O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Sr. Presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), engenheiro Marcos Túlio de Melo, em nome de quem saúdo os demais dirigentes de entidades de classe, conselheiros federais; presidentes de CREAs e os profissionais por eles representados; Srªs e Srs. telespectadores da TV Senado e ouvintes da rádio Senado; Srªs e Srs. presentes no plenário, o mundo civilizado é uma obra de engenharia. No Brasil ela chega antes do colonizador e já aparece no gênio indígena das armadilhas, das armas e aldeias, nos primórdios da nossa criatividade. 
Com a chegada do conquistador se erguem as feitorias, fortes, fortins e fortalezas; depois as primeiras vilas, cidades que mais tarde o talento imaginativo dos brasileiros iria plasmar em magníficas metrópoles do nosso tempo; engenhos rudimentares de cana-de-açúcar foram apenas os primeiros passos de inúmeras fábricas e complexos industriais; trilhas, caminhos e estradas se transformaram em extensas rodovias e ferrovias que cruzaram o nosso território; meras canoas, jangadas rústicas, bergantins, barcos e galeões eram o início de uma extraordinária indústria naval, apta a construir imensos navios e submarinos nucleares; capelas se transformaram em igrejas, igrejas em catedrais cresceram com a fé cristã dos brasileiros. Ontem, açudes improvisados e pequenas represas; hoje, gigantescas barragens, hidrelétricas e usinas nucleares; carroças e carruagens deram lugar aos carros sofisticados, aviões, foguetes e satélites, autênticos emblemas do nosso talento inovador. 
E assim progredimos, crescemos, nos desenvolvemos e nos dignificamos, sempre na linha do conhecimento, do estudo sério e diligente, da competência e da capacidade intelectual de um povo de índole pacífica, que ama a liberdade, que cultua o direito e os princípios democráticos e que, na generosidade cristã, se engrandece na prática das virtudes a serviço da humanidade. 
A garra do homem brasileiro, provada na epopéia das bandeiras, quando os Raposo, os Garcia, os Bartolomeu Bueno e os Fernão Dias ampliaram, a golpes de tenacidade e bravura, para além das montanhas, serras e florestas, com ímpeto indomável, os limites da nossa geografia, revogando os “Tratados de Tordesilhas”, sim, com essa fibra invencível, aliada ao brilho e à eficiência da inteligência nativa, para solucionar os mais complexos dilemas e desafios da natureza, fez surgir no vasto território nacional um País moderno, desenvolvido, próspero, gigante na pujança da sua imensa riqueza e no esplendor de uma civilização que surpreende o mundo com o seu poder criativo. 
A engenharia, a arquitetura, a agronomia, as ciências relacionadas a elas encontraram no homem brasileiro a paixão pela descoberta, a coragem e a aptidão para superar desafios, para planejar com imaginação e proceder com tenacidade, e dar início à marcha avassaladora e incoercível do processo de nosso desenvolvimento econômico, materializado na infinidade de obras e empreendimentos fulgurantes e notáveis, uma estupenda demonstração do nosso vigor e da nossa capacidade criativa. 
Tudo isso já se deslumbrava na mente poderosa dos nossos vultos históricos do passado e que tão bem foi descrito na quadrinha do Marquês de Paranaguá, que, ainda em um espírito de exaltação patriótica gerada pela vitória contra o Paraguai, profetizou: “O mundo há de ver um dia, nesse céu sereno e azul, curvar-se a Ursa do Norte ante o Cruzeiro do Sul.” 
E para emoldurar a comemoração dos 75 anos de existência do Confea, o maior conselho de profissões do mundo, Sr. Presidente, com 900 mil profissionais, 70% da riqueza nacional passam pelas mãos desses senhores e daqueles que eles representam tão bem, melhor lugar não se encontraria do que esta linda Capital, patrimônio cultural da humanidade, a mais alta realização artística de uma raça e a demonstração inequívoca do que é possível ser feito pelo espírito empreendedor de um povo dotado de talento peculiar e divino. 
Brasília é esta imensa forja onde se acrisolam as mais puras essências da nossa nacionalidade, os mais elevados valores e tradições da Pátria e onde se perpetua a energia da nossa brasilidade. 
A vasta obra dos profissionais do sistema Confea/Crea repercute mundo afora com seus arranha-céus espetaculares; túneis; pontes; centros de pesquisa de última geração; terminais, portos e aeroportos; nossa aviação civil; prospecção de minerais, inclusive águas profundas; agricultura extensiva; navegação espacial; desenvolvimento de próteses humanas de variadas aplicações; enfim, uma infindável lista de feitos exitosos.. 
Na complexa sociedade em que vivemos, os antigos ofícios se transformaram em sofisticadas profissões, exigindo sólidos e bem fundados conhecimentos dos que as exercem, e rigoroso controle sobre a qualidade dos serviços prestados pelos conselhos fiscais de profissões regulamentadas. 
Recordo com saudade o juramento que fiz no Crea do Rio de Janeiro, onde há quase 25 anos tive um momento de emoção ao me diplomar em engenharia civil: 
 

Juro honrar o grau que solenemente recebo, exercendo a profissão de engenheiro com ética, dignidade e respeito à vida e ao meio ambiente. Com meu conhecimento científico e tecnológico, buscarei contribuir para o desenvolvimento socialmente justo do Brasil e para a prosperidade da humanidade.
 
