Ao participar da segunda parte da audiência pública para debater o Programa Nuclear Brasileiro e a segurança das usinas, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) defendeu mais estudos sobre os quatro reatores nucleares que o governo brasileiro pretende construir. Ele e o colega Lindberg Farias, do PT, argumentaram que a energia nuclear é responsável por apenas 2% da energia consumida no Brasil – no mundo, chega a 17%, e em países como a França, a 80% -, e o Brasil tem uma matriz energética muito diversificada.

Em outro momento da reunião, os professores Luiz Pinguelli Rosa e Aquilino Senra Martinez, diretor e vice-diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirmaram que o plano de evacuação da população, no caso de um acidente nas usinas nucleares brasileiras em Angra dos Reis, deve ser melhor formulado.

Os dois professores também salientaram a necessidade de um local seguro para o depósito de rejeitos radioativos, de baixa, média e alta atividade. Um terceiro ponto abordado foi a necessidade de se manter geradores de energia para resfriamento da usina em local seguro, para evitar problemas como o que acontece agora na usina de Fukushima, no Japão.

Luiz Pinguelli Rosa afirmou que o plano de evacuação da população próxima às usinas de Angra chegou a ser secreto no governo militar.

– Era como um edifício cujas saídas de incêndio eram secretas, para não causar nas pessoas medo de um incêndio – ridicularizou.

O professor lembrou que o raio de exclusão inicialmente previsto, em caso de acidente, era de 15 quilômetros, mas posteriormente foi reduzido para cinco. Afirmou, no entanto, que é preciso “contar com um azar maior”. Enfatizou que um plano de evacuação envolve as administrações federal, estadual e municipal.

Já Aquilino Senra Martinez afirmou que os raios de evacuação “certamente vão ser rediscutidos, não só no Brasil, mas mundialmente”. Afirmou que os padrões aceitos, até o acidente de Fukushima, estabeleciam evacuação até cinco quilômetros, com a recomendação de as pessoas se abrigarem dentro de casa até 15 quilômetros. No Japão, houve evacuação de 140 mil pessoas em um raio de até 30 quilômetros da usina.

Para Pinguelli Rosa, a decisão imediata da evacuação pelas autoridades japonesas foi muito importante para evitar danos à população. Ele lembrou, no entanto, que o povo japonês é muito treinado e disciplinado, enquanto o brasileiro, além de indisciplinado, não tem o mesmo nível de treinamento. Disse também que as linhas de evacuação são bastante limitadas.

A audiência pública foi realizada em conjunto pelas Comissões de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT); de Serviços de Infraestrutura (CI); e de de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) do Senado Federal. Os trabalhos foram dirigidos pela presidente da CI, senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), auxiliada pelo presidente da CMA, senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF). Também apresentaram perguntas