O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR – RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, muito obrigado pela deferência de me chamar de bispo. O PMR mudou para PRB: agora é o Partido Republicano do Brasil.
Venho à tribuna, Sr. Presidente, para falar de uma coisa muito importante, Senador Mozarildo Cavalcanti, Senador José Jorge, Senador Amir Lando, Senador Augusto Botelho, meus irmãos todos: no ano passado, no dia 27 de novembro, o Brasil foi co-sponsor, co-autor de uma resolução da ONU importantíssima, a de instituir o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto. No dia 27 de janeiro, em todos os países do mundo, falar-se-á no assunto no sentido de evitarmos que se repita tal ato de intolerância, de beligerância, assassinato em massa mesmo.
Hoje, contamos com a presença da Embaixadora de Israel, aqui em nosso plenário, Sr. Presidente. S. Exª veio aqui exatamente na tentativa de fazer com que o Brasil, que assinou juntamente com outros cem países essa iniciativa tão relevante para os democratas do mundo, também se lembre desta data em nosso plenário do Senado.
A Organização das Nações Unidas instituiu, em 2005, o dia 27 de janeiro como o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto, oportuna e marcante iniciativa. Não fossem as razões históricas que a justificam, há também muitas razões pedagógicas para que se mantenham alertas as consciências em torno do tema da tolerância e da aceitação da diversidade.
A humanidade passou, ao longo de sua história, por inúmeros flagelos em que pereceram parcelas significativas da espécie humana. Todavia, não há precedentes ao Holocausto, de homens levantarem a clava para massacrar, deliberadamente, outros homens pelo simples fato de sua existência, quaisquer que sejam as razões que se aleguem. Nunca se viu, nem antes nem depois, projeto de extermínio de etnias e de minorias como o que o ensandecido regime nacional-socialista alemão levou a cabo nas décadas de 30 e 40 na Europa.
Sr. Presidente, manter viva a memória dos horrores sofridos pelos judeus durante esse período é um dever de todos nós que pugnamos pela justiça social e pela igualdade entre pessoas e povos.
As academias e os livros de histórias devem registrar, com as cores vermelhas do drama, a verdade daqueles tempos. As pessoas, principalmente as novas gerações, devem aprender com a história o que seja comportamento humano em sintonia com a justiça, a aceitação da diferença, a compreensão da fraqueza e das limitações do outro, enfim, a convivência fraterna dentro da sociedade, com a riqueza da pluralidade.
Depois de muito sofrimento, ainda não erradicado, parece que, pouco a pouco, a espécie humana começa a perceber que, ao largo de diferenças de cor de pele, de crenças, de sexualidade, de cultura ou de origem geográfica, existe uma única e indivisível comunidade de homens e mulheres espalhada pela superfície do planeta Terra. É a raça, Sr. Presidente, não de negros, não de africanos, não de sul-americanos, não de asiáticos, mas a raça humana. É impensável imaginar que existam homens e mulheres passíveis de exclusão desta comunidade apenas por serem judeus ou pertencerem a uma minoria.
Srªs e Srs. Senadores, a intolerância em qualquer campo do pensamento ou do comportamento humano é um mal terrível, responsável pelas grandes catástrofes da humanidade. A intolerância com a indiferença provocou guerras, chacinas, crueldades de todo tipo.
Passados mais de sessenta anos do término desse horror, nós ainda não erradicamos da face da Terra o mesmo germe da intolerância que provocou o Holocausto. Todos os preconceitos próprios dos intolerantes ainda permanecem presentes nas ações de pessoas, grupos e nações. Ainda, em nome de causas, se matam inocentes.
Ainda nos é difícil admitir a existência e a validade do pensar distinto; admitir a possibilidade de que exista harmonia entre modelos de sociedade distintos do nosso; admitir que diferenças sociais não são direitos, mas desequilíbrios a serem vencidos; enfim, admitir que todos somos iguais, independente de raça, credo, sexo ou origem social.
A morte de milhões de judeus, assim como a morte de muitos outros milhões de pessoas, deve ser vista como imolação de mártires no altar da construção de um planeta mais harmônico e justo. Martírio que não se deve repetir se quisermos avançar no caminho da justiça e da paz
O Sr. Luiz Otávio (PMDB – PA) – Senador Marcelo Crivella, peço que me conceda um aparte quando considerar conveniente.
O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR – RJ) – Com prazer, ouço V. Exª. Por favor, faça uso da palavra agora. V. Exª é um grande líder do Pará, sempre sensível às causas da democracia.
O Sr. Luiz Otávio (PMDB – PA) – Senador Marcelo Crivella, apresentei requerimento relativo ao assunto que V. Exª aborda, nos termos do art. 199 do Regimento Interno do Senado Federal, solicitando uma sessão especial do Senado, a ser realizada no dia 27 de janeiro, sexta-feira, a fim de comemorar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Comemorar o dia internacional faz com que todos nós, de todo o mundo, em especial os brasileiros, além de recordarmos a data, unamo-nos para vencer mais um dia, mais um ano, reconhecendo que a humanidade precisa dar esse testemunho para que atos como esse não aconteçam novamente. Era o que tinha a dizer. Encerro, tendo em vista o alerta do Presidente João Alberto.
O SR. MARCELO CRIVELLA (PRB – RJ) – Muito obrigado, Senador Luiz Otávio. V. Exª é um democrata e pugna pela liberdade e pelos direitos humanos.
