RIO – O ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), confirmou sua pré-candidatura ao governo no Rio nas eleições de outubro. Em entrevista ao GLOBO, por e-mail, Crivella afirmou “não haver hipótese” de a presidente Dilma Rousseff não estar em seu palanque durante a campanha no estado. O PRB faz parte da base aliada de Dilma. Sobre a briga entre PMDB com o PT, o ministro disparou:
— O problema não é que o PT e o PMDB do Rio não se entendam. O problema é que se detestam.
Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), Crivella descartou abrir mão da disputa para apoiar no primeiro turno o senador Lindbergh Farias (PT), outro pré-candidato. Ao falar sobre o governador Sérgio Cabral, principal articulador da pré-candidatura do vice Luiz Fermando Pezão, ambos do PMDB, à sucessão estadual, Crivella ironizou:
— A rejeição vem de diversos fatores e sucessivas e crescentes denúncias no aspecto moral. Hoje, no Rio, se espera o fim do atual governo com mais ansiedade do que a Copa.
Cabral foi um dos alvos das manifestações que ocorreram em vários estados do país. Desde então, a imagem do governador ficou desgastada, culminando em uma crise política no Palácio Guanabara.
Atualmente, o PRB faz parte dos governos de Cabral e do prefeito Eduardo Paes (PMDB). No município, o partido indicou o atual secretário Especial de Abastecimento e Segurança Alimentar, Wagner Montes, filho do deputado estadual homônimo, filiado ao PSD. Em sua resposta enviada ao GLOBO, Crivella ignorou a nomeação de Montes:
— Na Prefeitura, o PRB desenvolve o Cimento Social com excelentes resultados. Não vejo porquê interromper um programa que tantos benefícios traz à população. No Governo do Estado, nunca tivemos participação programática. Talvez os deputados tenham indicado um ou outro nome para compor o segundo ou terceiro escalão, que é próprio da política de aliança do governo na Assembleia.
Para um possível segundo turno, Crivella acredita na união de uma “frente de esquerda”:
— Vejo chances de uma frente de esquerda no Rio. Formamos consciência e convicções em lutas em comum e, embora o fim de um ciclo hegemônico (como assistimos no Rio) cause fragmentação, creio que mais à frente há chances de estarmos juntos, se não no primeiro turno com certeza no segundo.
O ministro avisou que só deixará o cargo no governo federal no último dia permitido pela lei eleitoral (fim de março). O questionário foi enviado para Crivella na última sexta-feira. As respostas só foram repassadas ao GLOBO na tarde desta terça-feira, sem possibilidade de réplica do repórter.
Leia a entrevista na íntegra:
Por que o senhor quer ser candidato ao governo do Rio?
Hoje, o Rio são 16 milhões clamando por saúde, segurança, mobilidade urbana e educação. Quero enfrentar, prioritariamente, esses problemas. Me preparei política e tecnicamente e sei que tenho condições de cumprir a missão.
Qual será a prioridade do senhor à frente do governo do Rio? Por quê?
Os enfermos, as crianças e jovens em situação de risco, os idosos, o povo trabalhador. São prioridades, obviamente, porque são os que mais precisam.
Há alguma possibilidade de o senhor desistir da sua pré-candidatura ao governo do estado para apoiar um outro pré-candidato a pedido da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, como o senador Lindbergh Farias (PT)? Por quê?
Não. A presidenta Dilma incentivou a minha candidatura e assegurou que não há hipótese de estar fora do nosso palanque. Portanto, sei que o presidente Lula também apoia.
Há chances reais de o senhor fazer aliança com Lindbergh ainda no primeiro turno? Por quê?
Nenhuma. Somos candidatos que se respeitam e reconhecem que ambos possuem o direito de expor suas ideias para resolver os problemas do Rio. É bom para todos que sejamos candidatos ao governo.
E com outros pré-candidatos? Há chance de aliança no primeiro turno? Quais pré-candidatos? Porquê?
Vejo chances de uma frente de esquerda no Rio. Formamos consciência e convicções em lutas em comum e, embora o fim de um ciclo hegemônico (como assistimos no Rio), cause fragmentação, creio que mais à frente há chances de estarmos juntos, se não no primeiro turno com certeza no segundo.
O PRB, seu partido, tem cargos nas administrações do prefeito Eduardo Paes e do governador Sérgio Cabral, ambos do PMDB. O PRB não deixará os dois governos? Por quê? Quando vai deixar?
Na Prefeitura, o PRB desenvolve o Cimento Social com excelentes resultados. Não vejo porquê interromper um programa que tantos benefícios traz à população. No Governo do Estado, nunca tivemos participação programática. Talvez os deputados tenham indicado um ou outro nome para compor o segundo ou terceiro escalão, que é próprio da política de aliança do governo na Assembleia.
Por enquanto, quais são os partidos que apoiarão uma possível pré-candidatura do senhor? Quais os partidos que já fecharam aliança com o PRB? Por quê?
Primeiro, me permita corrigir, não é “possível pré-candidatura” é pré-candidatura para valer. Estamos em tratativas com vários partidos com quem temos afinidade política. Mas quem são, a essa altura do calendário eleitoral, lembrando o fado….”nem às paredes confesso”.
