O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é possível transformar sonhos em realidade.
É possível construir, mesmo no sertão, a felicidade.
É isso que o Projeto Nordeste vem comprovar.
A Fazenda Nova Canaã é o seu primeiro passo Se um pequeno volume de recursos, sem o envolvimento do poder público, consegue resultados impressionantes, imaginem os nobres Colegas o que se pode conseguir com a aplicação de recursos públicos, direcionados à melhora de vida da população tão sofrida que vive nas regiões mais pobres do País, como o Semi-Árido nordestino.
Para a implantação do Projeto Nordeste, podemos dizer que serviu de inspiração o exemplo da nação israelense, que, criada em 1948, em uma região também extremamente árida, encontra-se, hoje, entre as mais desenvolvidas do planeta, sendo detentora, inclusive, de uma considerável produção agrícola.
Então. O que falta para tirar da miséria nossos sofridos irmãos nordestinos?
Podemos dizer que a resposta é relativamente simples: falta o essencial para a produção agrícola, a ÁGUA, para que possam tirar o sustento da própria terra em que vivem, sem a condição humilhante de estar sempre a esperar a assistência governamental, tão escassa e, na maioria das vezes que acontece, atendendo a interesses de marketing político.
Mas os nobres Colegas já podem estar se perguntando “O que vem a ser esse Projeto Nordeste”?
O Projeto Nordeste surgiu com o objetivo de apresentar soluções para as principais causas do subdesenvolvimento que afeta a região semi-árida do Nordeste brasileiro. Podemos destacar algumas dessas causas, que demandam soluções relativamente simples.
A primeira, sem dúvida, é a falta de recursos hídricos. As chuvas se concentram num único período do ano e, por isso, não atendem às necessidades da lavoura, pois não coincidem com os períodos em que as plantações delas necessitam. Mas as águas se infiltram e vão para os lençóis freáticos. O que é necessário, portanto, é trazer essa água para a superfície.
A segunda causa é a chamada carência tecnológica, já que a implantação de um sistema de irrigação possibilitaria àqueles que vivem no Semi-Árido produzirem, independentemente das condições climáticas.
Pode ser considerada uma outra causa a falta de condições de armazenamento e comercialização da produção. Quero ressaltar que a estocagem garantirá melhores preços para os produtos, sem a necessidade de comercialização imediata.
Finalmente, uma causa do subdesenvolvimento que, mesmo não estando intimamente relacionada à produção, acaba por nela refletir-se é a falta de assistência básica nas áreas de saúde e educação para os menos favorecidos, especialmente crianças na fase pré-escolar. Sem disporem dessa fase de preparação, as crianças iniciam sua aprendizagem na primeira série do ensino fundamental, o que gera sérias distorções em seu desenvolvimento intelectual.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Rede Record se vem empenhando há anos na realização de campanhas para angariar doações de alimentos não-perecíveis e roupas, utilizando a rede de templos da Igreja Universal, na qual voluntários selecionam as doações em cestas básicas, para distribuição às regiões mais carentes atingidas pela seca. Mas esses benefícios emergenciais não podem ser encarados como solução.
Por isso, a idéia da Fazenda Nova Canaã, uma área de 450 hectares no Município de Irecê, em pleno sertão da Bahia. Essa fazenda é o embrião, por assim dizer, do Projeto Nordeste. Esse projeto prevê a implantação de outras fazendas nos moldes dos kibutzs israelenses, funcionando basicamente como agroindústrias, administradas e desenvolvidas por profissionais voluntários, com a reaplicação total dos lucros.
O que se pretende é a união da fazenda com a indústria, no meio do sertão. Quem sabe não realizamos, assim, em pleno sertão, a afirmação bíblica da terra onde corre o leite e o mel?
