O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srª Presidenta, Senador Paim, senhores telespectadores da TV Senado, senhores ouvintes da Rádio Senado, senhores presentes, meninas da Taquigrafia, nossos funcionários da Mesa Diretora, são tristes e dolorosas as notícias que continuam chegando sobre o Japão, momentos dramáticos vividos por aquela ilha, atingida por um tsunami, essa onda gigante, provocado por um abalo sísmico a 300 Km de Tóquio e a 100 Km, se não me engano, de Hokkaido.
Nós estamos assistindo, cada vez mais e mais, em intervalos menores, notícias de fenômenos da natureza que têm provocado grande expectativa sobre a humanidade. Aliás, isso já foi previsto, inclusive, nos Evangelhos. Para aqueles que estudam as palavras de Cristo, Ele falava, Ele falava sobre o aumento da ciência. A ciência nunca se desenvolveu tanto. Nos quatro mil anos da História do homem, da Humanidade, sem contar a Pré-História, da civilização egípcia até nós, até 1950, a ciência caminhou de maneira pausada. De 50 para cá, nós caminhamos cientificamente mais do que da civilização egípcia até 1950. Portanto, a ciência se acelera de maneira vertiginosa.
Ele também alertava sobre o pecado, o esfriamento do amor, a dissolução da família, a degeneração social, o amor ao dinheiro, a corrupção em escala global e também o ataque à natureza. No ritmo avassalador do progresso e do consumo, o homem tem pecado contra a natureza. As queimadas, a poluição dos rios, a contaminação dos solos, sobretudo a queima incessante de combustíveis fósseis, têm trazido o degelo dos nossos polos, o aquecimento das águas, na linha do Equador, o fenômeno do El Niño, e, consequentemente, abalos sísmicos que nunca prevíamos, não imaginávamos.
Srs. telespectadores, Srª Presidenta Ana Amelia, os continentes estão apoiados em placas de rocha maciça, placas tectônicas com 250 km de espessura. Essas placas se encaixam umas nas outras compondo este esferóide chamado Terra e quando se encontram ou deslizam, uma em relação a outra, causam abalos tremendos que se manifestam não só como terremotos, quando ocorrem nos encontros das placas nos continentes, mas também como ondas gigantescas, tsunamis, quando essas placas se encontram no oceano.
É o caso do Brasil. O Brasil está apoiado numa grande placa, numa placa sulamericana que tem o seu limite direito com a placa africana, no centro da distância entre Brasil e África, no Oceano Atlântico. Temos, no fundo do mar, uma verdadeira Cordilheira dos Andes. A Ilha de Fernando de Noronha, tão apreciada pelos turistas brasileiros, umas das belezas naturais do norte do País é o pico dessa cordilheira, dessas montanhas imensas submersas no Oceano Atlântico entre Brasil e África.
Temos a Cordilheira dos Andes real e natural, fruto da placa, do limite esquerdo da nossa placa, que se encontra no Oceano Pacífico. E nós temos visto como sofrem as populações desses países que estão localizados a oeste do Chile! Mas, na outra borda da placa, no Triângulo do Fogo, na Indonésia, nas Filipinas, no Japão, essa placa em que se apóia o Oceano Pacífico, que faz o limite atlântico oeste do México, dos Estados Unidos e da Califórnia, é uma placa imensa, cujos movimentos causam pavor, terror e destruição em massa.
Mais do que nunca precisamos conscientizar os homens sobre a defesa da natureza. Há poucos dias, li um editorial do Dom Dimas exatamente tratando deste assunto, o pecado contra a natureza, o pecado contra Deus.
Nesse momento, nós precisamos parar, Presidenta Ana Amelia, para raciocinar.
Recentemente, um estudo da Unesco trouxe dados curiosíssimos. Eles consideraram, em termos de energia, como se acelera o tempo vertiginosamente. Pegaram três arquétipos, o primeiro deles seria o agricultor moderno, um europeu do século XV, de 1400. Compararam a ele o homem industrial, que seria um inglês de 1850, da revolução industrial. E o terceiro homem seria um americano tecnológico de 1950.
