De tudo que ouvi em defesa do aborto a suposiçāo de que a maioria dos homens brasileiros já engravidou a “namoradinha” e que isso basta para legitimá-lo, é de longe o mais desqualificado argumento, e será duro superá-lo, e, se um dia o for, arrisco dizer, será por focinho de vantagem, porque estou convencido que atingimos o vértice da sandice.

É justo indagar, como se pode assumir que uma questāo que toma com ardor o cenário político e quase redefine o destino da recente eleiçāo presidencial, possa ser elucidada com o mero argumento da necessidade de se descartar uma vida concebida na paternidade irresponsável. Aliás, descarta-se o feto e a māe, já que a conotaçāo popular de “namoradinha” é da aventura sem intençāo mais séria.

Namoradinha…a que situaçāo humilhante se reduz a alma feminina em plena era Dilma sobre a qual repousa a sagrada missāo de sintetizar na sua personalidade as resistências morais e de caráter da mulher brasileira.

É bem verdade que vivemos um tempo de acentuada expansāo das paixōes, contingencia inevitável no processo de nossa evoluçāo social. Tempo de uma violência anômica, do aumento exponencial do consumo de álcool e drogas, da gravidez na adolescência, do desprestígio do matrimônio, do afastamento de Deus, num Rio de Janeiro de 400 mil crimes registrados por ano. Mas a nós políticos nāo cabe se conformar com o que somos, mas ousar sonhar o que nāo somos, mas queremos ser.

A nós cabe mostrar que somos capazes de guardar fidelidade aos valores morais de nossos pais e as virtudes autênticas de nossa tradição de nobreza e dignidade cristā, e nāo nos tornar um povo que perde a sua consciência humana e social e se transforma em inexpressivo ajuntamento de pessoas, sem história, sem beleza, sem dignidade e sem bravura, e pior, que passa a ser animado tão somente pelos mesquinhos egoísmos de sua natureza inferior para legislar.

Nesta hora turva da vida nacional, em que se tenta resgatar das mãos criminosas centenas de comunidades carentes, não é lícito a ninguém, com alguma parcela de responsabilidade na vida pública do país, o direito de silenciar-se diante da afronta a vida, a família e aos bons costumes.

​A nossa geração, mais do que qualquer outra, precisa distinguir-se pela coragem e pela firmeza, pela disposição para empreender uma revolução silenciosa e interior para readquir o gosto das coisas simples, o exemplo de liderança pelo idealismo, renúncia e destemor e reencontrar o caminho da virtude da solidariedade e da confiança.

Esta, talvez, seja a derradeira experiência do ideal democrático em nossa terra. Fazer dos nossos quadros políticos exemplos que inspirem nossos jovens, tragam orgulho e alento aos idosos e nāo envergonhe nossos irmāos.

​Se, por displicência, indiferentismo ou incompreensão, deixarmos escapar essa oportunidade que chega na brisa de esperança do episódio recente de enfrentamento às milícias e ao tráfico, para assentarmos em bases sólidas, no nosso Estado, uma democracia inspirada nos princípios eternos e insubstituíveis da dignidade da pessoa humana que, obviamente, nāo se harmoniza com o sexo banal, teremos cometido um crime de lesa-pátria, e, cedo ou tarde, teremos um melancólico retrocesso com um povo espoliado nas suas esperanças, ludibriado na sua confiança e traído nos seus ideais.

​Fui recrutado nas classes populares da cristandade e trago no meu coração e na minha consciência de brasileiro as ressonâncias dos sentimentos e das aspirações que dominam a nossa gente. A crise da violência contemporânea só poderá ser enfrentada e vencida com uma revisão de valores, numa reforma de costumes, no respeito aos nossos princípios sagrados.

Nāo sou hipocrita para imaginar ser melhor que qualquer outro. Não sou. Vejo mérito num rasgo de sinceridade mas daí deve se seguir o arrependimento e não uma politica pública para legitimar o erro, o engano e a fraqueza moral.

Senador MARCELO CRIVELLA ( PRB-RJ)