O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senador Jayme Campos, que preside esta sessão solene; Exmos Srs. Senadores e Srªs Senadoras; senhoras e senhores familiares: Deputada Celcita Pinheiro, Giorgio Pinheiro, Giani Pinheiro; Sr. Flávio Meirelles, Presidente da CNA; em especial, quero agradecer à Senadora Kátia Abreu por, gentilmente, ter cedido a seu colega a oportunidade de prestar este elogio fúnebre. Ao Senador Maguito Vilela, saúdo com a saudade que S. Exª deixou em cada um de nós.

Sr. Presidente, no elogio fúnebre de São João Batista, nas palavras inesquecíveis e inimitáveis de Cristo, o evangelista escritor nos narra a cena simples e comovente na qual o Cristo nos fala do profeta que clamava no deserto, que se vestia com pele de camelo, que se alimentava de mel silvestre e gafanhotos e assim nos mostrava claramente que por amor a uma causa, por um ideal, por aquilo que se acredita, um homem vai aos limites da sua existência e entrega a própria vida no altar da devoção.

Sem querer traçar comparações entre a vida dos santos predestinados e a nossa, homens do povo, digo, no entanto, que aquele dom com o qual Deus unge os homens que não vivem para si mesmos, aquele amor obstinado a uma causa, a um ideal, a um princípio pelo qual se vive, luta e morre, de uma maneira misteriosa e esplendorosa, brilhava na alma e continha o ser do deputado, do senador, do servidor do povo, do amigo de todos, Jonas Pinheiro, cuja vida, tecida no estudo, no trabalho, na bondade e na inflexível determinação de defender a causa dos mais humildes, sobretudo do lavrador do seu querido Mato Grosso, foi um marco nesta Casa. 
Até o último momento de sua existência, não se afastou do seu destino iluminado. Ao contrário, foi o político presente, atuante, enérgico, lúcido, moderado e eficiente. Morreu lutando. E o fim de sua trajetória não foi um melancólico crepúsculo. Foi radiante. A morte dos justos é a mão de Deus recolhendo o trigo que deu fruto aos celeiros celestiais. Corta-lhes a respiração, e voltam ao pó. Mas a sua alma rompe os horizontes sem fim da esperança, iluminada pelos clarões da eternidade, como os raios de sol que brilham sobre a lavoura de uma manhã sem nuvens. 
Ele não temia a morte. Não prevaricou. Não esqueceu seus compromissos. Era o homem de sempre, o brasileiro das boas causas, que provou que a vida só vale quando é vivida na intensidade e na têmpera da forja dos ideais. Ideais que defendia com ardor imensurável, nas discussões no partido, nas comissões, no plenário, sempre com competência e extrema dedicação em prol do bravo Estado do Mato Grosso, o qual se orgulhava de representar. 
Era um homem com idéias e ideais, com a simplicidade e o jeito modesto do agricultor. 
Três vezes foi eleito Deputado Federal, duas vezes Senador. Jamais se afastou da sua origem, dos valores que vincavam sua índole e vocação, dos símbolos da terra que davam forma à sua maneira de ser. 
Nasceu, viveu e morreu como homem do povo. Não abandonou a bandeira, o juramento e o altar onde estava a causa do lavrador. Era um guia, um líder que entendia as angústias do seu povo, compreendia as suas necessidades e sabia avaliar as imensas dificuldades que enfrentavam; um carismático, sábio e generoso que refletia em si mesmo as aspirações do povo que representava. 
Não vou, Sr. Presidente, traçar aqui uma biografia esquematizada desse ilustre brasileiro. Outros o farão, com uma acuidade e um brilho dos quais eu não seria capaz. Gostaria apenas de assinalar que de cada etapa de sua existência se irradia uma lição de dignidade que enobrece a vida. Do menino pobre, filho de pescador, nos chega a imagem do bom filho e do estudante compenetrado e inteligente. Do médico veterinário remonta o amor à natureza, e do estadista, a probidade, a dedicação cega ao trabalho, o respeito à dignidade humana sobretudo e principalmente do homem do campo em tal linha de honraria que se tornou o apostolado de sua vida. 
Sua presença, nos corredores, nas comissões e no plenário desta Casa, inspirava sempre admiração e respeito. Jamais traiu a sua consciência e nunca e nunca se ouviu falar de um escândalo sequer que envolvesse seu nome . Homem simples, que trazia o cheiro do campo, o sorriso recatado e sóbrio, o olhar sem vaidade e as mãos rijas e firmes, como as de um camponês, que com golpes de tenacidade e bravura, rasga a terra para dela arrancar o sustento e a vida. 
Na última vez em que esteve presente na Comissão de Ciência e Tecnologia, pouco antes de partir, ainda que fustigado pela doença que havia de lhe ceifar a vida, o Senador Jonas Pinheiro se apresentou para relatar um projeto de minha autoria, versando sobre a política nacional de sementes. Acompanhei de perto o episódio e verifiquei que ele foi cercado e assediado, como é comum na vida parlamentar, por um grupo no sentido de protelar a votação. Mas ele, parece que pressentindo que seria aquela a derradeira oportunidade que a vida lhe apresentava, mesmo diante dos apelos, fiel aos princípios que sempre defendeu, relatou, discutiu, votou e aprovou aquela matéria que tanto lhe dizia respeito, que era do interesse legítimo de seu mandato e compromisso parlamentar. 
Ali, naquele instante, naquele momento, naquele episódio derradeiro, pude contemplar o traçado da linha dos acontecimentos imprevisíveis e misteriosos do destino que cada um de nós tem. Ali se dava o último encontro do profeta com a profecia, do homem com a causa da sua vida. E mais uma vez cumpria o seu dever com uma autoridade que só ele tinha em temas dessa natureza. 
O Brasil deve muito a esse filho ilustre, exemplo de vida pública e dos maiores do seu tempo. 
No dia em que seu corpo era dado à sepultura, pairava sobre Mato Grosso uma tristeza imensa. Havia nos lares uma prece, na alma de seus conterrâneos uma lágrima e, em cada coração dos que o conheceram, um voto de pesar e de saudade.

  
(Interrupção do som.) 
 

O SR. MARCELO CRIVELLA(Bloco/PRB – RJ) –Quando o Senado Federal, em sessão solene, presta o tributo da sua dor em homenagem ao extraordinário brasileiro, apresento, por honrosa delegação do Partido Republicano Brasileiro, ao Brasil, à família e aos amigos, nossos mais profundos sentimentos. 
E, para concluir esse pronunciamento, Sr. Presidente, e celebrar a trajetória ilustre e o exemplo primoroso de dignidade e vida do Senador Jonas Pinheiro, não encontro outras palavras, se não aquelas que o apóstolo dos gentios pronunciou para definir o destino e a vida dos bravos: “Combati o bom combate. Acabei a carreira e jamais perdi a fé”. Mais não se podia dizer para definir a trajetória desse valoroso brasileiro. Ele foi um profeta do seu tempo, que sonhou, lutou e sofreu pelo povo que representou, serviu e amou. E, assim como viveu, ele partiu: modesto e moderado, com a certeza do dever cumprido, tranqüilo com a sua consciência e intimorato no seu coração. 
Não faleceu, apenas fechou os olhos para enxergar melhor. Como um bom lavrador, plantou nesse mundo a boa semente e foi colher no céu os frutos do seu trabalho honrado. Que Deus o tenha, estimado e saudoso companheiro Senador Jonas Pinheiro. 
Muito obrigado, Sr. Presidente.