O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) visitou nesta sexta-feira (11/6) a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis). Além da oportunidade de esclarecer o vice-presidente da instituição, Paulo Bulhões, sobre projeto de lei de sua autoria que isenta os deficientes auditivos de pagar IPI na compra de carros populares, Crivella conheceu um pouco mais sobre a rotina de vida dos surdos.

Durante a conversa, traduzida para a linguagem de sinais por Jorge Luiz Martins, Crivella afirmou que pedirá audiência ao presidente da Câmara, Michel Temer, a fim de solicitar urgência na votação do projeto, que está tramitando naquela Casa.

A Feneis sobrevive de parcerias para difundir a linguagem de sinais e da taxa cobrada de seus alunos, e não recebe qualquer ajuda governamental. Seu principal objetivo é inserir os surdos no mercado de trabalho, principalmente na área de informática, setor da economia em que melhor se adaptam, por não haver exigência de comunicação verbal. Segundo Bulhões, só na cidade do Rio de janeiro existem hoje cerca de 600 mil surdos.

Uma das funções da Feneis é fornecer intérpretes para surdos em suas atividades cotidianas, acompanhando-s em locais como: bancos, INSS, e audiências no fórum.

– Uma interpretação errada pode significar a condenação injusta de um surdo em um processo judicial – afirmou Bulhões, que trabalha hoje com apenas seis intérpretes na Feneis.

– É muito pouco, precisamos aumentar o quadro – diz.

Bulhões desconstruiu alguns mitos sobre os surdos:

– Muitos pensam que os surdos têm uma escrita perfeita. Não é verdade, a língua portuguesa é uma espécie de segunda língua nossa, a primeira é a linguagem de sinais. As pessoas também imaginam que o surdo consegue entender as palavras pela leitura labial, mas nem sempre é assim – afirmou Bulhões.

Apesar de hoje já existir uma faculdade, em Santa Catarina, que ministra curso de linguagem de sinais à distância, o vice-presidente da Feneis lembrou que é preciso ter um mínimo de conhecimento do mecanismo para aprender esse tipo de comunicação.

Entre as curiosidades levantadas por Crivella, soube-se, por intermédio de Bulhões, que, apesar de não ser regra, o surdo prefere casar com uma companheira igualmente surda, para facilitar a comunicação e a convivência. O próprio Bulhões é casado com uma surda e tem três filhos, todos ouvintes – como se chamam as pessoas que ouvem normalmente.

Segundo Bulhões, o surdo não tem qualquer dificuldade para dirigir um automóvel, necessitando apenas fazer pequenas adaptações no carro:

– O único problema é que o surdo não consegue ouvir o apito dos guardas. Mas isso nós conseguimos superar – disse Bulhões.

Bulhões lamentou que as TVs brasileiras não recrutem surdos para atuar em suas novelas, preferindo sempre que um ouvinte faça as vezes de um deficiente auditivo:

– É uma pena, já que existem ótimos artistas surdos. Mas eles não têm oportunidades. O mesmo vale para cegos e cadeirantes – afirmou Bulhões.

Crivella mostrou-se interessado em conhecer mais sobre a cultura dos surdos, e deixou um recado:

– Estou à disposição de vocês para o que for preciso. Se precisarem de qualquer coisa, basta ligar pro meu gabinete, em Brasília.