O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Exmª Srª Presidenta do Senado Federal, Exmª Srª Senadora Marta Suplicy, primeira signatária da presente sessão; nossa colega Ana Rita; quero saudar aqui o Reverendíssimo Senhor Dom José Belisário da Silva, que é Bispo de São Luís do Maranhão, em nome do qual saúdo todos os demais religiosos que compõem a Mesa – parece-me que os demais já se retiraram.
Presidenta, sei que temos até às 16h, e não quero ser fastidioso. O Senador Pedro Simon traduziu aqui, em palavras tão bonitas… E quero dizer que também, Mário Couto, defendo a igualdade, a fraternidade e a liberdade, mas de origem e substância cristã, porque não foi a Revolução Francesa, foi Cristo quem primeiro anunciou esses valores: a fraternidade, porque somos todos irmãos; a igualdade, porque devemos amar uns aos outros; e a liberdade, porque Ele diz: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. E, de fato, não existe liberdade no engano, na hipocrisia, na dissimulação e na mentira.
De tal maneira que, se devemos evitar a interferência do Estado na Igreja e da Igreja no Estado, devemos dar boas-vindas à religião na política. Uma coisa não tem nada a ver com a outra: a religião tem princípios importantíssimos e forma o homem para que possa exercer qualquer cargo público com dignidade, sobretudo se tiver temor a Deus. Então, uma coisa é Igreja e Estado, outra coisa é política e religião.
E o tema da CNBB deste ano traz Paulo, o grande apóstolo, e um apóstolo que nos legou uma lição imortal, de perseguidor a perseguido. O que mudou foi quando caiu do cavalo e, cego, passou a enxergar melhor. Precisamos cair do cavalo. Não dá para continuar do jeito que está. Essa pobre humanidade, no ritmo que vai, será vítima de si mesma.
Eu queria aproveitar esses minutos que me faltam, antes de concluir, para falar sobre as palavras de Cristo. No livro de Lucas, 21: 25-28, a mensagem nos lembra essa dor, essa dor de parto. Paulo se refere a isso, Marta, porque nenhum de nós nasce sorrindo. Por mais rico que seja o berço, por mais cuidado que a mãe tenha em nutrir seu feto com carinho, pode ser uma princesa, o neném nasce chorando. Ah! Ele já traz no seu DNA as desilusões, os pesadelos, as angústias de tantos antepassados num mundo de iniquidade. Então, a humanidade geme.
Olha o que Jesus falou aos discípulos: “Haverá sinais no sol.” Quem acompanha a Folha de S.Paulo deve estar acompanhando as tempestades solares, que nunca houve antes. Esse calor que temos, a energia, a vida que nos vem das reações do hidrogênio estão em ritmo alucinante; as explosões, as tempestades solares. “Haverá sinais no sol, nas luas [há 2000 anos, Jesus, falava em luas; ele não era astrólogo, mas era o Filho de Deus e conhecia, de perto, quem criou o universo] e nas estrelas. Sobre a terra a angústia entre as nações em perplexidade.”. Por causa de quê? “Do bramido do mar e das ondas.”
Em relação a essas placas tectônicas de 250 quilômetros de espessura, as pessoas dizem: “Ah, mas estamos bem no Brasil, porque nossa placa se afasta da placa africana.” A nossa placa tem limite direito no meio do Oceano Atlântico.
Ela se afasta da placa africana e esse afastamento já deu uma brecha para subir o magma e formar a Cordilheira dos Andes – Fernando de Noronha é pico de uma dessas montanhas –, a mesma Cordilheira dos Andes que nós temos do lado esquerdo dos países andinos. Agora, nós estamos nos afastando, nós estamos pressionando a outra placa, que é a maior que tem e que suporta o Oceano Pacífico e forma o triângulo do fogo, que rachou e criou uma onda que invadiu o Japão. As notícias que vêm de lá são cada vez mais pesarosas.
Então, Jesus falou: “(…) nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas. Haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados.”
E aí, Senador Pedro Simon, as dores de parto vão dar, realmente, a nossa definitiva redenção: “Então, se verá o Filho do Homem vindo numa nuvem com poder e grande glória.” É aí a nossa redenção. “Ora, ao começarem essas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça, porque a vossa redenção se aproxima”.
Nós clamamos – lindo o seu discurso –, mas somos e seremos sempre como João Batista no meio do deserto.
Cristo clamou, chorou sobre Jerusalém. Ele disse que era como uma galinha tentando juntar os pintinhos. E ela foi destruída, e não ficou pedra sobre pedra.
Clama a CNBB, clamamos nós todos da tribuna, mas essa pobre Humanidade em busca da verdade tem seus rumos, tem seus destinos, e a profecia vai-se cumprir. Multiplica-se o pecado, esfria-se o amor. Devemos parar de clamar? Não! Cristo não parou. Ele clamou até o último momento na cruz. Nós vamos clamar, com toda fé, e que alguém nos ouça.
Nós estamos vivendo num País de extrema concentração de poder e renda. Com o nosso Presidente Lula, diminuímos isso.
E, mais, a Campanha da CNBB do ano que vem é sobre saúde pública. O Lula vislumbrou que era preciso os pobres chegarem a ser médicos. Por quê? Ah, porque quem conhece a dor em si mesmo vai entender a dor dos outros. Aliás, está escrito na Bíblia que Cristo, mesmo sendo Filho de Deus, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu. Ora, se Cristo precisou sofrer, imagine se não precisa sofrer também um médico, para entender o sofrimento daqueles que fazem fila no SUS e, num sábado ou domingo, não encontram ninguém para atender um pai desesperado, com um filho no colo.
Agora, graças a Deus e ao Fies, já se formaram centenas de jovens. No ano passado, estiveram aqui 200 meninos, rapazes que se formaram, das classes C, D e E. Através do Fies, não vão precisar pagar esse curso, é tudo financiado, mas para cada mês que eles trabalharem para o SUS vai ser descontado 1% na dívida deles. Um curso de Medicina não é barato, um curso de Medicina é caro, mas, agora, vamos ter dentistas que tiveram dor de dente e médicos que, um dia, viram seu pai e sua mãe amargurarem na fila de um hospital.
Espero, espero mesmo, que nos deixe uma grande lição a Campanha, que ganhou repercussão com a tragédia que vem do Japão.
Precisamos entender que felicidade não é ter, mas ser, como bem disse, aqui, o nobre Senador Pedro Simon, que fez um discurso dramático, que não foi o primeiro que eu o ouvi falar. Aliás, já o ouvi fazer outro discurso: “Estou pensando em ir embora”. É João Batista. Talvez vá embora com a cabeça oferecida em uma bandeja, mas enquanto não fizerem isso, vai continuar clamando no deserto.
Senadora, muito obrigado.