O combate que se estabeleceu nas avenidas da cidade deveria estar ocorrendo em nossas fronteiras, por onde entra o “alimento” do terror

Soldados com fuzis, tanques de guerra, hospitais em alerta, mortos, incêndios, pânico. Essa poderia ser a descrição de Cabul, capital afegã, após mais um sangrento ataque de terroristas talibãs. Mas não é.
Essa descrição é da “Cidade Maravilhosa”, a mais bela dentre as capitais do mundo! Em Cabul, a motivação é o nacionalismo e o fundamentalismo, que prega que o mundo islâmico renascerá com a volta aos costumes tradicionais e à prática religiosa do antigo islã.

Aqui, a motivação é a mais inescrupulosa e cruel retaliação de narcotraficantes, em busca da reocupação de antigos redutos.
Em comum entre as duas cidades apenas o pavor e o sangue de vários inocentes. Há solução para isso?
Basta o confronto bélico, a força bruta, para livrar a cidade do domínio do crime organizado? Creio que não. O melhor para apagar o fogo é a asfixia, a eliminação do oxigênio que o alimenta. O mesmo se dá com o narcotráfico.

O Rio não produz fuzis ou refina a cocaína que alimentam as facções criminosas. O combate que se estabeleceu nas avenidas da cidade deveria estar ocorrendo em nossas fronteiras, por onde entra o “alimento” do terror. O Brasil tem mais de 7.000 quilômetros de fronteira terrestre com os três maiores produtores de folha de coca do mundo: Peru, Colômbia e Bolívia.

A Bolívia é a campeã mundial de refino, mas o maior produtor de folhas de coca é o Peru, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. A cocaína traficada da região andina para a América do Norte e para a Europa rende mais de US$ 70 bilhões anualmente, quase US$ 200 milhões por dia, o que explica o crescimento da violência e da corrupção no Brasil.

Por isso, em 2004, propus no Senado Federal atribuir poder de polícia ao Exército nas fronteiras para combater, também, o tráfico de armas e entorpecentes, tarefa antes atribuída à Polícia Federal.
A proposta foi aprovada e a lei foi sancionada pelo presidente Lula no mesmo ano. Com o emprego do Exército, auxiliado pela Marinha e pela Aeronáutica, o aparato de repressão foi prodigiosamente multiplicado. Então, por que o problema persiste e até se agrava? Sinceramente, eu não sei, mas descobrirei.
Vou criar a “CPI das Fronteiras”.

Convocarei as autoridades competentes para decifrar esse enigma.
Não me conformo com a transformação do Rio de Janeiro em capital da barbárie e com a submissão do povo fluminense à condição de escravo do terror.

MARCELO CRIVELLA, engenheiro civil, é senador da República pelo PRB-RJ. É pastor evangélico da Igreja Universal do Reino de Deus.

Data: 01/12/2010 Fonte: Folha de S. Paulo
ARTIGO – Marcelo Crivella
TENDÊNCIAS/DEBATES