O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Obrigado, Presidente.
Parabéns a V. Exª pelo lindo discurso!
Srs. telespectadores da TV Senado; Srs. ouvintes da Rádio Senado, Sr. Presidente; Srª Senadora Marta Suplicy; querido Ministro e Senador desta Casa Garibaldi Alves; Ilustres membros das Forças Armadas, que nos visitam; Senhoras e Senhores, nós hoje celebramos 185 anos do Senado Federal.
Eu gostaria de falar, numa retrospectiva muito ufanista, da nossa Instituição, desde aquelas páginas encantadoras, escritas com beleza, com o heroísmo dos missionários, passando pela epopéia das bandeiras, onde os garcias, os raposos, os bartolomeus buenos, os fernãos dias, a golpes de tenacidade e bravura, rasgaram a mata Atlântica, subiram e desceram milhares de serras, fugiram da onça, mataram a cobra, entraram pelo sertão, atravessaram o Planalto Central, o Pantanal, e balizaram uma das maiores geografias do mundo, até chegar aos sonhos de liberdade de Frei Caneca e de Rui Barbosa, que o nosso príncipe, resoluto e audaz, concretizou, cunhando a legenda bela e estupenda da nossa independência.
Precisamos lembrar que as nacionalidades dependem muito da nossa configuração física, dos acidentes imprevisíveis e misteriosos, da sua formação, da nossa formação, mas sobretudo não há notícias na História de que nenhuma nação haja se transformado numa nação rica, poderosa e influente no mundo sem a presença de seus líderes, sábios, generosos, dos seus condutores clarividentes, proféticos. E, mercê de Deus, desses líderes, está repleta a nossa história.
Presidente Sarney, numa retrospectiva, numa cronologia impecável… Apenas, Presidente, como humilde discípulo, com todo o constrangimento, com todo pudor de quem se considera seu aluno, eram evangélicos; não católicos. E V. Exª lembra bem, aliás já fez parte de um discurso seu, que no dia seguinte, após a noite de oração, eles decidiram que o Senado americano ia representar as províncias. Eram treze; vinte e seis Senadores. Já tinham a Câmara dos Comuns e alguém perguntou: “Mas Jefferson, vale a pena gastarmos dinheiro com isso? Nós já enfrentamos a guerra da independência. Nós temos problemas. E ele estava tomando uma xícara de chá, e é costume dos ingleses colocar um drop of milkpara esfriar; e ele disse: “O Senado é para isso. É para esfriar”. Lembra disso, Presidente?
Presidente, eu acho que aqui nós, que somos essa imensa forja onde se retempera o espírito da brasilidade, nesse sentido do equilíbrio, porque aqui todos os Estados são iguais. O nobre Estado de São Paulo, locomotiva do País, tem o mesmo número de Senadores que um Estado pequeno como o Acre.
Nós temos na vocação, na índole, na gênese, esse princípio de acalmar as coisas, de esfriar as coisas, de ponderar novamente, de pensar de novo, de reescrever. E o Senado tem se apequenado nesse espírito, porque as medidas provisórias chegam aqui sempre na data de vencimento. E o Brasil perde. A nossa nacionalidade perde e perdemos nós todos.
Nos 185 anos do Senado Federal, eu chamo a Nação a refletir sobre a instituição que tem; sobre a importância dela. É triste ver o vilipêndio constante do Senado e dos Senadores. As iniciativas que aqui tomamos muitas vezes são completamente distorcidas nesse dilúvio de ódios e paixões que são as sociedades modernas, quando nós não somos como o Executivo; não somos como o Judiciário.
A mídia sabe que há instrumentos nos outros Poderes. Nós somos um Poder pacífico. Aqui entram milhares, centenas de milhares de pessoas. Aqui falam todos. Aqui não se cala a voz de ninguém. Os gabinetes são abertos. Aqui existe o espírito da democracia. E talvez seja isso a maior afinidade e a maior identidade que temos com o nosso povo, com o povo brasileiro, que sustenta esta Casa, embora aqui, no Congresso Nacional, já tenha havido muita discussão de o Brasil se tornar, como está acontecendo na maioria dos países, uma nação unicameral.
Mas venho aqui, Sr. Presidente, renovar toda minha fé no espírito do Senado Federal, na nossa vocação, no destino que temos – cada um de nós – traçado pela liberdade que nos garante a Constituição Brasileira e, sobretudo, pelo respeito ao direito, pelo culto à liberdade, pela generosidade cristã da nossa alma e por esse instinto que temos de sermos todos brasileiros. Aqui nesta Casa e não em outro lugar, no Congresso, mas especificamente no Senado Federal, nos debates, nas nossas discussões, à luz da nossa história tão rica e tão bonita e com a felicidade de ter líderes que também sofreram tanto, que passaram por angústias que, para nós, outros Senadores, têm sido uma lição. Um calvário constante. É impressionante o preço que se paga para se ter a honra de servir ao povo no Senado Federal. É um preço alto. Aliás, que o diga Juscelino; que o diga o próprio José Bonifácio, Patriarca da Independência, que depois foi exilado; que o digam tantos outros brasileiros que passaram, que imaginaram, que sonharam com o Senado Federal e que pagaram um preço tão alto. Mas nenhum preço é tão alto quando celebrado com ardor cívico no altar da nossa Pátria, e esta Casa tem sido um altar da Pátria. Creio, Sr. Presidente, que, juntos, haveremos de construir o Brasil dos nossos sonhos.
Muito obrigado. (Palmas.)