Esta semana, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, o embaixador Rubens Ricúpero e o sociólogo Hélio Jaguaribe discutiram conosco, senadores membros da comissão, as razões pelas quais o Brasil, campeão de crescimento econômico entre os anos 20 e 70 do século passado, se arrasta nas últimas décadas, apresentando taxas de crescimento muito aquém de sua potencialidade.

Na opinião de Jaguaribe, a política econômica adotada pelo País, voltada quase que exclusivamente para o controle da inflação, defende parâmetros macroeconômicos, de países desenvolvidos, que não seriam propriamente os mais adequados à realidade brasileira. Deu como exemplo a meta de inflação fixada pelo governo, na sua opinião muito baixa, e a exagerada taxa de juros que se impõe sobre a economia para a consecução dessa meta. Rubens Ricúpero acrescentou a necessidade de uma mentalidade nacional de desenvolvimento, como a existente nos chamados Tigres Asiáticos, onde a sociedade incorpora o conceito de desenvolvimento como um constante aprender, reciclar, experimentar e obter soluções.

Outra observação importante desses ilustres estudiosos da economia brasileira é que ambos concordam que o País aguarda uma liderança política que possa conduzi-lo a dias melhores. Nesse aspecto, convém observar que a estrutura social brasileira, nos moldes como funciona, está criada exatamente para obstruir tal objetivo, já que predomina, pela desigualdade social imensa, forças conservadoras mantenedoras do establishment.

É claro que o grande capital financeiro, nacional e internacional, e parte do capital industrial, são ligados aos grandes grupos de comunicação de massa, numa relação circular de causa e efeito, onde um financia e o outro defende seus interesses. Nunca se viu na imprensa brasileira tamanho volume de mistificação e exploração descarada de jornalismo barato para manipulação da opinião pública.

Caso mais recente foi o depósito, realizado pelo PT, de 1 milhão de reais na conta da Coteminas, como pagamento atrasado de compra de camisetas. Ora, nos últimos tempos, uma liderança política despontava diante da opinião pública, por sua luta por mudanças na política econômica, hoje defendidas por todos. Então, alguém no governo recebe, de maneira privilegiada e antecipada, a informação do tal depósito, obtida no Siafe. Aí se combina com um jornal de grande circulação a manchete de capa. No dia seguinte, outro jornal importante repercute. Bastam dois. Forma-se assim um pseudo-clamor público. Em seguida, se divulga que a Polícia Federal vai pedir quebra de sigilo, que a CPI tal vai convocar, investigar, isso e aquilo.

Assim, a estrutura de poder se encarrega de confundir a opinião pública e denegrir a liderança política. Domingo passado, a manchete da “Folha de São Paulo” dizia: “PT fez depósito suspeito para firma de vice”. Dia seguinte, era a vez de “o globo” (as minúsculas são opção do autor): “CPI investiga conta de empresa do vice de Lula – Coteminas é suspeita de receber R$ 1 milhão de caixa dois do PT”. E as manchetes se seguem, sempre na “Folha” e no “o globo”…

É de se supor que, por trás dessas manchetes, existe a defesa intransigente de interesse de grupos que se sentem prejudicados caso uma nova liderança política traga perigo aos ganhos imorais obtidos com uma taxa de juros nos córneos da lua neste cassino financeiro, que é o Brasil.