Deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e a luz do céu profundo…

Isso só é bonito na música. Na vida prática, no dia-a-dia, quem agir como a poesia vai morrer de fome. A economia globalizada demanda pesquisa, competência, trabalho árduo e astúcia, que só se adquire no combate constante pelos mercados. E nós temos tudo pra isso.

Ora, não dá pra explicar a miséria no Brasil por falta de recursos, porque os temos em abundância. Tampouco dá para alegar que o problema está no excesso de população, porque a nossa é adequada e cresce a taxas modestas. Há quem queira defender que as nossas mazelas decorrem da falta de infra-estrutura industrial. Não cola, porque o nosso parque é um dos mais modernos do mundo.
Então por que, dos 10,9 milhões de habitantes da cidade de São Paulo, 4,4 milhões estão inadimplentes, como revelou essa semana a Associação Comercial?

Essa coisa de C-bond, Risco-Brasil, agências internacionais, termômetro das bolsas, etc, para muitos financistas e economistas deslumbrados do Brasil, são mais importantes para se avaliar e propor uma política econômica para o País do que os fatores concretos do mundo econômico, como matérias-primas, energia e tecnologia. Sobre essas variáveis fictícias, monta-se uma estrutura de lógica em bases falsas, que é imposta a todos por um exército de tecnocratas, jornalistas e operadores de mercado, que fazem valer essas idéias falaciosas a despeito das leis da natureza e do mundo concreto, e desvalorizam o potencial de riqueza de países e povos.

É por isso que temos uma política econômica cuja estratégia não é o desenvolvimento do nosso País com geração máxima de emprego mas, desgraçadamente, atrair o capital estrangeiro, “o branco puro”, com taxas de juros que transformam nosso País no cassino da agiotagem internacional. Este é o espírito colonizado que domina as mentes da atual classe dirigente brasileira, servil e traidora.

O Brasil não cresce, arrasta-se. É o pior desempenho entre os países emergentes, e um dos piores da América Latina. Nossa renda per capita está virtualmente estagnada. Depois do vôo de galinha de 2004, vamos ter um crescimento talvez menor que 3% neste ano.

A isso o presidente Lula, certamente um homem bem intencionado mas muito mal assessorado, chama de “volta do crescimento sustentável”. É uma ilusão. Com esse crescimento, numa média inferior a 3% em seu tempo de governo até aqui, não chegaremos a lugar algum.

É por essas, e por outras, que a inadimplência cresce, o desemprego aumenta e a esperança, no ano novo que se inicia, nos soa amarga e minguada como os estômagos vazios dos brasileiros abandonados.

Levanta, Brasil! Levanta ou sucumbiremos todos.

Publicado na Folha Universal, Edição 719, de 2006