O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR – RJ. Como Líder. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado, ocupo hoje esta tribuna porque ontem fez seis meses que Jean Charles de Menezes foi assassinado covardemente por autoridades policiais da Inglaterra, na estação de metrô de Stockwell, com sete tiros na cabeça e um no ombro. 
Esse brasileiro humilde, que foi para a Inglaterra a fim de ajudar a sua família, residente em Gonzaga, Minas Gerais, deixou em 200 milhões de imigrantes que vivem pelo mundo uma expectativa: será, meu Deus do céu, que o berço da democracia e do neoliberalismo, aquela Nação que há tantos anos vem em defesa dos direitos humanos vai agora diluir a culpa de um assassinato brutal em uma hierarquia, em uma cadeia de comandos? E nós sabemos que quando todos são culpados ninguém é punido. Ou será que vão colocar a culpa no Regimento? 
Nós da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a imigração ilegal estivemos no Parlamento inglês. Falamos com os Lordes e com os Comuns. Estivemos também na Comissão Independente que investiga os atos de arbitrariedades da Polícia. Todos nos disseram que as investigações seriam conduzidas de maneira a se encontrar o responsável. 
Eu não venho à tribuna do Senado chorar as mágoas de um concidadão. Venho também em nome de 200 milhões de seres humanos que hoje vivem espalhados pelo mundo, longe da sua terra natal, que são os imigrantes. 
Eu quero lembrar que, entre 1850 e 1950, 52 milhões de europeus saíram da Europa em direção às Américas. A maioria deles para o Canadá, os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina. Eles foram muito bem recebidos. Mas os fluxos migratórios são cíclicos e muitas vezes tomam direções opostas. Hoje são os brasileiros, os sul-americanos, de modo geral, que emigram para a Europa, para os Estados Unidos e muitos até para o Oriente, para o Japão. 
Neste momento de globalização, neste momento em que pagamos juros tão altos da nossa dívida e que permitimos cada vez mais, com a nossa política monetária, que os capitais entrem em nosso País, nos países mais pobres, com um sentido especulativo, apenas para entrar e sair, sem compromisso das nossas Bolsas, ou então no mercado financeiro, comprando títulos da dívida pública não só do Brasil, mas da Argentina, da Colômbia, de todos esses Países, remunerados a juros altíssimos, esperávamos mais consideração dos Países que são hoje receptáculos, eu diria, dos nossos emigrantes. 
Portanto, faço aqui um apelo. E tenho certeza de que as autoridades inglesas, pela repercussão que um pronunciamento da tribuna do Senado tem, saberão da investigação de um assassinato brutal de um brasileiro humilde que estava na Inglaterra, como disse, trabalhando e gerando riqueza para eles. 
Aliás, abro um parêntese, Senador Augusto Botelho. Lembro-me de que, em visita ao Parlamento inglês, na Câmara dos Lordes, na Comissão de Direitos Humanos, um dos Lordes me entregou um relatório sobre o impacto econômico da imigração na Inglaterra. Ele disse que é positivo, porque os ingleses estão vivendo mais, portanto, usufruindo por um período maior da sua aposentadoria. E para continuar dando certo essa equação é preciso haver quatro trabalhando para um aposentado. A população inglesa não cresce. Cinqüenta e oito por cento dos adultos homens são solteiros, portanto, não têm filhos. Quem conta nessa equação são os imigrantes, e – ele me disse – de maneira muito profícua porque vão para o País, trabalham, na maioria das vezes não levam família, não fazem uso dos serviços sociais e não vão se aposentar na Inglaterra. Depois de um período, vão juntar dinheiro e voltar para os seus países de origem.

  
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.) 
 

O SR. MARCELO CRIVELLA (PMR – RJ) – Já vou concluir, Sr. Presidente, mas quero derramar neste plenário a minha indignação por saber hoje que a investigação que me prometeram se concluiria até o final de dezembro ainda não chegou a um ponto definitivo. O que nós queremos é o culpado. 
Queremos deixar claro também que hoje há dois milhões de brasileiros vivendo na diáspora. Em qualquer parte do mundo onde se cometa uma violência contra um nacional, contra um brasileiro, por mais humilde que seja, fiquem certos de que, por trás desse brasileiro, existe um Parlamento, uma sociedade, um Governo, uma Nação que vai incomodar, que vai ao país, como fomos ­ Ministério Público, Polícia Federal, Itamaraty, uma comissão de Parlamentares ­, para requerer justiça. Nenhum brasileiro, onde quer que esteja, estará desamparado. 
Quero também dizer que acho um absurdo se considerar um ser humano ilegal. Um ser humano não pode ser considerado ilegal, principalmente no berço do neoliberalismo, que prega a globalização, sobretudo o livre tráfico dos capitais. 
Muito obrigado, Sr. Presidente.