O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Obrigado, Sr. Presidente.
Srs. Senadores, Srªs Senadoras, senhores telespectadores da TV Senado, senhores ouvintes da Rádio Senado, nós discutimos, no Senado Federal, o PLC nº 122, que objetiva punir os crimes motivados por orientação sexual.
Homem do meu tempo, não sou estranho às influências do mal e do bem que perpassam o ar. Numa época de lassidão e violência, de hostilidade e fraqueza, de agressão e anarquia nas coisas e nas ideias, a sociedade, por se recobrar, precisa de debate, da compreensão e da conciliação. Sãos as virtudes da boa vontade e do coração que salvam nestes momentos de transes. Quem me dera saber exprimir, neste momento, o que eu desejaria.
Mas, como cristão, nos princípios e na independência, na temperança e na correção, açoitado por viver em um mundo ao qual não pertenço, mas, na unidade e devoção, que converte em santuário a família e que só compreende a vida pública como expressão do idealismo, da renúncia, da fidelidade e da honra, sinto-me no dever de uma palavra: não somos nós, os que creem em Deus, nem nunca fomos, nem jamais seremos os intolerantes, os irascíveis, os obstinados e os arrogantes, nem tampouco os pessimistas, os sombrios, os mordazes, os invejosos e os revoltados. Não julgamos. Jamais condenamos. Somos da paz e a única guerra que combatemos é a guerra contra nós mesmos, imortalizada nas palavras de Cristo, que desvendou o enigma das Escrituras explicando que é mais forte quem domina a si mesmo que aquele que conquista uma cidade e que a pior das batalhas se vence dando a outra face.
Os meios de comunicação incendeiam os corações e as mentes, atiçando com palavras de ordem um iminente conflito. Homens públicos de ocasião, sem princípios e sem valores, plantonistas do interesse próprio, metamorfoses do oportunismo vulgar, se arvoram nas primeiras filas do partido do mercado, em que a lei é escrita apenas por interesses, pela força dos que podem mais.
Essa guerra não me interessa. Somos da bondade, do argumento, da brisa que traz a paz e, sobretudo, do amor, mas do amor sem fingimento, sem mentira, sem mácula e sem hipocrisia.
Não podemos aceitar que o combustível incontrolável dos ódios e das paixões faça o debate do PLC nº 122 tomar o rumo dos tufões, que passam e deixam atrás de si um rastro de destruição, de antagonismos e de conflitos.
Quero trazer, nesta hora, o lenitivo que suaviza, consola e acalma. Quero dizer que, mais do que ninguém no Brasil, os cristãos repudiam a violência sob qualquer forma, inclusive contra os homossexuais; repelem a discriminação e o preconceito e se recusam a fazer parte da ira insana dos sectários e da intolerância bruta, cruel e fria dos fanáticos. Mas os cristãos defendem, também, o direito de expressarem, de maneira pacífica, suas convicções milenares de concepção da família e da sua sagrada função social na preservação da Humanidade.
Os cristãos defendem e não abrem mão da livre expressão da fé, sem obrigar e sem constranger ninguém. E, ao fazerem isso, o fazem de consciência imaculada, como faz um bom amigo. Amigo aconselha, amigo se mete, amigo se importa. E amigo é palavra que a gente conhece na hora em que a gente precisa. É aí que se vê quem atende no meio da noite, quem fica do lado e olha nos olhos e diz a verdade sem ofender.
O cristão é esse amigo, e é o Evangelho que traz na alma. E o Evangelho que traz na alma são as boas novas. Ele não é da acusação que humilha, da ameaça que intimida, nem do ódio que destrói. É da misericórdia e da compaixão. É não esmagar a cana quebrada e não apagar a torcida que fumega. É do amor incondicional e eterno que tudo espera, tudo sofre, tudo suporta e tudo crê.
É assim que os cristãos do Brasil, para serem dignos de Deus, constroem a paz e pregam seus valores sem desprezar o valor dos outros.
Devem-se calar? Devem sofrer a lei da mordaça? Devem ser censurados e estigmatizados? Desprezados e ridicularizados, subalternizados? Mas por quê? Por serem sinceros e expressarem o que pensam, com o único sentido de tentar ajudar e mostrar um caminho que estão convencidos ser melhor? Não! Isso não é bom para ninguém.
Podemos, talvez, nunca alcançar a unanimidade. Cada um tem suas convicções, sua crença, sua concepção de mundo, sua visão de presente, sua projeção do futuro, mas somos brasileiros na geografia da nossa gênese, nos acidentes imprevisíveis e misteriosos da nossa formação histórica e comum, nos símbolos telúricos que vincam a nossa índole e a nossa vocação.
Somos todos brasileiros e o Brasil somos nós. Erram os que semeiam contendas e jogam uns contra os outros para faturar no espetáculo melancólico das ofensas mútuas, do repugnante circo dos horrores, onde quem ganha é quem xinga mais alto e quem proclama a ofensa mais cruel.
Por ser contra isso e não aceitar o papel medíocre que a história reserva aos iracundos, como forma de contribuir para o debate, apresentei aos meus Colegas, Srs. Senadores, aos Srs. Deputados que acompanham mais de perto essa polêmica, ao Sr. Secretário-Geral da CNBB, a diversos pastores evangélicos, ao Presidente do Senado Federal, aos Líderes da Maioria e da Minoria nesta Casa, à Exmª Srª Relatora que, por sua vez, se incumbiu de discutir com associações, movimentos, frentes e demais entidades da militância política dos homossexuais, um projeto substitutivo que criminaliza a violência, o preconceito e a discriminação sem agredir o direito sagrado de sacerdotes, de pastores, de padres, de ministros, de homens de confissão religiosa e até aqueles que não são de expressarem o seu pensamento e até de dizerem que o homossexualismo é pecado, é antinatural, sem ofender, sem criar com isso qualquer tipo de incitação ao ódio ou de violência que cause assassinatos ou lesões corporais. É assim que queremos construir um entendimento, na afirmação convicta e serena de que conter e punir a violência é também missão da religião e de todos os cidadãos de boa vontade deste País.
Sr. Presidente, ao concluir, quero dizer que estamos construindo no Senado Federal, com todas as forças, com todos os pensamentos, já que o PLC nº 122 naufragou; o PLC nº 122 não consegue ser aprovado e não conseguirá, porque quer dar direitos destruindo outros, que são cláusulas pétreas da Constituição, um novo projeto, uma nova lei. Espero, assim, podermos acalmar os ânimos e trazer de novo aquele sentimento da verdadeira cristandade, que é de pregar contra a violência, que é de pregar contra qualquer tipo de discriminação e preconceito sem com isso, de maneira alguma, tirar os direitos daqueles que pensam diferente de expressar a sua fé.
Muito obrigado, Sr. Presidente.