O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs Senadores, senhores telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado, mais uma vez, volto à tribuna desta Casa para tecer comentários acerca de um problema sério que acontece no nosso Brasil contemporâneo.
O Brasil tem muitos problemas. O Brasil tem problemas de saneamento, de infra-estrutura; o Brasil tem problemas com a miséria, com a opulência, uma diante da outra; o Brasil tem problemas com a corrupção, com a educação, com a saúde, com a marginalização sem precedentes na nossa sociedade. Mas não podemos dizer que nenhum desses seja o problema do Brasil ou o problema do qual decorrem as principais mazelas que atormentam o cotidiano dos brasileiros – racismo, discriminação, pobreza, miséria, corrupção etc. Se pudermos aqui dizer, o problema do Brasil, sem sombra de dúvida, é a desigualdade social.
Hoje, temos três brasis – gostaria que os meus amigos da TV Senado pensassem e discutissem sobre isso nas escolas, nas universidades. No primeiro Brasil, apenas sete mil brasileiros são detentores de 80% da dívida pública. Não há precedente na História! Não há exemplo comparativo no mundo ocidental e no oriental. Como podem, numa sociedade como a nossa, sete mil brasileiros deter 80% dos títulos da dívida pública, algo em torno de R$800 bilhões, e receberem por ano R$100 bilhões a título de juros? Como pode a sociedade sobreviver e se desenvolver se é claro que um dos fatores primordiais para o desenvolvimento brasileiro é podermos aproveitar o que existe, matematicamente falando, estatisticamente falando, de gênios numa população de 180 milhões de brasileiros? Há, claro, muitos gênios, há muitos talentos, que estão afogados, esquecidos, massacrados por essa desigualdade, que não lhes dá acesso à educação, aos laboratórios, à universidade, à pesquisa; que não lhes dá acesso, como crianças, a uma pré-escola, a se alimentarem; e, assim, perdemos as condições de desenvolver este País como queríamos.
Mas, Sr. Presidente, isso não é de agora. Isso vem desde o processo de colonização, em que se investiu pesadamente para se manterem sucessivas gerações de escravos, de brancos pobres e mestiços completamente iletrados, sem acesso à cultura, sem direito à saúde, à propriedade da terra.
Imaginem, temos 850 milhões de hectares, sendo que, hoje, 130 milhões deles estão nas mãos de apenas 30 mil brasileiros! E quem são, Senador, esses sete mil brasileiros que detêm 80% da dívida púbica e que, provavelmente, fazem parte dos 10.522 brasileiros que, segundo a Receita Federal, possuem US$ 82 bilhões depositados em bancos no estrangeiro? Ora, essas sete mil famílias, grupos econômicos, são fáceis de serem achados: são os donos da mídia, responsáveis pela desarticulação do nosso povo, por manter as massas sob um regime opiáceo de culto ao individualismo, ao sexo, às aberrações, às aventuras, aos filmes que não terminam, às tantas festas, ao esporte. São os donos da mídia. Também há os donos dos grandes grupos monopolizadores do Brasil: alumínio, borracha, papel…
O Sr. Magno Malta (Bloco/PL – ES) – Concede-me V. Exª um aparte, Senador?
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Concedo sim, Senador. Só um minuto para eu concluir.
São os latifundiários. Trinta mil brasileiros possuem 130 milhões de hectares. São os donos do sistema financeiro. Donos de muitos bancos. Mas há dois, o Bradesco e o Itaú, que mandam em tudo; os grandes grupos econômicos e os herdeiros da riqueza colonial.
Sete mil brasileiros são donos de 80% da dívida pública e recebem por ano R$100 bilhões de juros! Esse é o problema que precisamos discutir neste País se quisermos mudar a nossa sociedade.
Senador Magno Malta, tem V. Exª o aparte.
O Sr. Magno Malta (Bloco/PL – ES) – Senador Marcelo Crivella, nobre Líder, quero cumprimentá-lo pelo pronunciamento arrojado, coerente, corajoso, que denuncia, mais uma vez, a situação calamitosa, vexatória que vive o Brasil, quando tratamos da questão social brasileira, da qualidade da distribuição de renda. Aliás, vivemos esta semana o grande vexame de só não perdermos para Serra Leoa em distribuição de renda – entre mais de 100 países! É duro para nós, um País rico, aliás o único do mundo que tira três colheitas do chão por ano, e onde a chuva é abundante. Olho para o meu pequeno Estado e vejo as suas jazidas de granito, mármore e petróleo espalhado por este País que Deus nos deu, com uma floresta tremenda, com riquezas no subsolo e na mão de tão pouca gente. Dói o coração saber que o único País do mundo que tira três colheitas do chão por ano ainda tem mais de 50 milhões de pessoas passando fome. V. Exª fala dos juros, dos banqueiros, da riqueza aferida por eles ano a ano. E aqui quero fazer um apelo e gostaria que o Governo Lula disto não perdesse a visão. Não se trata apenas de uma promessa de campanha, mas uma promessa de vida: quando chegasse ao poder, Senador Tião Viana, o Partido dos Trabalhadores, sob o comando de Luiz Inácio Lula da Silva, empreenderia uma grande batalha, a de mexer na distribuição de renda, enfrentar os grandes e poderosos grupos econômicos brasileiros, no sentido de que os nossos irmãos menos favorecidos fossem chamados a sentar à mesa, fazer parte da mesa, a ter o talher na mão, participar da distribuição de renda neste País. Agradeço, Senador Crivella, pela concessão do aparte e parabenizo V. Exª pela coragem da denúncia.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Muito obrigado, Senador Magno Malta.
Para concluir, Sr. Presidente, penso que nós todos, quanto ao aspecto da desigualdade social, queremos mandar esta mensagem ao Presidente: “Presidente Lula, Vossa Excelência é um homem do povo, eleito para o povo, e o povo espera que Vossa Excelência comece a governar para o povo. Até agora, Presidente, Vossa Excelência governa embalado no sonho de que é possível mudar o Brasil sem tocar nos reais interesses das classes, e não vamos conseguir nada. Nas suas mãos, o futuro de 50 milhões de brasileiros”.
Muito obrigado.