O SR. PRESIDENTE (Marcelo Crivella. Bloco/PRB – RJ) – Eu é que agradeço a presença da nossa querida Graça, nossa Deputada tão laboriosa na luta pelo nosso Estado.
Gostaria, então, de convidar o Coral Amor do Senhor, com o maestro Zacarias, para que eles possam executar mais um número de louvor a Deus.
(Procede-se à apresentação do Coral Amor do Senhor.)
O SR. PRESIDENTE (Marcelo Crivella. Bloco/PRB – RJ) – Gostaria de saudar e agradecer, mais uma vez, a presença da minha companheira ilustre Deputada Líliam Sá; da ilustre Deputada Graça Pereira; do Presidente da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, Revmº Sr. Guilhermino Cunha, sentado à minha direita; do Vice-Presidente do Supremo Concílio, que hoje representa também o Presidente, Revmº Sr. Roberto Brasileiro Silva, que é o Sr. Juarez Marcondes Filho; quero saudar este patrimônio da fé, Revmº Sr. Isaías de Souza Maciel, nosso companheiro, Presidente da ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil; mais uma vez, saudar o Presbítero Célio de Sena Torres, que é Presidente da Comissão do Sesquicentenário; o Presbítero Hésio Maciel, que preside esse orgulho nacional, que é o Instituto Presbiteriano Mackenzie; o Presidente da Convenção das Assembleias do Ministério de Madureira, do Distrito Federal e Entorno, que é o Pastor Egmar Tavares; o Presidente da sociedade Bíblica do Brasil, Sr. Adail Sandoval de Carvalho; o Presidente do Sínodo de Brasília, Presbítero Josimar Santos Rosa; o Presidente do Sínodo de Curitiba, Presbítero João Jaime Nunes Ferreira; e todos os membros da Igreja Presbiteriana aqui presentes.
Quero agradecer muito o discurso do Senador Cristovam Buarque e, também, do Senador do Amapá Geovani Borges. É com muita satisfação que, representando o Senado Federal, presido esta sessão para comemorar os 150 anos da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, um dos templos centrais da fé reformada em nosso País.
Localizada no Rio de Janeiro, a Catedral é a igreja mãe de todos os presbiterianos brasileiros e o templo sede do histórico Presbitério do Rio de Janeiro, o mais antigo do País. Ele é freqüentado hoje por cerca de 3.500 fiéis e é um dos marcos, como disse, da nossa fé. Sua história se confunde com a própria história da Igreja Presbiteriana em terras brasileiras, uma história riquíssima, cujos primórdios podem ser localizados no próprio Rio de Janeiro há séculos.
Em 1859, como foi dito aqui, chegaram os missionários norte-americanos Ashbel e sua esposa, o qual se ordenara pastor pelo Seminário de Princeton. Ele escolheu como destino da sua missão o nosso Brasil e aqui aportou aos 26 anos de idade, assim que concluiu seus estudos.
O Reverendo Simonton é a principal figura histórica do presbiterianismo no País. Seu trabalho missionário e pioneiro marcou para sempre essa Igreja e lançou as sólidas bases em que ela se ergueu.
Não obstante a importância do pioneirismo do Reverendo Ashbel, papel não menos importante foi desempenhado por outros nomes inscritos nessa constelação fulgurante de homens de Deus. É o caso, para citar apenas alguns exemplos, do Reverendo José Manoel da Conceição, primeiro brasileiro a ser ordenado Ministro do Evangelho; de George Nash Morton e de Eduardo Lane, presbiterianos do sul dos Estados Unidos, que foram responsáveis, juntamente com outros missionários, pela interiorização da Igreja Presbiteriana no País, pregando a palavra de Deus e levando a sua fé a regiões como o Triângulo Mineiro e Goiás, no centro-sul, e a todos os Estados das regiões Norte e Nordeste do Brasil, entre Alagoas e o Amazonas; e de brasileiros como Eduardo Carlos Pereira e Erasmo de Carvalho Braga, líderes importantes em momentos cruciais da história da Igreja Presbiteriana, da qual não estão excluídos episódios de dissensão e de ruptura institucional.
A Igreja Presbiteriana do Brasil, apoiada no trabalho incansável de seus missionários, pastores e fiéis, chega ao século 21 com força renovada, não só em termos do seu trabalho eminentemente espiritual, como também de natureza social.