A Fazenda Nova Canaã caminha para a industrialização de seus produtos agrícolas e não depende mais das chuvas tão escassas na região. Fizemos correr por ela o “Rio Mangueira”. Eu explico: são 550 quilômetros de mangueiras que percorrem o terreno em toda a extensão plantada, até agora uma área de 100 hectares, gotejando água sobre o pé de cada planta. A água provém dos mais de 15 poços artesianos já perfurados. No nosso caso, a chuva está vindo de baixo para cima: é a água retirada dos poços que goteja permanentemente no pé de cada planta, preenchendo com o alegre verde da esperança uma área antes seca, desolada e triste. Além disso, o Projeto vem ganhando o aspecto de uma cidade. Foram construídas casas, em ruas que ganharam iluminação, depósitos para colheitas, reservatórios para a água.
Por enquanto, Sr. Presidente, os recursos investidos no projeto se resumem àqueles auferidos com os direitos autorais do CD “O Mensageiro da Solidariedade”, de minha autoria, e com os shows, cuja assistência várias vezes ultrapassou a casa de 100 mil pessoas e que têm sido realizados no Brasil e na África. Basta dizer que a Fazenda Nova Canaã foi adquirida e nela começaram as construções e a instalação de infra-estrutura com os 850 mil reais de adiantamento do contrato com a Sony para a venda dos CDs “O Mensageiro da Solidariedade”, recursos esses que foram doados na sua totalidade para a implantação do Projeto Nordeste.
Apesar da limitação de recursos, criou-se, na Fazenda, o Centro Educacional Betel – CEB, uma escola que atende a mais de 500 crianças carentes da região, fornecendo-lhes, gratuitamente, alimentação, uniformes, material didático, educação infantil e ensino fundamental, além de cuidados higiênicos, assistência médica e odontológica, e transporte diário. Os alunos também têm à sua disposição, nas instalações da própria escola, banhos de piscina, aulas de teatro e de informática e outras atividades de lazer. Além disso, a alimentação sadia e saborosa que recebem na escola tem o cardápio enriquecido com verduras, frutas e legumes produzidos na própria Fazenda Nova Canaã.
Muitos pais estão procurando matricular seus filhos no CEB, mas, como não é possível atender a todos, uma funcionária da escola visita as famílias, avaliando as reais necessidades. Essas famílias são beneficiadas com assistência médica e odontológica, e os alunos recebem um saquinho com pães fabricados na padaria do Projeto, para levar para casa, o que, em alguns casos, chega a ser o único alimento da família naquele dia.
Portanto, o que importa não é usar frases comoventes, mas sem utilidade prática. O que importa é, como se diz, meter a mão na massa, levando trabalho e desenvolvimento ao sofrido povo do Nordeste.
O economista Roberto Cavalcanti de Albuquerque declarou, em entrevista ao Jornal do Brasil, que “falta crédito barato e alguns investimentos essenciais” para aumentar a produção agrícola dessa região.
Não fosse essa ausência de crédito e investimento, não teríamos que testemunhar o chocante depoimento de uma mãe, que dizia que era melhor matar os filhos, porque não tinham o que comer. Isso foi em março de 1999.
Outros depoimentos do ano de 1999, um pouco antes da instalação do Projeto, que me comoveram – mais do que isso, me abalaram – foram: Um senhor que sobrevivia do lixo e afirmava que preferia isso a roubar e depois apanhar de borracha. Outro, que se desesperava, porque às vezes não conseguia 10 centavos, pasmem os nobres Colegas, para comprar um lápis para o filho poder estudar.
E para espancar qualquer dúvida quanto aos terríveis efeitos dessa falta de créditos pequenos, trago ao conhecimento de Vossas Excelências que a negação, pelo Banco do Nordeste, do crédito necessário à perfuração de um poço em sua fazenda para irrigar a produção levou ao suicídio o proprietário Aécio Medeiros. Porém, com a ajuda do Projeto Nordeste, a viúva Edna Medeiros adquiriu um sistema de irrigação, e hoje colhe a produção de 30 mil pés de fruta-de-conde, sendo visível a prosperidade existente hoje em suas terras. Afirma ela, com um misto de alegria e tristeza, que tem, agora, não um, mas dois poços. Se houvesse um pouco mais de sensibilidade por parte dos dirigentes das instituições financeiras, a vida de seu marido teria sido poupada.
Não é de estranhar, portanto, que o número de suicídios no sertão seja muito alto.