 
Esse é o juramento dos engenheiros civis, categoria profissional da qual faço parte. (Palmas.)
Ele representa bem a visão de engajamento social que as profissões ligadas à engenharia têm para a construção de um Brasil progressista e socialmente justo.

O Confea, como órgão representativo e regulador do exercício profissional, tem a grave e honrosa responsabilidade de garantir que a boa reputação da engenharia nacional permaneça incólume na opinião pública internacional, como tem sido até hoje. 
Por todas essas razões, Srªs e Srs. Senadores, o Senado Federal não poderia deixar passar em branco os 75 anos de existência dessa organização tão importante para o projeto de desenvolvimento brasileiro. 
Sr. Presidente, na qualificada platéia internacional que hoje nos honra com sua visita, estão presentes participantes da LXV Semana Oficial da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia e do III Congresso Mundial de Engenharia, eventos em andamento nesta Capital Federal. 
Mas esse pronunciamento não poderia se encerrar sem antes fazer menção ao lema escolhido para a Semana Oficial da Engenharia que ora está em curso: inovação tecnológica com inclusão social.

Sr. Presidente, nenhuma obra executada por mais monumental e inovadora, nenhuma riqueza explorada, nenhuma fronteira do conhecimento humano rompida, nenhum capítulo do nosso desenvolvimento científico e tecnológico, faz qualquer sentido se não o for em benefício do homem e de sua família. A Engenharia se enobrece e engrandece quando constrói a paz, erradicando doenças, garantindo o bem-estar e a distribuição da riqueza, promovendo a evolução da humanidade pelo conhecimento, para garantir que todos possam desfrutar de uma existência agradável, independentemente de serem ricos ou pobres.

Por isso o lema da semana oficial da engenharia nacional. 
Por isso também, Sr. Presidente, desde que assumi o mandato de Senador por honrada delegação do povo da minha terra, do bravo Estado do Rio de Janeiro, faço-me uma pergunta como engenheiro: se o Brasil possui imensas jazidas de calcário e argila, gesso, areia, minério de ferro, além de escória de alto-forno, matérias-primas de todos os cimentos; se dispõe em abundância de madeira, aço e alumínio, plásticos e borrachas, tintas e vernizes; mármores, granitos e cerâmicas; se possui mão-de-obra disponível e abundante, esperando ser qualificada e empregada com a ansiedade de um sentinela que espera a alvorada, por que, Sr. Presidente, a essa altura do nosso desenvolvimento, nosso povo mora em favelas, em barracos improvisados com o risco da própria vida? Qual o sentido disso? 
Essa é uma grave questão nacional que nos envergonha e fere o senso da nossa dignidade. E por isso mesmo ontem, neste plenário, por volta das 10 horas da noite, tivemos a oportunidade de, sob a presidência de V. Exª, aprovar um projeto de lei do Senado, que trata da engenharia pública, dando direito a todos os brasileiros, especialmente àqueles mais humildes, de contar com a assistência técnica de engenheiros e arquitetos para realizarem o sonho da vida de todos nós, que é ter uma casa própria onde possamos educar e criar nossas famílias. (Palmas) 
A essa pergunta, Sr. Presidente, como Senador, eu mesmo respondo. Enquanto houver uma só família vivendo em condições impróprias e indignas; enquanto houver uma criança pegando a sua bola de futebol caída num valão de esgoto a céu aberto; enquanto um jovem se sentir diminuído e estigmatizado por ter nascido e morar em uma favela; enquanto uma imensa parcela de trabalhadores brasileiros e aposentados – por quem temos feito várias vigílias nesta Casa – viver uma subvida, num submundo de opróbrio e privações, Sr. Presidente, toda a opulência da nossa riqueza será falsa. 
É por isso que prego, desta tribuna, o cimento social; cimento para unir ricos e pobres na vasta obra de transformação das favelas do Brasil; para a implantação do maior programa de habitação da nossa história, que transforme essas pequenas casas, esses barracos, em moradias decentes, que remova os que estiverem em áreas de risco e ofereça um programa nacional de habitação popular, na escala da nossa necessidade. Isso é possível! É possível um Brasil sem favelas! 
Os profissionais do sistema Confea/Crea também clamam ao Congresso Nacional e à Nação a responsabilidade urgente e inadiável do resgate social do Brasil e dos brasileiros, concitando os homens de boa vontade, nos quatro cantos da Pátria, para realizarmos, com a grandeza do nosso patrimônio intelectual e moral, a maior obra de todas, que é trazer a justiça pela distribuição da riqueza, ao menos, como disse, na escala da nossa necessidade e da necessidade da dignidade humana. E, assim, podermos todos, com olhar altivo, rasgar nos horizontes infinitos da esperança desta terra que Deus nos deu a perspectiva iluminada e gloriosa do nosso destino. 
Muito obrigado. (Palmas.)