O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Senador Jonas Pinheiro, agradeço a V. Exª.
Srªs e Srs. Senadores, Srs. telespectadores da TV Senado, Srs. ouvintes da Rádio Senado, ocupo, hoje, esta tribuna para fazer um pequeno relatório sobre o vôo que repatriou 318 brasileiros, no qual estive, juntamente com os Deputados Geraldo Thadeu, do PPS de Minas Gerais, e Neucimar Fraga, do PL do Espírito Santo.
Sr. Presidente, é triste e doloroso vermos nossos conterrâneos, compatriotas, entrando nos Estados Unidos, atravessando um rio à noite, escondidos, debaixo da cerca, molhados, humilhados. São famílias inteiras em busca de trabalho. Essa gente só quer trabalhar, mas não encontra trabalho no Brasil e, assim, arrisca a vida para trabalhar nos Estados Unidos e são presos. Vinte e cinco mil brasileiros foram presos este ano, nos Estados Unidos, tentando transpor as fronteiras ilegalmente para simplesmente ter trabalho com salário digno.
Mas, ao tempo que pousávamos no aeroporto de Confins, recebíamos notícias de que este semestre foi o melhor para os bancos, para o sistema financeiro, com juros a 19,75%. Neste ano, vamos pagar mais de R$150 bilhões, a título de juros da dívida pública, para tão poucos brasileiros, enquanto que 170 milhões de brasileiros são excluídos do mercado de trabalho e muitos estão saindo deste País para buscar a sobrevivência no estrangeiro.
Esse fato se sucede à morte trágica de Jean Charles de Menezes, brasileiro, mineiro, da cidade de Gonzaga, que tentava sobreviver na Inglaterra. Já que não tinha o visto de trabalho, certamente ficou assustado quando foi abordado por três policiais à paisana e tentou se evadir do local onde estava. Disse um dos senhores que estava sentado no vagão do metrô que ele foi dominado, jogado no chão e, nesse instante, cruelmente assassinado com sete balas na cabeça e uma no ombro.
Será possível, Sr. Presidente, que não escutamos o barulho desses tiros? Será que não dá para perceber que as nossas capitais estão-se favelizando, que estamos atravessando a pior crise social da nossa história? E já são quase 30 milhões de brasileiros desempregados e subempregados. É triste uma Pátria que manda os seus filhos embora porque não pode sequer oferecer a eles trabalho.
Sr. Presidente, vou encaminhar um requerimento à Mesa para um voto de aplauso ao jornalista Luiz Gonzaga de Mello Belluzo, que ganhou ontem o Prêmio Juca Pato, com um trabalho primoroso: Ensaio sobre o Capitalismo no Século XX. Os artigos na revista Carta Capital e na Folha de S.Paulo mostram que estamos numa armadilha com essa política econômica, com a maior transferência de recursos de pobre para rico da história do capitalismo. Por quê? Porque estamos transferindo mais de R$100 bilhões de juros todos os anos. E é bom que se diga que a dívida pública está chegando a R$1 trilhão. Vendemos todas as nossas estatais, fizemos um programa de desestatização para diminuir a dívida pública, mas esta não diminuiu, está chegando a R$1 trilhão. São R$800 bilhões para sete mil brasileiros! Nunca vi um País tão desigual, nem na época medieval: sete mil brasileiros detêm hoje, nos bancos, R$800 bilhões.
Segundo a Receita Federal, 10.522 brasileiros possuem nos bancos no exterior US$82 bilhões. E o Banco Central – considero até inconstitucional – liberou hoje a remessa de recursos para o exterior. Agora isso é absolutamente livre, não se paga taxa nenhuma, a não ser no banco para troca da moeda em dólar.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é este Brasil por quem o nosso coração chora, o Brasil que manda seus filhos embora por falta de trabalho – eu, por exemplo, trouxe de volta 320 brasileiros –, por falta de vida digna. Talvez esteja aí a raiz da crise.
O pior é que para alguns a única coisa que funciona no Governo é a política econômica. Na verdade, creio que o Governo tem acertado em muitas coisas, mas tem errado profundamente numa política econômica de exclusão, que tem gerado os maiores níveis de desemprego da nossa história. E é bom que se diga: segundo o IBGE, 65% dos 30 milhões de desempregados ou subempregados, ganhando até um salário mínimo, são jovens de 14 a 26 anos.
Sr. Presidente, fica aqui essa denúncia de quem tem trabalhado com esse fenômeno da emigração ilegal no Brasil e o alerta, pedindo ao nosso Ministro da área Econômica, ao Secretário do Tesouro, ao Ministro do Planejamento e ao Ministro da Fazenda que atentem para isto: o castigo, o peso, o ônus que se impõe à sociedade brasileira, com uma política econômica indefensável e desastrosa.
Muito obrigado, Sr. Presidente.