O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, fiquei extremamente chocado, na semana passada, ao tomar conhecimento da declaração do novo Presidente do Irã de que “Israel deve ser riscado do mapa”. Esse tipo de retórica ameaça recolocar o Oriente Médio numa trilha de intolerância, que ultimamente só vinha sendo seguida por grupos extremistas, como o Hamas, desautorizados, inclusive, pela própria Autoridade Palestina. 
Israel acabou de sair dos acampamentos de Gaza em um esforço tremendo pela paz. Estamos vivendo um momento que, nos últimos dez anos, não houve naquela região do Oriente Médio. Para nossa surpresa, faz tal declaração o Presidente de um grande Estado muçulmano, o Irã, que todos admiramos desde a época das escolas. Era a Pérsia. Irã e Iraque, por ali andaram nossos patriarcas, como Abrahão. Ali se construiu a Babilônia. Ali era o paraíso, entre o rio Tigre e o rio Eufrates. Pois de lá vem essa ameaça de extermínio e destruição a Israel. 
Israel é um fato consumado da realidade geopolítica no Oriente Médio, que só pode ser alterado mediante o uso generalizado da força, o que implicaria perdas humanas intoleráveis para israelenses e árabes, ainda maiores que nas três guerras anteriores. Isso foi reconhecido pelos países árabes, pioneiramente pelo Egito, abrindo caminho para uma convivência pacífica que se tornou o objetivo central de todos os amantes da paz, tanto dos que vivem na região, quanto dos amigos em todas as partes do mundo de árabes e israelenses. 
Os próprios palestinos, lutando dramaticamente para ter também a sua própria pátria nos lugares associados à história de seus ancestrais, seguiram essa realidade geopolítica e abandonaram o discurso da destruição de Israel. Os dois lados, na verdade, mesmo que não reconheçam isto explicitamente, sabem que estão condenados, no futuro, geográfica e moralmente, a uma convivência próxima e de cooperação efetiva. 
Nesse contexto, a declaração do Presidente do Irã confronta tendência que se nota no Oriente Médio de uma solução negociada para o conflito, que tende finalmente a ser superado na medida em que palestinos e israelenses tenham, cada um, a sua pátria. 
O lado auspicioso desse episódio deplorável é que os principais dirigentes de países árabes condenaram veementemente a declaração do Presidente do Irã, como é o caso, inclusive, de países árabes conservadores, no passado até extremistas, mas que buscam a paz e não aceitam mais guerras sangrentas no Oriente Médio. 
Se a paz no Oriente Médio ainda não chegou efetivamente, em razão de grupos radicais terroristas remanescentes, a vontade de paz entre os povos e seus dirigentes parece firmemente consolidada, vencendo bolsões intransigentes dos dois lados. É fundamental que o processo de negociação pacífica prossiga. 
Esperamos, assim, como amigo, como Presidente da Frente Parlamentar de Amizade Brasil e Israel, como um amante de Israel – já estive mais de trinta vezes na Terra Santa, já tive oportunidade de andar de Bercheva até Jerusalém e ver a luta de um povo que tenta construir sua pátria de maneira pacífica e ordeira – e também como admirador da cultura milenar do povo árabe e dos exemplos de paz que deu ao longo da história, gostaria, Sr. Presidente, de dar hoje entrada em um requerimento pedindo à Mesa do Senado que emita voto de repúdio a essa declaração belicosa de extermínio do povo judeu, feita pelo Presidente de um país que – tenho certeza – não lhe dá unanimidade nessa declaração, a meu ver, irresponsável. 
Sr. Presidente, eram essas as minhas palavras. Muito obrigado.