O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srs. telespectadores da TV Senado, Srs. ouvintes da Rádio Senado, Sr. Senador José Claudino, nosso companheiro ilustre que propôs esta merecida homenagem ao povo do Piauí, aos nossos heróis da Guerra da Independência.
Sr. Presidente, permita-me saudar os Ilustres convidados na Mesa, Exmº Sr. Wellington Dias, nosso Governador do Piauí. Quero saudar também o nosso companheiro Senador Mão Santa; quero saudar também o Exmº Sr. João Félix de Andrade Filho, Prefeito do Município de Campo Maior do Piauí; nosso Deputado Federal e agora Vice-Prefeito de São Bernardo do Campo, Frank Aguiar, companheiro querido. Quero saudar o Exmº Sr. Raimundo Nonato Monteiro de Santana, que também é ex-Prefeito lá de Campo Maior e hoje abrilhanta esta sessão com sua presença; o Exmº Sr. Deputado Estadual Kleber Eulálio, seja bem vindo à nossa Casa; Hélio Isaías, Deputado Estadual da Assembléia Legislativa do Piauí; Valério José Carvalho, Deputado Estadual da Assembléia Legislativa do Piauí; Myriam Eduardo Pereira Conde Medeiros, que foi a intérprete, aqui, do Hino do Estado do Piauí e os demais convidados. Nossos Senadores que estão aqui presentes. E sei que há muitas ilustres figuras do nosso Piauí.
Eu não poderia deixar de vir aqui fazer um breve resumo sobre essa batalha extraordinária que marca a nossa formação e engrandece a história do povo brasileiro. Eu quero ler aqui um breve relato e começar com um grande escritor mineiro, Drummond, que disse, no seu poema:
“No cemitério de Batalhão os mortos do Jenipapo
Não sofrem chuva nem sol; o telheiro os protege
Asa imóvel na amplidão campeira.”
Foram esses alguns dos versos com os quais o grande poeta Carlos Drummond de Andrade homenageou os anônimos heróis da Batalha do Jenipapo, provavelmente a mais sangrenta das lutas travadas pela Independência do Brasil.
Fato histórico ainda pouco conhecido pela maioria dos brasileiros, a Batalha do Jenipapo foi travada às margens do riacho do Jenipapo, perto de Campo Maior, no Piauí, a 13 de março de 1823.
Ali, cerca de dois mil homens mal armados, com umas poucas espingardas de caça, armas brancas e até mesmo paus e pedras enfrentaram a força portuguesa de 1.100 homens treinados e bem armados, inclusive com algumas peças de artilharia. Os fatos que levaram a essa luta histórica e sangrenta começaram no ano anterior. Foi a Proclamação da nossa Independência, com a imediata adesão do centro-sul do País. Então, restou à Coroa portuguesa a tentativa de manter o Maranhão, o Piauí e o Pará como suas colônias, como o Brasil do norte.
O Piauí tinha, na ocasião, importância econômica que justificava a cobiça de Portugal. Sua atividade agropecuária crescia rapidamente e, em Parnaíba – sou filho de Parnaíba, pela generosidade de Mão Santa, que, quando Governador, me deu o título, e hoje sou filho de Parnaíba –, se abatiam 15 mil bois para abastecer o mercado de carnes dos mercados do Maranhão, Ceará e Bahia. O comércio de algodão era considerado o melhor do Brasil e também havia a produção de fumo e cana-de-açúcar. Cerca de metade da renda das numerosas fazendas de gado iam para os cofres da Coroa Portuguesa, num confisco tributário injusto com o nosso povo.
Não foi por outra razão que Portugal enviou uma grande quantidade de armas ao Piauí já em 1820 e, em 1822, designou como Governador das Armas do Piauí João José da Cunha Fidié, um experimentado militar, veterano na luta contra as força de Napoleão na Europa. Os ideais de liberdade chegavam ao Piauí por Parnaíba, cidade mais rica da Província, soprados de Portugal, França e Estados Unidos e foram rapidamente assimilados por piauienses ilustres, dentre eles Simplício Dias da Silva, Leonardo das Dores Castelo Branco e o Juiz Cândido de Deus e Silva. Eles estavam entre os que inspiraram a Câmara Provincial de Parnaíba a reconhecer a independência do Brasil em 19 de outubro de 1822, pouco depois da Independência, um mês depois. Essa foi a razão que levou João Fidié a deixar Oeiras, capital da República com suas tropas. Era seu dever conter o movimento pela Independência naquela parte do País.
Depois de longa marcha ele dominou Parnaíba sem resistência. Enquanto isso, em Oeiras, o Brigadeiro Manoel de Sousa Martins também trabalhava pela Independência. Em 24 de janeiro de 1823, Oeiras declarou-se independente de Portugal, o que forçou Fidié a voltar com as suas tropas. Começava a ser selado o destino dos heróis de Jenipapo.
