O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srª Arlete, que nos abençoa com sua presença, Srª Teresa Helena Magalhães, Sr. Senador Antonio Carlos Magalhães Júnior, Sr. Deputado Antonio Carlos Magalhães Neto, eu gostaria de saudar a todos que até este momento prestam essa vigília cívica, um exemplo ao País e aos telespectadores que nos assistem de que ainda há sentimento e honra no Parlamento brasileiro.
Neste instante em que o Senado presta, reverente, o tributo da sua dor, eu não poderia deixar de, em meu nome próprio e em nome do meu Partido, falar algumas palavras, não sobre o homem, não sobre a vida social ou espiritual, mas sobre o estadista que aprendi a respeitar e a admirar na tribuna desta Casa.
Lembro que, assim que assumi meu mandato, chegando ao Senado Federal como um caminhante que chega à porta de um templo, deparei-me por assumir a vaga, como suplente, de Magno Malta – o titular que se afastou – numa Comissão de Ética que julgava Antonio Carlos Magalhães. Senti-me tão pequeno diante do vulto, do político, das tradições, do nome maior da Bahia. Foram grandes, tremendas, as contumazes contumélias, as injúrias, como em todas as campanhas que os adversários impuseram a esse grande brasileiro. Mas lembro que, depois de consultar o coração, a alma, Deus e minha própria consciência, dei o voto da inocência. Naquele dia recebi mais de 300 e-mails – me assustei! –, todos me recriminando.
No momento em que vi a multidão que se apinhava em cortejo para carpir a derradeira dor pela perda do Líder, pensei que, ao prestar este depoimento do grande tribuno que vi e que ouvi aqui no Senado Federal, não receberia sequer um e-mail, porque tenho certeza de que hoje, na Bahia, adversários e aliados, em cada lar há um voto de pesar, em cada coração, uma lágrima e em cada olhar, uma tristeza. Há uma perda sentida na vida política brasileira. De Irecê, e por todos os Municípios por onde andei, no interior da Bahia, um por um, vi obras desse grande baiano. Não havia um só lugar, por mais distante, seja Xique-Xique ou um Município menor ainda, que não tivesse a presença, o espírito e o esforço de um político que teceu sua vida no estudo, no trabalho, na dignidade, no amor inflexível à Bahia e ao seu povo.
Como homem da Bíblia, como homem da fé, nós cristãos procuramos tecer valores sobre aquilo que julgamos ser o mais identificável em palavras, em olhares, em gestos, em atitudes. Mas Cristo disse que Deus vem em secreto e que não há força maior do que o amor. Nunca vi, como sacerdote, alguém chorar com tamanha dor como vi, da África, o pai chorando por seu filho. Impressionou-me tremendamente. E, ainda que separado por um oceano, pude, distante, sentir a dor e chorar também.
A verdade é que nos encontramos uma vez no templo da Igreja Universal do Rio de Janeiro. O Senador foi até lá, e nos reunimos, todos os bispos, para recebê-lo. Achávamos que íamos tratar de política, de apoio político – eu não sonhava ser Senador ou disputar eleição. Nenhuma palavra trocamos em um encontro de mais de duas horas. As únicas perguntas eram: “Vocês que conhecem a Bíblia, meu filho está vivo? Ele pode me ver? Ele fala comigo? Ele pode falar comigo? Quando eu morrer, vou encontrá-lo? E de que maneira vou encontrá-lo?”
Eram perguntas que se sucediam e que mostravam que, às vezes, a gente morre mesmo antes do nosso sepultamento. Santo Antão dizia: “É possível haver cristão antes do cristianismo?” Mas eu acredito que é possível morrer antes do sepultamento. Agora, só um amor tão forte quanto o amor que esse homem tinha por sua terra e por sua gente pôde ressuscitá-lo de maneira incansável, nas Comissões, no plenário, no dia-a-dia deste Senado. Ainda que no primeiro mandato não conseguisse acompanhar o seu ritmo, sempre tinha observações e opiniões sobre cada matéria de que se tratava aqui. Quantas vezes o vi nas sessões de segunda-feira, quando o plenário costuma estar vazio, e falamos para pouca gente.
Sr. Presidente, acho que, se o amor é a maior virtude, e o próprio Deus se define como amor, o amor de Antonio Carlos Magalhães à Bahia e à sua gente o faz eterno.
Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)