Eu gostaria de ouvir o nobre Senador Amir Lando.
O Sr. Amir Lando (PMDB – RO) – Nobre Senador Marcelo Crivella, V. Exª aborda um tema que, por certo, merece a consideração, o respeito e, sobretudo, a solidariedade de todos nós. Mais do que a recordação das vítimas do Holocausto, mais do que a solidariedade a um povo, é, sobretudo, um grito de alerta para a humanidade. Nesse dia, fazemos uma contrição daquilo que representou a intolerância brutal de raça, de povo, de humanidade. É um momento de reflexão e é um momento, como eu disse, de alerta para que não se repitam mais erros dessa natureza, desse jaez. É lamentável o que aconteceu. E é por isso que relembrar essa data é um dever de todos nós, que buscamos a sobrevivência e a perenidade como espécie humana. Por isso que, nesta hora, quero parabenizar V. Exª, que traz, neste momento curto, a lembrança de um fato hediondo que, por certo, há de perdurar na memória, para o repúdio permanente dos que sobreviveram e dos que hão de vir. Quero, mais uma vez parabenizando V. Exª, solidarizar-me com o povo que foi vítima de um processo tão brutal, horrendo, indigno até do pensamento humano.
O SR. MARCELO CRIVELLA (PRB – RJ) – Muito obrigado, Senador Amir Lando.
Peço a V. Exª, Sr. Presidente, que possamos ouvir o líder do Piauí, Senador Mão Santa, em breves palavras.
Senador, ouço V. Exª.
O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – É com grande satisfação que participo do seu pronunciamento, Senador Marcelo Crivella, que representa Deus, que representa as religiões que nos levam a Deus. Senador Marcelo Crivella, atentai bem, e é muito oportuno isso, foi o nazismo, foi o fascismo, foi o Holocausto, mas, acobertando isso, tinha uma comunicação. Goebbels: “uma mentira repetida se torna verdade”. Atentai bem: o Brasil entrando nas vésperas de um holocausto. O serviço de comunicação oficial do Governo deu o primeiro passo, o apoiamento aos “Goebbels”, “Mendonças”, que enganavam o povo. Foi muito oportuno o pronunciamento de V. Exª. Mais oportuno ainda o requerimento do Senador Luiz Otávio para – e digo como médico – que possamos fazer a profilaxia. Que um holocausto não ocorra neste País, com o descaminho a que estava nos levando o poder de comunicação, revivendo o que Goebbels implantou.
O SR. MARCELO CRIVELLA (PRB – RJ) – Sr. Presidente, V. Exª me permite apenas concluir? É um assunto tão importante. Quero dar como lido meu discurso. Faltavam apenas alguns parágrafos.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. MARCELO CRIVELLA (PRB – RJ) – Sr. Presidente, Senador Romeu Tuma, lá no meu Estado do Rio de Janeiro existe uma cidade chamada Lídice. Essa cidade existe no Rio de Janeiro como existe no mundo inteiro. E sabe por que existe essa cidade Lídice no Rio de Janeiro? Vou explicar para V. Exª. É que na época em que as tropas da Alemanha invadiram a Tchecoslováquia, um partisan assassinou um general alemão do Reich. E Hitler deu ordem de que aquela cidade fosse riscada do mapa. E assim foi feito. Mataram todos os homens, levaram as mulheres e crianças para Berlim, e a cidade foi queimada, incendiada e riscada do mapa. Era a cidade de Lídice, na Tchecoslováquia. As forças democráticas do mundo resolveram criar uma Lídice em cada País livre do hemisfério. A Lídice brasileira está no Rio de Janeiro.
Portanto, somos nós, povo brasileiro, uma mistura de tantas raças…
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. MARCELO CRIVELLA (PRB – RJ) – Vou terminar, Sr. Presidente.
…mas amantes e defensores da democracia e da liberdade humana.
Por isso, estamos aqui hoje, emocionados, e, com o aparte de diversos Senadores, fazendo com que o Dia do Holocausto não seja esquecido nas consciências brasileiras e no mundo inteiro, para que essa página negra da história seja lembrada e evitada, para que a democracia e a paz prevaleçam no mundo.
Sr. Presidente, muito obrigado pela sua generosidade.
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL – SP) – Senador Marcelo Crivella, farei apenas um parêntese, pois, de acordo com o Regimento, não posso dialogar com V. Exª – o nosso assessor já está aqui pronto para chamar a minha atenção –, mas eu gostaria de refletir sobre um ponto. Quando investigamos o caso Mengele, repassamos toda a documentação, a história dos campos de concentração onde ele trabalhou, as experiências médicas que fez com as pessoas, o sofrimento que causou. É algo profundamente terrível. V. Exª, que é um homem religioso, sabe que o céu sumiu e ficou o inferno. E as coisas foram tão terríveis que a documentação encontrada com ele, posteriormente à sua fuga, mostrava que ele começou a raciocinar em termos filosóficos o que representava dentro da religião os fatos ocorridos. Infelizmente, tudo estava escrito em alemão e ficou nos anais do processo concluído na Alemanha. Mas seria importante que alguém tivesse a paciência de buscar aquela documentação, para conhecer o pensamento dele posterior à maldade praticada como médico, que fez uma experiência para os futuros profissionais da Medicina. V. Exª traz um tema importante para reavivar na nossa memória a necessidade de encontrarmos homens de bem para dirigir as nações.
O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR – RJ) – Muito obrigado, Sr. Presidente.
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