Paulo de Tarso Lyra, de Brasília. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai apoiar o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) em sua campanha de reeleição ao senado. Lula avisou sua decisão ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB), antes do Carnaval e complicou ainda mais a montagem do palanque estadual para a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. Cabral já havia concordado em ceder uma das vagas do senado em sua chapa ao candidato do PT, mas quer lançar o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, como candidato do PMDB. No PT, a disputa entre a secretária estadual de Assistência Social, Benedita da Silva, e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, deve repetir a eleição apertada que definiu o novo presidente do diretório fluminense – Luiz Sérgio, apoiado por Benedita. Lula conseguiu convencer Lindberg a abrir mão de disputar o governo, o que facilita a reeleição de Cabral. Mas o gesto posterior – declarar o apoio a Crivella – complicou novamente o cenário.
“O Crivella foi leal comigo, já apanhou muito por minha causa e eu devo muito a ele”, disse Lula a Cabral. Também pesou a proximidade de Crivella com o vice-presidente José Alencar, a quem Lula não pretende contrariar. Para um estrategista político do Planalto, a eleição para o senado fluminense passou a ser uma das mais difíceis do país após a decisão de Lula. Apesar de toda a máquina estadual, há dúvidas se Cabral terá a mesma facilidade de eleger Picciani se Lula, por exemplo, gravar uma mensagem de apoio a Crivella.
Como a outra mensagem a ser gravada por Lula deve ser para o petista, Picciani poderia ficar sem mensagem de apoio em um dos principais Estados aliados do governo. Cabral, por outro lado, tem dificuldades políticas de abrir mão de Picciani para apoiar Crivella. Mas o simples apoio de Lula ao senador do PRB não significa, na visão de adversários de Crivella, garantia de êxito. Até o momento, a coligação do PRB é limitada, o que garante a Crivella aproximadamente 30 segundos no horário eleitoral. “Se Lula gravar uma mensagem de apoio a Crivella, ele ficará sem tempo de apresentar suas propostas. Se for lançar sua plataforma ao senado, não terá como mostrar Lula”, disse um dos postulantes ao senado pelo Rio. Crivella pode aproximar-se do ex-governador do Rio Anthony Garotinho, que vai tentar eleger-se para o Palácio das Laranjeiras pelo PR. Garotinho já deixou claro que quer apoiar Dilma mas não dividirá palanque com Cabral. Políticos fluminenses afirmaram ao Valor que um dos artífices da aproximação entre Garotinho e Crivella seria o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“Mas não acho que ele exercerá esta função abertamente, pois no plano nacional Cunha é um dos principais operadores do PMDB na aliança com Dilma”, afirmou um observador. No PT, apesar do apoio de Lula, a situação também não é pacífica. Aliados de Lindberg Farias, asseguram que ele conta com mais de 260 dos 400 delegados petistas, além de ter mais “mais densidade eleitoral” que a ex-senadora Benedita da Silva. “Eu nunca disse que queria disputar outro cargo, sempre me apresentei como candidata ao senado”, disse Benedita ao Valor, uma provocação a Lindberg, que planejava disputar o governo estadual.
Data: 25/02/2010 Fonte: Valor Econômico