Hoje, a Igreja Presbiteriana do Brasil conta com mais de 4.200 igrejas em todo o País, nas quais seis mil pastores e 844 mil membros compartilham a graça de Deus.
A Igreja também tem, sob sua responsabilidade, dois hospitais, nove seminários, 90 escolas, entre as quais se incluem a renomada Universidade Presbiteriana Mackenzie e o Instituto Presbiteriano Gammon.
A ação social da Igreja se desenvolve em várias frentes, entre as quais se destacam a Sociedade Amigos de Meninos, Meninas e Adolescentes Aprendizes de Rubiataba, que oferece uma série de benefícios para as crianças e os adolescentes dessa cidade goiana, e a Diaconia de Ação Social Evangélica, que presta auxílio social e financeiro a populações carentes do semi-árido brasileiro, que engloba, além dos Estados do Nordeste, o norte de Minas e o Espírito Santo.
Parabéns, portanto, à Igreja Presbiteriana do Brasil pela riqueza da sua história, pela coragem e pela determinação de seus fundadores pioneiros, de seus pastores e fiéis do passado e do presente, pelos contínuos esforços na divulgação da Bíblia e pelo imprescindível apoio às comunidades carentes nas áreas mais pobres do nosso País.
Espelhemo-nos no exemplo dessa grande instituição, que louva a Deus tanto pelo estudo e pela divulgação de sua santa palavra como pelo cuidado com seus filhos mais carentes e na imponência do seu maior símbolo, a Catedral da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, que tanto conforto trouxe aos seus fiéis nesses 150 anos de existência.
A Igreja Presbiteriana do Brasil, para nós, cristãos, é realmente um exemplo extraordinário, porque não há, na Bíblia, nenhuma grande obra que não tenha sido feita com sacrifício. O sacrifício, o idealismo, a renúncia é aquela rocha sobre a qual Cristo disse que devemos apoiar a nossa edificação. E foi nos primórdios da nossa fé, da fé protestante, da fé reformada, da fé evangélica que os missionários presbiterianos escreveram, com letras de sangue, a Profissão de Fé da Guanabara, um marco daquilo que seria o movimento cristão no Brasil. Ali eles celebraram a primeira Santa Ceia das Américas.
E, assim como Cristovam Buarque fez um apelo a esta vocação, a esta índole que existe na alma, que vinca a alma do povo presbiteriano, que é o interesse pela educação – esse monumento que os senhores construíram nos colégios e na Universidade Mackenzie –, eu gostaria também de fazer um apelo aos meus irmãos presbiterianos. Os senhores hão de lembrar que as últimas palavras de Cristo, antes de subir aos céus, foram de profetizar uma globalização. Naquela ocasião, era difícil aos apóstolos entenderem, pelas dificuldades de transporte, pelas questões de energia, de dificuldade de línguas. Não havia um padrão monetário internacional. Nem todos estavam dispostos a aprender um idioma, abrir suas fronteiras e permitir um mundo globalizado. Mas Cristo disse aos seus discípulos: este Evangelho será pregado a todas as nações da Terra e então virá o fim.
Nós, hoje, no plenário do Senado Federal, gostaríamos de fazer menção a essa missão inegociável que todos temos. Se olharmos para o povo brasileiro, vamos ver que pagamos um alto preço para ter a honra de ter no nosso sangue o componente de três raças, que nos lembra a palavra triunfar.
A palavra triunfar vem desse conceito de tri, triplo, três forças harmônicas e conjugadas trabalhando juntas. Deus se revela a nós como Pai, Filho e Espírito Santo. A maior força da humanidade, a pedra angular de todos os Estados é a família: pai, mãe e filhos. A vida só existe por duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, que é a água. E nós, povo brasileiro, pagamos um alto preço, cada um de nós, para ter hoje, na nossa idiossincrasia, na nossa genética o sangue de negros, índios e brancos. De tal maneira que fomos preparados, ao longo dos nossos processos históricos, para ser esta nação globalizada.
Nenhuma outra raça tem esse sentido. Veja que Villegaignon, voltando à fé católica, era impregnado dos preconceitos de raça e meio, da superioridade da raça branca. E ele punia com a morte aqueles que tivessem qualquer contato com as índias. E os portugueses, que tomaram seu lugar, eram destituídos disso.