Ao longo do caminho que João Fidié deveria percorrer, uma estratégia de resistência foi montada. Em Lagoa do Jacaré, alguns piauienses enfrentaram os portugueses numa primeira escaramuça. Piracuruca, onde a Independência havia sido declarada por Leonardo Castelo Branco, em 22 de janeiro, foi encontrada vazia. Os habitantes tinham fugido na noite anterior à chegada dos portugueses.
O confronto principal ocorreria em Campo Maior, onde a Independência tinha sido declarada em 5 de março, pelo mesmo Castelo Branco. Era imperioso impedir que Fiedé e suas tropas chegassem a Oeiras, para que toda a luta pela Independência não tivesse sido em vão.
Liderados por João da Costa Alecrim, Luís Rodrgues Chaves, Francisco Inácio da Costa, Salvador Cardoso de Oliveira, Alexandre Nery Pereira Nereu, Pedro Francisco Martins e Simplício José da Silva, os homens que lutavam pela Independência do Brasil esperaram os portugueses. Onde? No riacho do Jenipapo. Naquele lugar, depois de cinco horas de combate, estima-se que tenham morrido entre 200 e 400 brasileiros e mais de 100 portugueses que também tiveram cerca de 60 homens feridos.
Fidié teve ali a sua vitória de Pirro! Além do desgaste do combate, graças à bravura dos seus adversários, ele ainda perdeu mantimentos
Além do desgaste do combate, graças à bravura dos seus adversários, ele ainda perdeu mantimentos, água, armas e até mesmo valores que haviam sido saqueados em Parnaíba, levados pelos brasileiros no momento de sua retirada. Ele ainda passou dois dias em Campo Maior enterrando seus mortos. De lá seguiu para Estanhado, hoje União, para finalmente aquartelar-se em Caxias, no Maranhão. Lá foi cercado por forças compostas por piauienses, cearenses e obrigado a render-se em 31 de julho, pondo fim às esperanças portuguesas de manter uma colônia no Brasil.
Esses humildes anônimos que deram a vida pela Independência do Brasil demoraram a ter a importância de seu feito reconhecida. Apenas pedras toscas marcavam o lugar de suas sepulturas até que, em 1923, no centenário de seu sacrifício, ali se ergueu, pela primeira vez, um marco em homenagem a sua bravura.
Em 1973, cento e cinquenta anos após a Batalha, um grande monumento foi construído para prestar a justa homenagem aos que deram a vida pela Independência do Brasil. Também o Exército Brasileiro homenageou os heróis de Jenipapo, dando nomes da Batalha e de alguns de seus líderes a unidades da nossa força terrestre. Nada mais justo e necessário. É por isso que desejo me congratular também com o Senador João Vicente Claudino pela proposição desta sessão especial de homenagem àqueles valorosos brasileiros que deram seu sangue pela liberdade do nosso País.
É preciso que tenhamos muitas outras homenagens como esta, é preciso que se ensine mais nas escolas o que foi a Batalha do Jenipapo para que, conhecendo esse episódio da nossa História, possamos homenagear de maneira justa e digna esses bravos patriotas.
Senhoras e senhores, um breve relato para trazer à memória gestos heróicos de nosso povo. Aliás, as nacionalidades dependem muito da sua configuração física, dos acidentes imprevisíveis e misteriosos da sua formação; – eu diria – dos nomes e símbolos telúricos que lhe vincam a índole e a vocação.
Mas, Sr. Presidente Heráclito Fortes, não há notícias na história que nenhum povo haja se formado em nação culta, poderosa, digna, influente no mundo, sem a presença dos seus líderes sábios e generosos; de seus condutores valentes cujas mãos viris, fortes, são capazes de amalgar, nas virtudes e defeitos de seus povos, a sua gente, para que possam nos ensolarados dias do porvir, rasgar nos horizontes a perspectiva iluminada do seu destino, e nosso destino tão glorioso é esse, o destino do povo brasileiro que passa pela honradez, pela dignidade e pela bravura do povo do nosso Piauí.
Eu ouvi aqui atentamente as palavras de um guerreiro do Piauí, que é o Senador Mão Santa, que presta um papel extraordinário às avessas a este Governo, quando faz denúncias, às vezes justas, muitas vezes injustas. A política, Sr. Governador, é isto: um dilúvio de ódios e paixões. Eu também quero ser ouvido e dizer que nosso Governo tem conquistas, tem conquistas importantes para o povo brasileiro. Eu lembro quantas vezes os políticos choravam, os sindicatos e o povo iam às ruas, pedindo que os aposentados brasileiros ganhassem US$100; hoje, ganham quase US$200. Se não fosse a nossa moeda ter sido desvalorizada por conta dessa crise financeira internacional em cerca de 45%, hoje nossos aposentados estariam ganhando mais de US$200. É suficiente? Não, não é, mas não podemos deixar de reconhecer nosso esforço. É como uma mãe humilde que, morando numa comunidade carente, no dia do aniversario dos seus filhos, compra um singelo par de sapatos. Ela gostaria de comprar muito mais. Ela gostaria de revestir o seu lar com o que há de melhor, mas não podemos desprezar o esforço daquela cidadã que traz para a sua casa, na medida da sua possibilidade, o seu esforço melhor.