Na decomposição pelo consumo de energia per capita feito pela Unesco, se nós arbitrarmos um valor de 100 para o homem industrial, para o inglês de 1850, o agricultor moderno, o homem que vivia na Europa no século XV, em torno de 1400, consumiria 20 de energia e o homem tecnológico, o americano de 1950, consumiria 350 de energia, quase 400. Mas o fato mais curioso é que se nós decompusermos esse consumo de energia no item transporte, pois bem, o homem tecnológico, em transporte, em 1950, nos Estados Unidos, consumiria o índice de energia 100, que era toda a energia que o homem industrial consumia no século XIX, um inglês típico vivendo em Londres, naquela ocasião.
Então nós vemos como, em termos de consumo de energia, o tempo se acelera drasticamente, porque para sairmos de um consumo de 20 para 100 se passaram quatro séculos; mas para passar de 100 para 400 o fizemos em cem anos! E, se medirmos hoje não o homem tecnológico, mas o homem digital, o homem que está sempre ligado ao celular, ao seu computador, à televisão a cabo, às comunicações globais, ao avião, ao automóvel, ao ar condicionado, certamente veremos que o consumo acelera o tempo de maneira brutal. É preciso uma revisão de valores. É preciso nos conscientizarmos em favor das futuras gerações, para que eles não paguem com a vida pelo nosso descaso.
Nesse aspecto, eu gostaria de parabenizar o Brasil pelo Plano Nacional de Exploração de Minérios, que está sendo lançado com objetivos até o ano de 2022, ou até 2020. Perdão, para 2022 são os planos, as metas dos 200 anos da Independência que o Presidente Lula traçou com o Ministro Samuel Pinheiro Guimarães, da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos. Nesse Plano Nacional de Exploração de Minérios há uma preocupação com as nossas jazidas, há uma preocupação com o nosso urânio, com o nosso petróleo – e o Pré-sal foi uma lei que votamos aqui – exatamente o próprio minério de ferro, o carvão e todos os metais da tabela periódica dos elementos, os 180 metais. O Brasil tem quase todos eles. Esgotaram-se algumas reservas como o ouro – ainda há determinadas quantidades de ouro que não são viáveis de se explorarem agora por questões financeiras, mas um dia o serão, porque o ouro vai subir de valor – e também de diamantes, e gás. Mas o fato é que é preciso, mais do que nunca, que nós no Brasil tenhamos absoluta consciência de que a humanidade necessita rumar na direção da energia renovável.
Mais do que nunca é preciso que nós implementemos… Eu tenho muito orgulho de ser o autor da proposta para que o projeto “Minha casa minha vida” obrigatoriamente adotasse a energia solar para aquecimento de água. Eu sei que há uma indústria de chuveiro elétrico e que já vendeu mais de 70 milhões de chuveiros hoje instalados no Brasil e que, portanto, emprega muita gente e move um grande volume de recursos. Mas a energia solar não atrapalha; a energia solar vai aquecer a água, e o chuveiro elétrico continuará a ser utilizado, porque no dia em que água não for aquecida pelo sol, o será pelo chuveiro elétrico. E mais, o chuveiro elétrico, pela sua forma mecânica de aquecer a água, ele também faz com que o consumo da água seja menor, porque a água precisa passar lentamente pela espiral incandescente, e isso faz com que as pessoas consumam menos água. Assim, também poderemos cuidar melhor da energia, sobretudo aqueles que demoram muito tempo tomando banho.
