas têm se profissionalizado e talvez os maiores problemas estejam em entregas noturnas, principalmente as feitas por restaurantes e pizzarias. “Depois de trabalhar o dia todo, muitos trabalham à noite, fazendo entrega de comida. E nesses casos, além da pressão do comerciante, entra também a pressão de quem vai receber. Todo mundo quer que chegue logo. E isso aumenta o risco”, afirma.

Jefferson Nascimento Silva, 23 anos, também trabalha diariamente na rua, em cima de uma moto, diz que os maiores problemas estão nas empresas que trabalham fora da lei. “Aí é um salve-se quem puder. Tem pouco funcionário, muita entrega e o pessoal acaba correndo mais riscos”, afirma.

Vagner Magalhães Direto de São Paulo

Fonte: Terra