Em uma cidade do interior dos Estados Unidos o serviço de meteorologia anunciou chuvas fortes, com possíveis enchentes nas partes mais baixas da cidade. A partir daí, a Defesa Civil, os meios de comunicação e entidades beneficentes organizaram um plano de fuga para a população em risco.
Um senhor religioso se negou a abandonar a casa. Para todos que tentavam demovê-lo repetia a mesma coisa: “Deus é grande!”
No dia previsto, a chuva começou de madrugada. Um temporal. A Defesa Civil, com sirene ligada, insistiu que ele viesse, mas foi em vão. A essa altura, a água chegava aos degraus da porta. A fé do religioso a tudo ignorava. Por volta da hora do almoço, a água lhe atingia a cintura. Um bote do Corpo de Bombeiros tentou resgatá-lo, mas ele não aceitou.
À noite, um helicóptero lançou uma escada de corda quando ele estava empoleirado no telhado. Ainda assim, recusou o socorro.
Horas mais tarde, o pobre homem morria afogado.
Ao chegar ao céu, injuriado, reclamou: “Meu Deus eu tive tanta fé, e o Senhor não respondeu a minha oração!”
“Respondi, sim!”, disse-lhe Deus. “Quando você pediu que o salvasse, enviei a defesa civil. Você não concordou. Mais tarde, os bombeiros. Você não aceitou. Até mandei um helicóptero. Mas, ainda sim, você não quis.”
As pesquisas de intenção de voto para as eleições de 2006, publicadas esta semana, as incansáveis súplicas do Vice-Presidente e a medíocre performance da economia constituem iguais apelos para Lula. O Governo caminha firme no sentido de afogar a Nação na crise juntamente com suas chances de reeleição.
E por que o presidente Lula faz isso? Porque possui uma fé inabalável no “Deus Palocci”, que, segundo ele, vai nos livrar da tempestade ou mesmo fazer parar de chover.
A queda do rendimento do trabalho e da produção industrial neste período do ano, segundo semestre, em que sempre cresce até por razões gravitacionais, o aumento astronômico da dívida pública, a crise social — a maior da nossa história recente –, a concentração de poder e renda, raiz de todos os crimes contra os direitos humanos que afligem o quotidiano dos brasileiros, sobretudo os mais humildes, e essa máquina de transferência de renda de pobre para rico, que são as taxas de juros altíssimas, que tiram a cada ano bilhões dos cofres públicos e entrega aos rentistas do sistema financeiro, sem gerar um emprego sequer, é a enchente chegando, molhando o pé, subindo pela canela, passando da cintura e afogando nossas esperanças.
Na noite de Natal, quando o Presidente Lula reclamar com Deus sobre a crise, vai ouvir a resposta: “Ouça o Alencar, meu filho!”
Publicado na Folha Universal, 717, de 2006