O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Se V. Exª permitir, farei essa leitura e serei seu Secretário à Mesa.
Sr. Presidente, hoje venho à tribuna do Senado – e sei que o Pais está preocupado com CPIs, com corrupção e até com o jogo do Brasil, que será daqui a pouco – porque uma coisa me preocupa muito também, e é da área de V. Exª.
Srs. Senadores, senhores telespectadores da TV Senado, senhores ouvintes da Rádio Senado, o meu Estado, o Estado onde nasci, o Estado que me elegeu, que deu-me a honra de representá-lo aqui, no Senado Federal, meus irmãos fluminenses, do Rio de Janeiro, viram, mais uma vez, crescer o número de homicídios.
A segurança no Rio é caótica. Anteontem, houve tiroteio em Ipanema, com bala perdida entrando pela casa das pessoas, destruindo janelas e varando porta de banheiro. O sujeito hoje não tem segurança nem quando está tomando banho, dentro do banheiro de seu apartamento. Isso é um absurdo.
Quando fazemos uma análise dos problemas relativos à segurança no Rio, somos surpreendidos com um simpósio que houve na Firjan. Tenho a maior admiração pelo Presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, Eduardo Eugênio, e já fiz aqui pronunciamentos em elogio a ele. Participaram do simpósio os Secretários de Segurança do Espírito Santo, de Minas, de São Paulo, do Rio, da Bahia e do Paraná, representantes da Scotland Yard, lá da Inglaterra, e da CIA americana, provavelmente todos amigos e discípulos do Senador Romeu Tuma. O nome do encontro foi O Grito do Rio.
Estas foram as conclusões a que chegaram os especialistas do O Grito do Rio: 1 – aumentar, equipar e treinar a Polícia; 2 – aumentar o número de vagas na carceragem; 3 – rever o Código Penal, certamente aumentando penas; 4 – gestão da informação, com a colocação de computadores nas delegacias; 5 – combate implacável à pirataria.
Desculpe-me, Senador Romeu Tuma, V. Exª é especialista em segurança, mas esse não é o grito do Rio. Aumentar a repressão, aumentar vagas nos presídios e aumentar as penas, tudo isso é o grito dos ricos. O grito do Rio é emprego. As pessoas não têm onde trabalhar.
Hoje, nas comunidades carentes – e são mais de setecentas –, quem trabalha na prostituição, no narcovarejo das drogas e na venda de piratas já tem a solidariedade de amigos e vizinhos, porque essas atividades viraram estratégia de sobrevivência. Há 1,5 milhão de pessoas desempregadas, vivendo sob precárias condições sanitárias, abaixo da linha da pobreza. Nem nos dez anos que passei na África, vi essa miséria que vejo no Rio de Janeiro, especialmente na cidade onde nasci.
É simplista a proposta de aumentar vagas em presídios e de colocar mais policiais e mais viaturas nas ruas – aliás, no Rio de Janeiro, daqui a pouco, não sei mais onde vão colocar viaturas; nunca vi tantas viaturas naquela cidade! Apesar disso, a violência aumenta, porque ninguém consegue vigiar todas as ruas, todas as praças e todas as vielas do Rio de Janeiro.
Fala-se em aumentar penas no Código Penal, mas não se fala em arrumar emprego para as pessoas. Será que, aumentando as penas, aumentando a repressão e aumentando o número de vagas nos presídios, vamos diminuir a violência? A história mostra que não.
Portanto, as reivindicações do encontro O Grito do Rio não é o grito do Rio, é o grito dos ricos, que querem manter a massa desvalida, desmobilizada.
O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – Senador, permita-me um aparte?
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Senador Mão Santa, se o Presidente me permitir, com muita honra, ouço V. Exª.
O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – Sei que é encantador o Rio de Janeiro, que tem o Cristo Redentor e que tem o Crivella como pastor, mas esse grito está na Bíblia, quando se diz: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Essa é uma mensagem de Deus aos governantes para propiciar trabalho. E o Apóstolo Paulo, mais firme, disse: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer”.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Muito obrigado, Senador Mão Santa.
Vou concluir, Sr. Presidente, porque V. Exª está esgotado hoje. Se não fosse assim, ficaríamos conversando a noite toda.
O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL – SP) – É que hoje o ambiente foi tão pesado, que só a espiritualidade de V. Exª ainda nos faz ficar de pé.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Muito obrigado.
Termino esta sessão chamando a atenção para a visão de Moisés, que, há quatro mil anos, disse o seguinte: “A paz é fruto da justiça, e a segurança se estabelece com o direito”.
Muito obrigado, Sr. Presidente.