O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, também não posso deixar de prestar homenagem a este paraibano, mas que tanto tempo viveu na terra que represento no Senado Federal, o Rio de Janeiro.
A morte de Celso Furtado silenciou a mais categorizada voz em favor do desenvolvimento, do Estado do bem-estar social e da causa do pleno emprego no Brasil e no Terceiro Mundo. Era um economista e teórico notável do desenvolvimento, um intelectual brasileiro de primeira grandeza no cenário mundial, com dezenas de importantes obras publicadas, que lhe renderam a admiração de todos os brasileiros e respeitabilidade mundial. Mas era, também, um homem de coração. O Nordeste brasileiro não era para ele apenas um referencial remoto de origem, mas expressão de uma parte da humanidade que tinha direito ao desenvolvimento e ao bem-estar civilizatório. Desenvolvimento, para Furtado, era resgatar o Nordeste, assim como resgatar o Nordeste, para ele, era resgatar os pobres do Brasil e do Terceiro Mundo.
Furtado, o mais destacado desenvolvimentista brasileiro, mestre de gerações de economistas, nunca deixou de colocar o homem no centro de suas preocupações. Desenvolvimento para ele, nos anos recentes, passou a ser geração de empregos. Não tive com ele a convivência que gostaria de ter tido, mas tive a inspiração dele para escritos e teses que tenho defendido na minha vida. Quando um grupo de economistas o procurou para ser “patrono” do Movimento pelo Pleno Emprego, que tenho a honra de presidir nesta Casa, ele concordou imediatamente. Escreveu de próprio punho uma mensagem que está nos anais do portal Desemprego Zero. Seu amor ao Brasil e sua dedicação ao tema do desenvolvimento não têm paralelo entre nossos grandes pensadores. O Brasil era sua obsessão. Não havia uma conversa com ele que a temática não fosse o País, e a forma de superação de nossa dramática crise social.
O contato indireto que tive com ele foi quando, mais ou menos um mês antes de sua morte, pedi a um assessor para lhe comunicar que, no dia 23 de novembro, no Congresso Nacional, seria lançada a Frente Parlamentar por uma Política de Pleno Emprego, sob minha presidência. Furtado mandou-nos uma pequena carta de estímulo em relação à Frente, que transcrevo a seguir:
Recebi suas mensagens sobre o Manisfesto dos economistas republicanos e sobre a Frente Parlamentar pelo Peno Emprego. São ambas nobres propostas que têm a importância de lançar mais um debate sobre o quadro político e econômico de nosso País.
Minha experiência de vida ensinou-me que as forças conservadoras costumam tirar toda a relevância de iniciativas desse tipo, e mesmo quando as aprovam sabem como neutralizá-las.
Mas como estamos todos conscientes de que a criação de empregos é o mais importante objetivo da ação política no Brasil, creio que essa campanha poderá ensejar uma conscientização mais rápida da urgência do problema. São muitas as frentes de lutas em que a sociedade civil pode agir, mesmo quando os grupos militam em agremiações políticas diferentes.
Quanto a mim, pessoalmente, penso que já dei a minha contribuição a esse debate e que no momento cabe à sua geração assumir a responsabilidade da liderança dessa luta. (…)
Receba o abraço cordial de
Celso Furtado.”
Poucos dias depois viria a falecer. O grande tributo que esta Casa, em nome do povo brasileiro, pode prestar a Celso Furtado é encarnar a sua bandeira pela retomada do desenvolvimento a altas taxas, única forma de superar uma crise social que se manifesta no maior desemprego e subemprego de nossa história, atingindo mais de um quarto da população economicamente ativa. Uma política de promoção do pleno emprego, na forma inspirada por Celso Furtado, é o instrumento incontornável de superar essa crise social, que é também uma crise de identidade de destino a que nos levaram as políticas neoliberais do Governo anterior e, que neste Governo, acabaram em certos setores sendo aprofundadas. Mas tenho certeza de que o Presidente Lula, com o apoio do Congresso Nacional e do povo brasileiro, certamente saberá reverter.
Muito obrigado, Sr. Presidente.