Quais foram os partidos que o senhor conversou sobre alianças? Houve acordo com quais deles? Por quê?
Respondida no item anterior.
Qual será o dia exato em que o senhor deixará o ministério da Pesca caso venha realmente a concorrer nas eleições? Por quê?
Tenho importantes ações a concluir no Ministério da Pesca e Aquicultura. Espero ficar até o último dia permitido em lei. Não tenho pressa e acho que devemos fazer campanha na época da campanha. Leio com pesar nos jornais que outros candidatos estão com dezenas de ações na Justiça Eleitoral por campanha antecipada. Isso é desleal e, com certeza, conta com a repugnância do judiciário e do povo fluminense.
Qual é a sua avaliação do governo Sérgio Cabral? Por quê?
Cabral foi um senador de oposição dura ao governo Lula, que, no segundo turno da eleição para governador do Rio, contra Denise Frossard (em 2010), pediu meu apoio. Condicionei a uma aliança com o governo federal. Ele aceitou e foi bom para o estado. Com Minas e São Paulo governados pelo PSDB, eu sabia que o Rio receberia investimentos por conta dessa parceria e, efetivamente, fizemos inúmeras obras importantes. Isso é um legado. A rejeição vem de diversos fatores e sucessivas e crescentes denúncias no aspecto moral. Hoje, no Rio, se espera o fim do atual governo com mais ansiedade do que a Copa.
Qual é a sua avaliação da administração do prefeito Eduardo Paes? Por quê?
Acho que Eduardo faz um governo positivo porque priorizou revitalizar a Zona Oeste e o Subúrbio, áreas antes esquecidas.
Como o senhor avalia a pré-candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão, que aparece com apenas 5% nas pesquisas?
Ele sofre o desgaste do governo e a resposta, exceto no setor de obras, não ajuda. Por exemplo, o fato do Rio não ter uma escola sequer entre as 500 primeiras do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) é muito ruim. Mas, sobretudo, o longo período do PMDB no comando do Rio (são décadas), tende a criar um consórcio de interesses. Aí o povo troca por dever cívico, para fazer a higiene moral do setor público, que se contamina inevitavelmente na perpetuação do poder.
O senhor acha que Pezão deveria mesmo ser candidato ao governo do Rio? Por quê?
É uma decisão dele que devemos respeitar.
Como o senhor vê essa briga entre PT e PMDB no Rio?
O problema não é que o PT e o PMDB do Rio não se entendam. O problema é que se detestam.
Na sua opinião, o que deveria ser feito para acalmar essa relação turbulenta entre os dois partidos (PT e PMDB)? Por quê?
Não cabe a mim propor, mas espero estarmos todos juntos no plano federal apoiando a presidenta Dilma, que tanto fez pelo Brasil e pelo Rio. Acho que seu governo reafirma de maneira majestosa as virtudes morais, a capacidade de trabalho e as resistências de caráter da mulher brasileira.
Qual é a sua opinião sobre a pré-candidatura do deputado federal Anthony Garotinho (PR), ex-governador? Por quê?
É legítima e respeito, embora deva reconhecer que o respeito não é recíproco.
O senhor tem grande votação entre os evangélicos. Se for confirmada a sua candidatura, qual será a estratégia do senhor para atrair eleitores católicos e de outras religiões? Por quê?
As propostas que tenho para o Rio, sobretudo, no desenvolvimento social. E isso respaldado na minha trajetória, em tudo que fiz na vida pública nos 10 anos como senador e quase dois como ministro. No Congresso, por exemplo, aprovei diversas leis e destaco a PEC, que agora, em fevereiro, dará possibilidade a dezenas de milhares de profissionais da área de saúde das Forças Armadas, Polícias e Bombeiros de trabalhar nos hospitais da rede pública. Ao todo, mais de 20 mil profissionais se contarmos os da reserva. Tenho projetos na área de habitação, educação, infraestrutura, energia, e consegui trazer como senador mais de R$ 140 milhões para o Rio. A Veja me apontou como o 5º e a Transparência Brasil como 3º melhor parlamentar em projetos de impacto para o Brasil. Na pesca, lançamos o Plano Safra, com R$ 4 bilhões de recursos para financiar a produção; tiramos o imposto do pescado que passou a compor a cesta básica; e simplificamos o licenciamento ambiental com a resolução 497 do Conama. Isso quase dobrou a produção. Mas, acima de tudo, o povo do Rio não tem do que se envergonhar de mim. Sou ficha limpa. Estou, portanto, à altura de servir, no governo, minha gente sofrida e valente na sua imensa maioria humilde, modesta, trabalhadora e ordeira.
Em maio do ano passado, O GLOBO publicou uma série de reportagens afirmando que, depois que o senhor assumiu o Ministério da Pesca, dirigentes de entidades sindicais de pescadores passaram a integrar o PRB para serem beneficiados de várias formas. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
O mesmo que a independente e altiva Comissão de Ética da Presidência da República disse ao concluir as investigações: não procede.
Fonte: Globo