A população brasileira vive a insegurança de, a qualquer hora, ter que contar com um péssimo atendimento público de saúde. Todos sabem que faltam médicos na rede hospitalar: os que lá estão ganham mal e trabalham com péssimas condições de equipamentos e instalações e, quando contra tudo e todos, conseguem diagnosticar corretamente o paciente, na maioria das vezes, este não tem dinheiro para comprar o remédio.

No Rio de Janeiro, por exemplo, casos simples de diabetes, que se tratados em tempo se resolveriam facilmente, acabam em amputações. E já há uma multidão de pessoas mutiladas nas estatísticas denominadas de “pé diabético”.

O caso é grave em todos os níveis da administração pública: do municipal ao federal, ninguém escapa. Há um clima de frustração e desânimo entre funcionários, médicos e enfermeiros, e de desespero entre pacientes e clientes na fila.

Quando candidato a Prefeito do Rio, ouvi de uma senhora, na Comunidade do Jacarezinho, que seu marido havia falecido na semana anterior, depois de ter buscado em vão socorro em vários hospitais públicos para tratar de um problema de hemorróidas. Desesperado, ele tomou meia lata de querosene para se “limpar”, como recomendado por um amigo. Ouvi isso com o testemunho de várias pessoas do local, que assistiram à nossa conversa.

O Presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, me passou um relatório da situação da saúde no estado, onde se lia o seguinte caso contado por uma médica plantonista do Hospital Cardoso Fontes. Dizia mais ou menos assim: “No plantão de terça-feira, por volta de 19h30min, recebi uma paciente de câncer de esôfago com um caso grave de infecção. Ela botava sangue por todos os drenos e furos. Como o caso era muito sério, levei-a diretamente para o centro cirúrgico. Para minha surpresa não havia lá sequer um capote limpo. O que usei, devido à gravidade do momento, tirei-o do balde de roupa suja.”

E vai por aí. Nesse relatório, com centenas de folhas, há diversos casos estarrecedores como aquele. Acredito que no resto do País, com poucas exceções, a situação não seja muito diferente. Isso nos compele a lutar pela melhora dos serviços de saúde no Brasil. Saúde não é apenas custeio, como afirmam os neoliberais, inclusive aqueles que subscreveram a Lei de Responsabilidade Fiscal – a qual, em verdade, não tem nenhuma responsabilidade social. Saúde é obrigação do Estado, é dignidade, cidadania e investimento, sem o qual a população brasileira não terá tranqüilidade para encarar o presente e muito menos o futuro.

Publicado na Folha Universal, Edição 737, de 2006