Porém, com a instalação da primeira etapa do Projeto Nordeste, agora as crianças estão bem alimentadas, ela tem sua casinha mobiliada, e a alegria de viver se estampa em seu semblante.
Não deveria ser assim tão difícil melhorar as condições do sertão nordestino, Srªs e Srs. Senadores. Quem sabe, uma guinada no direcionamento de recursos do BNDES – afinal, esse S representa o Social que consta do nome –, aplicando recursos realmente com vistas ao desenvolvimento social, poderia ser a solução para o desenvolvimento do Nordeste. Também não podemos esquecer-nos de que está inscrito na nossa Constituição, como um dos objetivos da República Federativa do Brasil, “erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.
As informações técnicas de que dispomos apontam para algo em torno de 2 mil dólares como sendo necessário para se irrigar cada hectare do semi-árido que cobre o Estado da Bahia. Ora, para cerca de 500 mil hectares agricultáveis ainda existentes nesse Estado, seriam gastos em torno de um bilhão de dólares.
Isso significa uma parcela pequena em relação ao que o BNDES já deu como empréstimo a companhias estrangeiras, para elas comprarem as empresas que eram nossas. Eu fico me perguntando – Quem seria maluco de não aceitar um negócio desses? “Eu te dou o dinheiro para você comprar o que é meu, e você vai me pagando com o lucro.”
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, torna-se, cada dia mais visível a melhora na vida da comunidade pobre dos arredores de Irecê, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores. É emocionante ouvir a declaração da mãe de um menino humilde de 4 anos, expressando o sonho de filho de ser doutor, segundo ela “porque já estou na escola.”
Quero colocar, neste momento, apenas duas indagações bem simples: Será que não podemos tirar nossos pobres irmãos nordestinos da miséria? Ou será que não queremos?
Espero que este pronunciamento sirva para chamar a atenção de nossos governantes, que agora dizem ter como prioridade os aspectos sociais, mostrando-lhes que é possível fazer muito mais pela população sofrida do Nordeste.
Com recursos bem aplicados, é possível transformar o semi-árido num imenso oásis de prosperidade, como ocorreu com o solo desértico de Israel.
Enquanto isso não ocorre, conclamo o povo brasileiro a contribuir para minorar o sofrimento dos menos favorecidos, lembrando que caridade não tem religião e que o povo nordestino precisa de nós.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, conforme disse ontem, faço hoje a projeção de um filme. É uma pequena contribuição que trago ao programa Fome Zero, do Governo Lula. Lembro também o pronunciamento do Senador Almeida Lima, publicado hoje, sobre o nosso sofrido Frei Betto, sobre o Município de Poço Redondo, em Sergipe, e todas as questões do Nordeste.
Assim, Sr. Presidente, peço para assistirmos a essa projeção no telão, se V. Exª achar possível. (Pausa.)
(Procede-se à projeção do vídeo.)
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Sr. Presidente, parece-me que ainda tenho um minuto de tempo.
Assim, ouço o aparte do Senador Edison Lobão.
O Sr. Edison Lobão (PFL – MA) – Senador Marcelo Crivella, as imagens que V. Exª exibe parecem-me mais expressivas do que as palavras fartas do seu discurso. Esse é um exemplo que poderia e deveria ser seguido por todos os homens de boa vontade. Pudessem frutificar tão generosamente exemplos dessa natureza quanto frutificam as pinhas que ali foram plantadas, certamente a amizade e a solidariedade entre os homens seriam mais aplaudidas por Deus, nosso Senhor, cujo nome seja sempre louvado. Cumprimento V. Exª!
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Muito obrigado.
A Srª Iris de Araújo (PMDB – GO) – Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – É uma honra, Senadora.
A Srª Iris de Araújo (PMDB – GO) – V. Exª, que é um homem de comunicação, exerceu agora aquela máxima segundo a qual uma imagem vale por mil palavras. Infelizmente, o que V. Exª mostrou nesse quadro é o retrato do Brasil. Convivemos diariamente com situações como essas. Congratulo-me com V. Exª por ter trazido para a nossa apreciação algo com que convivo muito de perto e que nos sensibiliza. Sei que esse projeto teve início há muito tempo, antes de V. Exª se tornar um político. Por intermédio da fé, V. Exª conseguiu mudar a face de uma região. Que a determinação política dos Senadores, dos Deputados, do Presidente da República, do mundo político, enfim, possa mudar a face do Brasil, com exemplos como o de V. Exª.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Muito obrigado, Senadora.
