O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mais uma vez, venho à tribuna do Senado e vejo aqui o Senador Saturnino Braga, meu companheiro de luta no Estado do Rio de Janeiro, insistir, clamar e pedir, pela saúde do meu Estado. 
É interessante o que acontece no Brasil! Quando abrimos o Orçamento nacional – quero saudar também os telespectadores da TV Senado e os ouvintes da Rádio Senado –, verificamos que a principal rubrica do nosso Orçamento é a despesa com o INSS, com os nossos aposentados e pensionistas do setor privado e do setor público, que ultrapassa 110 bilhões. Em seguida, o senhor acha que são as estradas, a agricultura, a habitação ou a saúde? Não, o pagamento da dívida pública, o pagamento dos juros, que estavam, no ano retrasado, em 140 bilhões; no ano passado, subiu para 150 bilhões, e a dívida de 800 bilhões foi para 1 trilhão. Cresce a dívida. E o que acontece com a saúde? Vai para o caos. 
Culpam os administradores, e uma das formas mais primitivas de defesa é jogar a culpa um no outro. Aliás, na Bíblia já vemos isso: quando Deus desceu ao paraíso, e Adão e Eva haviam comido do fruto, Deus disse a Adão: “que fizestes?” E ele disse: “A mulher que tu me destes me levou a comer da árvore”. Em última análise, a culpa era da mulher e, mais ainda, do próprio Deus. 
A verdade é que há uma briga entre o Governo Federal e o Governo Municipal. O Governo Federal não investe na saúde porque tem de pagar juros da dívida pública. O Governo Municipal, do nosso Prefeito César Maia, não investe na saúde porque guarda dinheiro para receber juros. Está no jornal: trinta milhões estavam investidos no over
E o povo? E as pessoas na fila do hospital? E as crianças que não têm nada a ver com os juros ou com a agiotagem do mercado financeiro? Desesperam-se, clamam aos céus. Mas clamam também aos homens de boa vontade, como ao Senador Antonio Carlos, ao Senador Roberto Saturnino, à Senadora Serys, ao Senador Cristovam e a tantos outros que ficam, da tribuna, clamando, como João Batista no deserto, pedindo bom senso, pedindo ao Brasil que dê prioridade ao social. 
O pior de tudo é que o Secretário do Tesouro, Joaquim Levy, anunciou que quer diminuir a dívida pública de 50% para 40% em relação ao PIB. Os Senadores não estão muito familiarizados com a economia. As pessoas também não, mas estão familiarizadas com a violência, com os assaltos, porque todo mundo, no Brasil, já foi assaltado. 
Farei uma comparação: para reduzirmos a dívida do PIB dos atuais 51% para 40%, vamos cometer um assalto contra as família brasileiras, ricas e pobres, de US$200 bilhões – mas, para o Secretário do Tesouro, esse deve ser o principal objetivo do País. Saúde, educação, estradas, desenvolvimento do Nordeste, irrigação, construção de habitações para tantas comunidades carentes… 
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Siqueira Campos. PSDB – TO) – Senador Marcelo Crivella, a Presidência interrompe V. Exª para prorrogar a sessão pelo tempo necessário para que V. Exª possa concluir seu pronunciamento. 
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Sr. Presidente, sou eternamente grato a V. Exª. 
A Srª Serys Slhessarenko (Bloco/PT – MT) – Permite-me V. Exª um breve aparte? 
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Pois não, Senadora, se for possível, pelo tempo que tenho. 
A Srª Serys Slhessarenko (Bloco/PT – MT) – Serei bastante breve, peço apenas um minuto. Não posso deixar de comentar essa passagem da árvore do pecado, quando Adão disse que a mulher o levou a pecar. Existe o outro lado da história, Senador, que, principalmente no mês de março, não posso deixar de mostrar. Tratava-se da árvore do conhecimento e da consciência. A mulher chamou o homem para que absorvesse o conhecimento, a fim de que tivesse consciência, e ele aceitou. Então, a mulher não levou o homem ao pecado, mas o chamou para a consciência. A história tem os seus dois lados. Muito obrigada. 
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – É a primeira vez que ouço isso. (Risos.) 
Querem votar, agora, para que as crianças tenham pré-escola e, quiçá, creche. Como, se a principal rubrica do Orçamento são 111% de pagamento de juros? Não há como. 
Quero terminar com uma história, já que a Senadora Serys falou sobre a mulher. 
Senadora Serys, sobre Adão e Eva há uma história muito curiosa: certo dia, Adão voltou do campo, da caça, viu Eva no paraíso, mas não lhe deu a atenção de sempre. Deitou-se sobre a relva e adormeceu. A mulher, que estava acostumada a todos os paparicos, sendo a única no mundo, a rainha do paraíso, ficou extremamente preocupada e, a partir desse momento, começou a contar em voz alta: “um, dois, três, quatro…” 
V. Exª sabe o que a nossa mãe Eva estava contando? Não tem idéia? (Pausa.) 
Como ela não havia recebido a atenção costumeira quando Adão chegou no paraíso, não a procurando e indo dormir, Eva passou a contar as suas costelas, pois ficou enciumada, acreditando que Deus tivesse feito outra mulher. 
Muito obrigado, Sr. Presidente.