De tal maneira que nós, hoje, somos a maior nação do esforço cristão no mundo. A Sociedade Bíblica do Brasil é um exemplo disso.
Nós ainda devemos o Evangelho à Índia, à China e, sobretudo, aos países árabes. Hoje, sinto-me honrado de ter aqui os representantes da Embaixada do Irã e do Iraque. Queremos ter pastores lá, como o Brasil também está aberto para mesquitas mulçumanas e a templos hindus.
Eu vivi na África dez anos. Eu andei por todo o continente abaixo do Saara, abaixo da floresta tropical. Mais especificamente, iniciei meu trabalho na cidade de Durban, onde encontrei o regime do apartheid.
Quando procurei um corretor que me ajudasse a encontrar um pequeno salão onde eu pudesse começar a minha obra missionária, ele me perguntou: “Onde você quer? Em que local?” Eu disse: em frente à estação de trem, porque ali há muitas pessoas carentes. Então, ele me disse: “Mas eu nasci aqui, trabalho aqui – ele deveria ter 30 anos – e nunca fui lá.” A distância era como daqui ao último Ministério; daqui à Catedral de Brasília. Ele nunca tinha ido lá, devido à sua genética de anglo-saxão, pela sua formação de raça e meio, que tentou entrar no Brasil, quando Robineau disse, talvez, uma das maiores blasfêmias registradas em nossa história. Ele disse a Dom Pedro II que o homem não descendia do macaco, mas caminhava para ser, porque misturava as raças.
Ora, essa é a obra mais lindas que o Espírito Santo fez em nossa civilização, e não foi pouco, custou o coração estraçalhado de nossos antepassados ibéricos; custou 350 anos de senzala, 16 horas de trabalho diário, com alto índice de aborto e suicídio, e tantas lágrimas derramadas de nossos pais africanos. E custou também a vida de tribos inteiras, porque, cada vez que um missionário, até bem intencionado, espirrava, dizimava uma tribo.
Nossos pais nos legaram aquilo que, lá na África, me deu condições de vencer o apartheid.
Eu vou dar um testemunho aos senhores. Nos primeiros meses, distribuindo folhetos na rua e convidando as pessoas – essa é a nossa maneira de fazer a obra –, lembro-me que as pessoas amassavam os folhetos e os jogavam no chão, a priori. “Umulungu”, “puma”, era o que eu ouvia
Eu apenas respondia: para o senhor também. Não sabia o que era umulungu, puma, hamba, ekhaya, buya. E respondia: para o senhor também.
Mas, passado algum tempo, aquela igreja lotou. E lotaram os estádios. E hoje são milhares de igreja, porque, de alguma forma, o povo africano podia ver nos pastores brasileiros, na nossa forma de ser, de falar, de sentir, de olhar, de cantar, de ouvir, alguma afinidade que eles não sabiam identificar.
Essa afinidade, essa coisa nossa brasileira, Deus nos deu com muito sacrifício. De tal maneira que a Sociedade Bíblica do Brasil hoje é, vamos dizer, tão grande ou maior ou, talvez, o dobro da maior Sociedade Bíblica do mundo, que é a dos Estados Unidos.
Nós, povo brasileiro, nós, cristãos do Brasil, temos hoje igrejas que possuem rádios, televisões, aviões, dízimos, ofertas, universidades, gráficas. Não nos falta absolutamente nada para cumprirmos a última missão, que é romper as fronteiras daqueles que ainda não ouviram falar de Jesus.
Esse é um esforço de nós todos. E esse é um esforço dessa igreja abençoada de 150 anos.
E não poderia deixar aqui de citar com muito carinho o Reverendo Guilhermino Cunha, que já foi saudado por suas ovelhas. O Reverendo Guilhermino Cunha, que conheci quando ainda menino, é um homem que podíamos caracterizar por uma palavra que Montesquieu disse, o segredo das monarquias e de qualquer forma de governo que vencesse o dilúvio de ódio e paixões, característico da política: moderação.