Então, a energia solar não vai trazer problemas para a indústria do chuveiro elétrico. E tenho muita alegria de ter sido autor dessa proposta. Houve uma reunião memorável em que o Presidente Lula reuniu os Presidentes de Partidos e alguns Ministros. Na ocasião, lembro-me que o Ministro Guido Mantega – na época, do Planejamento, hoje, da Fazenda – contra-argumentou a minha proposta dizendo: “Lula, não há viabilidade econômica”. É verdade, não havia viabilidade econômica porque o chuveiro elétrico é mais barato que o aquecimento solar; mas não havia viabilidade econômica também porque não havia demanda! Para uma demanda prevista de dois milhões de residências no programa Minha Casa Minha Vida, então, dois milhões de equipamentos de energia solar tem, sim, viabilidade econômica e se impõem diante dessas grandes tragédias que apavoram a humanidade. E a agressão ao meio ambiente é uma delas.
Mais do que nunca, o Brasil, que é um País que tem hidroeletricidade, que tem ventos constantes soprando pela sua costa, e que tem uma energia solar abundante, deve caminhar para o uso de recursos naturais e renováveis.
Está aí, o Japão, eu gostaria de pedir à Presidente que, se ainda não foi feito, pudesse fazer constar na Ata desta nossa sessão que estou apresentando um voto de pesar ao povo japonês, em nome do Senado Federal, por essas notícias tão tristes que continuam chegando.
Eu vi as imagens na CNN e fiquei impressionado com aquela onda gigantesca, com a força do mar – aí há muita energia também e, graças a Deus, o Brasil também tem marés de onde pode retirar energia renovável. Pois bem, aquelas ondas levavam barcos – o Japão vive muito da pesca –, levavam também automóveis, lançavam-se sobre as cidades, sobre pontes, sobre ruas, derrubando prédios, incendiando instalações e apavorando a nós todos, ainda que estejamos do outro lado do mundo.
Srª Presidenta, eram essas as minhas considerações, as minhas preocupações nesta sexta-feira em que terminamos a semana do Carnaval, em que há muita festa. Semana que vem retornamos ao Senado Federal, mas com essa consciência mais aguda do que nunca, mais lúcida e mais prevenida do que nunca.
Hoje eu estava lendo um exemplar chamado “Primeira Página – 90 anos de Folha de S.Paulo” – as mais importantes primeiras páginas da Folha de S.Paulo. Ali eu li uma notícia de 1930 que dava conta de que, numa cidadezinha de Pernambuco chamada Bom Jardim, o rio havia transbordado e destruído as casas, havia levado as pontes e as precárias estradas. E o diretor de obras da ocasião estava indo lá fazer inspeções para ver como é que se reconstruiria aquela cidade.
Pois é, este é o nosso dilema. Nós vivemos num país onde os rios transbordam, onde há enchentes no verão, onde nossas encostas desabam, sobretudo as mais arenosas. Isso ocorre já há muito tempo, mas nós não nos prevenimos porque desenvolvemos, ao longo do tempo, essa capacidade pública de esquecer as nossas tragédias. Na hora em que elas ocorrem, lá vamos nós em comitiva com a Presidenta da República, com os Ministros, com os Senadores e com os Deputados prestar solidariedade, mas acabamos não fazendo as obras de prevenção que deveríamos fazer.
Fazemos, depois, só as de construção, tentando enxugar gelo – algo que, a esta altura da nossa calamidade, nem conseguimos, porque o gelo está derretendo mais rápido do que podemos enxugar.
Ah, o Senado Federal está fazendo uma comissão externa para cuidar desse assunto e verificar definitivamente, num levantamento cuidadoso, onde estão nossas vulnerabilidades para ali fazermos as obras que temos de fazer e, assim, nos redimir de tanto descaso do passado…
Srª Presidenta, muito obrigado pela generosidade de me conceder este tempo para falar. Espero que a senhora tenha um bom fim de semana e que, na segunda-feira, já possamos estar de volta para a sessão que vai celebrar, no Senado Federal, os 90 anos da Folha de S. Paulo, uma história muito bonita de liberdade de imprensa, Senador Paulo Paim.