No nosso Governo, temos praticado a democracia – seis anos de prática ilesa da democracia. Não é neste Governo que o povo chama o Procurador-Geral da República de engavetador; neste, não se engaveta nada. Pela primeira vez na história da nossa República, trinta políticos importantes, influentes, até um Ministro, foram levados às raias do Supremo Tribunal Federal para responderem sobre seus atos. Meu Deus do céu!
Cada Parlamentar tem o direito de vir aqui e dizer o que pensa, sem perseguições, sem sofrer represálias. Nossa pujante Oposição diariamente pratica a liberdade, os ventos, os sopros da liberdade que varrem os nossos campos sem que haja ninguém para impedir a sua voz.
Temos hoje um operário no poder. Ele sofre preconceitos. É difícil para uma elite reacionária entender que o povo brasileiro, como fizeram agora os americanos com Obama, se antecedeu a isso. O povo brasileiro pavimentou o caminho da democracia, e, hoje, um homem que nasceu no sertão, que veio na boléia de um caminhão com sua mãe chega à Presidência da República depois de uma vida devotada ao sindicalismo. Essas coisas são importantes que devemos considerar. Há erros? Há, mas há acertos também. Temos 300 mil jovens no ProUni.
Que conquista ver nossos meninos e meninas que não tinham antes dinheiro para pagar uma universidade estudando! Têm bolsa do Governo. São 300 mil.
Temos agora um programa que é um desafio: um milhão de casas! As pessoas dizem assim: “É obra eleitoreira. Está aí o Presidente preocupado em reeleger seu sucessor, lançando uma utopia e enganando os corações brasileiros”. Meus amigos, falo aqui como engenheiro. Não tenho a honra de ser médico, como Mão Santa, e vou já concluir, porque estou ficando fastidioso. Meu Deus do céu, Mão Santa, somos a terra do calcário e da argila. Você sabe o que é o cimento? É uma farofa de calcário e argila com um pouquinho, uma pitadinha, de gesso para regulação da pega.
O que mais temos nesta terra senão calcário e argila? Polo petroquímico, para nos dar tintas, vernizes, plásticos, borrachas, alumínio. Produzimos duzentos milhões de toneladas por ano. Exportamos mais da metade. Não temos gasto isso, que podem ser janelas e portas do nosso povo. Nós temos madeira, temos mão-de-obra abundante esperando ser treinada e empregada, como um vigia ansioso aguarda a aurora.
Lembram os americanos, que saíram da recessão de 1929 e construíram oitocentos mil quilômetros de estrada? New Deal! Franklin Delano Roosevelt! V. Exª fala nesse nome aqui, nesta tribuna, quase toda semana. Franklin Delano Roosevelt! Pois é, oitocentos mil quilômetros de estradas, 170 mil prédios públicos, 85 mil pontes e viadutos! Eles construíram o New Deal e lançaram infraestrutura para ser a maior nação do mundo logo no pós-guerra nos anos de ouro do capitalismo.
Falta-nos essa pujança? Não, não. Nós temos engenheiros, temos técnicos, temos todo o material para resgatar nosso povo da maior vergonha, que é ver esses monumentos hediondos, que estão se transformando em monumentos perpétuos, essas favelas brasileiras, que nos envergonham a todos.
Então, estamos ainda com o mesmo ardor cívico daqueles homens que, na terra seca do Piauí, lutaram pela independência para ver a nação brasileira de pé. Para rasgar nesses horizontes infinitos da esperança dessa terra, repito, a perspectiva iluminada e gloriosa do nosso destino, que não é da corrupção, de jeito nenhum, ou daqueles que se envergonham de ter nascido brasileiros porque passam fome. O nosso destino é de país, eu diria, maravilhoso, pujante, gigante, que se levanta para ocupar seu espaço no cenário das Nações do mundo.
Seja homenageado, então, pelas palavras desse obscuro e anônimo Senador, o povo do nosso Piauí, que aqui tem representantes tão ilustres; seja homenageado o nosso Governador, altivo, que está lá labutando diuturnamente. E olha como é difícil governar hoje em dia, com tantas interferências: é o Ministério Público, são as coisas dos tribunais, é isso, é aquilo, é a Imprensa! É, como disse, um dilúvio, meu Deus, de ódios e paixões. Outros teriam desistido. Só mesmo aqueles movidos pelo interesse público são capazes de vencer todas essas batalhas e construir um futuro melhor.
Muito obrigado. Muito agradecido. Parabéns ao povo do nosso Piauí. Parabéns. (Palmas)