A gente não entende isso quando é jovem. A minha mãe freqüentava a igreja de Copacabana. Eu, quando ia lá, eu dizia: “Mamãe, é a igreja ‘sorveteriana’, é muito fria”. Hoje, eu vejo o espírito da moderação que falta tanto. Da frugalidade! A nossa geração, sobretudo de cristãos, não reclama de nós posturas heroicas, de novos mártires ou de ocupar o proscênio à ribalta, mas senão uma revolução dos nossos costumes, de voltarmos à nossa maneira simples, à nossa humildade, de termos hábitos que não envergonhem nosso povo e não constranja os mais pobres.
Porque, se há entre nós um espírito de igualdade, então, aquilo que fazemos todos devem poder fazer: os locais que frequentamos, a comida que comemos, a roupa que vestimos, para que não sejamos nós aqueles a promover os abismos das desigualdades no Brasil que tanto envergonham a nossa civilização. Em pleno século XXI, ainda temos crianças morando entre ratos e baratas nas favelas. Nunca vi na África favelas tão pobres – vi na Índia, na África não – quanto as que vejo na minha cidade, no Rio de Janeiro, na cidade de São Paulo e em tantas outras cidades importantes do Brasil.
O Reverendo Guilhermino Cunha é realmente um servo de Deus que nos inspira. Em seu livro A Igreja dos Meus Sonhos tem uma frase que gostaria de mencionar, pois representa bem esse equilíbrio, Pastor Isaías. Ele diz: “A igreja sem disciplina é morta; a igreja com disciplina demais mata.” Esses presbiterianos são muito importantes para todos nós cristãos e, com eles, aprendemos como se constrói uma igreja e como edificá-la sobre a rocha, ao longo do tempo, sem escândalos, sem grandes cicatrizes.
Sei que esta sessão está sendo transmitida pela TV Senado para todo o Brasil. Quero deixar o meu muito obrigado em nome de todos nós, em nome do Senado, do povo brasileiro, à Igreja Presbiteriana do Brasil, ao Reverendo Roberto Brasileiro, ao Reverendo Guilhermino Cunho. Cito essas duas figuras, sem omitir nenhuma delas, porque sei que sintetizam os mais altos valores desses meus irmãos tão honrados, tão queridos, dessas portas abertas do hospitais espirituais, desses pregadores da Bíblia na essência mais pura da sua palavra que, sem fanatismos, levam a semente do Evangelho aos corações brasileiros.
O Senado Federal precisava prestar esta homenagem, sobretudo agora quando nós daqui queremos construir um Brasil rico, poderoso, culto, mas também justo e humano.
Um Brasil que não se afaste dos nossos princípios sagrados que estão na Bíblia, e que assim possamos legar aos nossos vindouros, aos nossos pósteros, um Brasil onde o Evangelho tenha liberdade, onde os pastores não sejam condenados, onde nossas igrejas não sejam invadidas, nem tenhamos que censurar a Bíblia.
Vocês devem ter visto a luta que fizemos aqui, porque havia um projeto para censurar a Bíblia. Havia discursos, neste plenário, na tribuna deste plenário, Graça, Líliam, dizendo que a Bíblia precisava ser revisada, que nós não podíamos dizer que homossexualismo é pecado, ou que o casamento, matriz de todas as sociedades, é a união de um homem e uma mulher e seus filhos. Ora, essas coisas precisam ser ditas aqui nesta Casa.
Nós somos uma civilização cristã. Há 450 anos nossos antepassados celebraram a Santa Ceia. E mal sabiam eles que aquele sangue pelo qual eles foram condenados pelo fanatismo, porque não sabiam discernir entre letra e espírito, mais tarde seria o próprio sangue deles. Mas esse exemplo que nos legaram não morreu e jamais morrerá. Nós continuaremos altivos, como altivo foi o Reverendo Guilhermino Cunha, que levantou a Bíblia numa audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e, de Bíblia erguida, defendeu nossos valores sagrados.
O Brasil não pode abrir mão da sua liberdade de culto e da livre expressão do pensamento.
Vocês são mártires, são heróis, são legionários, são bandeirantes, são homens que nos inspiram. Recebam do Senado Federal o nosso aplauso e a nossa homenagem. Que Deus abençoe a Igreja Presbiteriana do Brasil! (Palmas.)
E eu gostaria de convidar agora para falar pela Igreja Presbiteriana o Vice-Presidente do Supremo Concílio, o Revmº Sr. Juarez Marcondes Filho.
E, em seguida, falará o nosso Revmº Guilhermino Cunha, pela Catedral Presbiteriana do Rio.