Aliás, é o único veículo do País que tem uma crítica própria. E não poderia ser outra folha: não poderia ser de São Tomé, de São Mateus, de São João nem de São Lucas, tinha de ser de São Paulo, porque São Paulo, Paim, foi aquele que fez uma autocrítica. Ele perseguia os cristãos, ele matava os cristãos. A caminho de Damasco, ele viu uma nuvem, uma luz forte, ficou cego e caiu do cavalo. Naquele momento, quando ele caiu do cavalo e ficou cego, por mais paradoxal que pareça, ele encontrou a verdade e passou a ser o mais devotado, aquele que mais renunciou, que mais sofreu, que mais foi preso.
Na vigília do mar, passou muitas noites, foi açoitado, viveu no deserto em perigo entre os irmãos como ele diz, em perigo entre os judeus, entre os gregos, entre os romanos. Ele foi o grande Paulo, que, mesmo morto há séculos, ainda fala alto à consciência dos homens de boa vontade. Esse apóstolo Paulo fez uma autocrítica, mudou de posição e, de perseguidor, passou a perseguido.
Não é à toa que a Folha de S. Paulo leva esse nome: tem lá seu ombudsman, paga um profissional para criticar pública e asperamente seus erros. Isso nos traz um alento, porque não serve para a constituição das nossas instituições a imprensa boçal e soberana, a imprensa do ódio e da perseguição, neurótica, aquela que acha ser dona da verdade, quando todos sabemos, Senador Paulo Paim, que a verdade, só Deus a tem.
Ouço V. Exª com muita atenção e carinho se a Presidenta permitir.
O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT – RS) – Senador Crivella, neste aparte rápido, quero dizer que concordo com V. Exª, inclusive com sua última frase. Eu sempre digo que quem entra num debate, numa conversa ou quem fala para a sociedade achando ser o dono da verdade já entra perdendo. Quem acha que só a própria verdade vale já entra perdendo. Mostra grandeza quem faz um debate fraternal, equilibrado, no mais alto nível, ouvindo o contraditório, informando a sua opinião e tomando a sua posição. Alguns acham – V. Exª tem razão – que são donos da verdade. O que é dito já é como se fosse um julgamento em última instância, e a pessoa, seja homem ou mulher, está liquidada. Quero cumprimentar V. Exª e dizer que fiquei feliz com a referência a São Paulo – sou Paulo também!
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ) – E traz na índole, na vocação, vincando a sua alma …
O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT – RS) – Essa posição de saber …
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ) – Essa posição.
O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT – RS) – … que nem sempre a gente acerta, a gente erra e tem de reconhecer quando errou e procurar acertar. Por fim, quero fazer uma homenagem a V. Exª. Eu estive no Rio – V. Exª comentou aqui também a minha ida ao Rio de Janeiro – e percebi o enorme carinho que aquela população tem por V. Exª, não só os aposentados e os trabalhadores. Como eu caminhei quase um dia pelo Rio, ouvi muito a pergunta: “O Crivella não veio?” Eu explicava que, até em sinal de respeito, como a homenagem era para o Senador Paim, V. Exª havia dito: “Paim, fale por nós lá”. Eu quero fazer este registro: muita, muita gente perguntou por V. Exª e eu justifiquei que V. Exª tinha falado comigo que era uma homenagem a mim, que eu brincasse, me divertisse e falasse por V. Exª, que falasse também pelo Lindbergh – foram palavras de V. Exª. O povo do Rio de Janeiro tem um carinho muito grande por V. Exª, e V. Exª merece. Dou esse testemunho em função de todas as suas posições aqui nesta Casa. Parabéns a V. Exª.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ) – Muito obrigado, Senador Paim, V. Exª sabe que este obscuro e anônimo Senador nunca lhe faltou nos momentos dramáticos da nossa luta em favor dos aposentados, seja na vigília, seja nas nossas idas ao Palácio, seja nas nossas discussões. Dentro da nossa base partidária, muitas vezes ficamos até isolados, e as pessoas nos cobravam isso, mas nunca votamos contra o trabalhador.
Srª Presidenta, muito obrigado.