O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes) – Nobre Senador Marcelo Crivella, solicito a V. Exª atenção para o tempo, visto o avançado da hora.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Pois não, Sr. Presidente. Se fosse possível, gostaria apenas de ouvir o aparte dos nobres colegas.
Ouço o Senador Ney Suassuna.
O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes) – A Presidência solicita rigor no horário.
O Sr. Ney Suassuna (PMDB – PB) – Serei breve, Sr. Presidente. O primeiro escrivão da frota dizia que, nesta terra, em se plantando, tudo dá. Há certos lugares onde é mais difícil, mas a perseverança e a determinação mostram que, realmente, em se plantando, tudo dá, desde que seja regado com amor, carinho e perseverança. V. Exª nos deu um grande exemplo hoje. Parabéns!
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Muito obrigado.
Ouço o Senador Romeu Tuma.
O Sr. Romeu Tuma (PFL – SP) – Senador Marcelo Crivella, conheço o projeto de V. Exª, pois, na interrupção do programa Cidade Alerta, do Datena, na Rede Record, V. Exª sempre aparecia para oferecer a sua benção e falar sobre o seu projeto. Fico admirado da persistência, da coragem e do amor ao próximo que V. Exª demonstra no seu trabalho. Às vezes, questiono-me sobre o programa Fome Zero. Para mim, Fome Zero é o projeto do Crivella, porque Deus disse: ganharás o pão com o suor do teu rosto. Portanto, não é para ganhar comida de graça. Há que se oferecer trabalho para que o cidadão tenha a dignidade de saber que aquilo que ele vai comer foi fruto do seu trabalho. E o seu exemplo está aí. Quero cumprimentá-lo e chamar a atenção dos governantes para que sigam o exemplo de V. Exª e façam várias fazendas desse tipo, para que, amanhã, não tenhamos mais ninguém sem o pão para comer.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Muito obrigado, Senador Romeu Tuma.
Ouço o Senador César Borges.
O Sr. César Borges (PFL – BA) – Senador Marcelo Crivella, não poderia, de forma alguma, furtar-me a aparteá-lo. Eu queria ser o último, porque conheço o projeto.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Aliás, V. Exª é um dos autores.
O Sr. César Borges (PFL – BA) – Não, apenas conheço o projeto e fui lá com V. Exª. Lamento que, infelizmente, essa situação de pobreza exista no meu Estado, como existe no Brasil todo. Mas, por outro lado, fico extremamente feliz, porque a Bahia foi escolhida para receber o Projeto Nova Canaã. Tenho certeza de que será um exemplo para a Bahia e para todo o Brasil. Parabéns e muito obrigado por ter escolhido a Bahia!
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Muito obrigado, meu companheiro de lutas.
Ouço, por último, o Senador Almeida Lima.
O Sr. Almeida Lima (PDT – SE) – Congratulo-me com V. Exª. As palavras que pronunciei na tarde de ontem da tribuna foram melhor demonstradas pelo filme há pouco exibido, que estabelece a dimensão verdadeira do quanto segmentos mais do que expressivos da sociedade, da elite dirigente deste País é má e perversa. Quando me refiro à elite dirigente deste País, como já disse em outra oportunidade, não me refiro apenas à classe política, mas também às igrejas, à imprensa, à intelectualidade, às universidades, aos empresários, aos dirigentes sindicais. V. Exª dá uma demonstração, por todos nós conhecida, de que é possível construir um País diferente, onde o respeito ao cidadão, à pessoa humana esteja acima de todos os outros valores. Muito obrigado e as minhas homenagens a V. Exª.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PL – RJ) – Muito obrigado.
Sr. Presidente, concluo dizendo que é possível transformar sonhos em realidade. Tenho certeza de que esse Brasil vai mudar, a partir do momento em que tivermos fé no sonho de cada um de nós.
Muito obrigado.