Entrevista concedida ao Jornal das Gravadoras.

 

Com a agenda lotada de compromissos, entre uma reunião e outra, o Senador / Cantor / Compositor e Pastor Marcelo Crivela concede entrevista exclusiva ao jornalista Antonio Braga. Dentre outros assuntos, Crivela revela seus projetos como parlamentar, elogia o Presidente Lula e fala de sua carreira artística.

Existe um projeto seu sobre a Renovação das Concessões apenas para rádios adimplentes. Em que estágios está esse Projeto?
Está num estágio inicial e encontra resistência de alguns Senadores que são donos de emissoras de rádio e não querem pagar o Ecad. Seria importante que os artistas se mobilizassem para ajudar o projeto a andar. Segundo ouvi, 37% do Senado tem interesses diretos ou indiretos com rádios e esses acham que a cobrança dos direitos autorais é injusta. O político só consegue avançar nessas questões se tiver o apoio da classe interessada. Outras categorias mais politizadas, como a dos trabalhadores metalúrgicos, por exemplo, levam suas questões aos políticos e fazem pressão para que as coisas aconteçam. Os artistas são diferentes, são poetas, acham que as coisas vão se resolver como a chuva cai do céu ou como o sol nasce a cada manhã. Tem também aqueles artistas, já consagrados, que acham que vão bater de frente com emissoras de rádio e televisão e aí não vão mais tocar as músicas deles. O que deveria também acontecer é uma iniciativa de apoio ao projeto por parte das emissoras que pagam os direitos autorais, pois elas estão pagando pelas inadimplentes. Quanto maior o número de emissoras pagando menor fica o valor do ponto. Na época, apresentei o projeto ao Gilberto Gil, que era ministro, e poderia tornar esse projeto uma medida provisória, mas ele não o fez.

Carlos Colla e Michael Sullivan são seus parceiros mais constantes. Como começou a parceria com esses grandes autores?
O Sullivan… fomos vizinhos há muitos anos, no condomínio Santa Mônica (Barra da Tijuca). E, aí começou o contato. Depois gravei uma música dele chamada “Amor Maior” no CD que fiz pela Sony Music. A partir dali passamos a compor juntos. Mais tarde tive a oportunidade de ir com ele à Fazenda Nova Canaã onde passamos alguns dias e os nossos laços se estreitaram. Ele me ajudou muito a concluir esse projeto fazendo muitos shows por todo o Brasil. O Colla eu conheci mais tarde, através do Sullivan. Fizemos algumas parcerias, há uns 10 anos, quando estava gravando o CD ‘Coração a Coração’. Foi uma afinidade muito grande, pois temos a mesma visão de Brasil.

Qual foi seu maior sucesso? Em que ano aconteceu? Quanto rendeu?
Eu não saberia dizer qual foi o maior sucesso. O CD que mais vendeu foi o ‘Mensageiro da Solidariedade’, na época que estávamos construindo a Fazenda Canaã – o primeiro pela Sony Music – que vendeu um milhão e meio de cópias. Antes dele também tive um CD que vendeu mais de um milhão de cópias, pela Line Re-cords, ‘Perfume Universal’ e acho que essa é a música de maior sucesso, pois tem versões em várias partes do mundo.

O senhor já esteve entre os autores de maior rendimento junto ao Ecad, ficando atrás apenas de Roberto Carlos. Atribui esse sucesso ao crescimento da música gospel ?
Atribuo isso a imensa generosidade do público gospel que, evidentemente, cresce na mesma proporção que a qualidade da música gospel evolui.

Quantos discos o artista Marcelo Crivella já vendeu até hoje?
Mais de 10 milhões – contando aqui e na África. Na África ganhei um disco de ouro gravado pela EMI, em 1997/98.

Vamos entrar um pouco em política, já que o artista Marcelo Crivela também é Senador da República. Como o Senador está posicionado referente à pirataria?
Há um grande esforço no congresso para conter a pirataria, que não ajuda ninguém e prejudica os autores, os músicos, a indústria fonográfica e o governo. Quando alguém compra um produto pirata está prejudicando todo mundo e a si mesmo. Está admitindo um crime, e fazendo parte da margi-nalidade que cresce no país. Falta consciência coletiva. Isso aumenta a pobreza. O Governo Lula tem dado uma boa contribuição para abaixar a pirataria com o aumento de emprego. Na crise que nós tivemos do petróleo, na década de 70, aumentou em um milhão o número de pobres no Brasil. Na época da hiperinflação, do Presidente Sarney, aumentou em dois milhões. Na época da crise cambial, do Presidente Fernando Henrique Cardoso, aumentou em milhares o número de pobres. Com o Lula, mesmo com a crise financeira mundial acentuada, nós criamos empregos. No mês de setembro criamos 250 mil empregos com carteira assinada. O Governo Lula é campeão em geração de empregos. Diminui a pobreza, diminui a pirataria.

O Projeto Canaã, sustentado, inicialmente, pela venda de seu primeiro disco, hoje é modelo para quaisquer outros projetos que vise aproveitar terras do semi-árido nordestino. O governo, a partir do seu empreendimento, fez alguma coisa semelhante pelo nordeste? O que faltou, na sua opinião, para que outros ‘Canaãs’ acontecessem?
Eu conversei com duas pessoas importantes sobre a reforma agrária brasileira e sobre a Fazenda Canaã: uma foi o Presidente da República e o outro foi João Pedro Stédile (líder do MST). O Stédile ficou maravilhado. Hoje no Brasil existem seis mil assentamentos da reforma agrária, a maioria deles são favelas rurais, onde não têm assistência médica, não têm formação técnica, não têm apoio à produção. O Projeto Nordeste deu um exemplo para o país de que é possível fazer. Ali as casas são de qualidade, tem restaurante que serve a todos, as crianças estudam numa escola que nem no Rio de Janeiro existe uma escola pública semelhante. Tem transporte escolar. As crianças têm café da manhã, almoço, lanche à tarde e ainda levam para casa o pãozinho (um saquinho de pão). Todas têm uniforme, que é lavado e passado na lavanderia da escola (porque na casa delas não tem água); tratamento dentário; oftalmologistas; piscinas (uma delas olímpica); campo de futebol; brinquedoteca; aula de teatro; aula de computador enfim, elas têm acesso ao que há de melhor na educação: da pré-escola ao ensino fundamental. O Stédile me disse que não há em nenhum assentamento da reforma agrária uma escola como a nossa. Lula prometeu ir conhecer. Está devendo essa…

No coração, quem fala mais alto: Marcelo Crivela Senador, ou Marcelo Crivela Artista Gospel?
É o Pastor, que canta levando as pessoas ao encontro de Deus.

Como andam as obras do Projeto Morro da Providencia?
Muito bem! A idéia do Cimento Social é unir a cidade do Rio, que a exemplo de muitas outras no Brasil está dividida em duas, dentro de si mesma. Duas irmãs siamesas e monstruosas, que não vivem uma sem a outra. De um lado rica, do outro, abaixo da linha da pobreza. De um lado uma cidade formal e bonita e, numa distância constrangedora, as favelas indignas, onde crianças crescem com o estigma de cidadãos de segunda, vivendo uma sub-vida, num sub-mundo de frustrações. Daí vem a violência, que faz de todos nós reféns e atrasa nosso desenvolvimento econômico, social e cultural. A idéia do Cimento Social é ajudar as famílias que residem nas favelas a terminarem suas casas com estabilidade estrutural e funcionalidade arquitetônica – dentro da realidade local. Tenho realizado obras no Morro da
Providência (primeira favela do Brasil) com recursos próprios, para estabelecer um exemplo viável para os governos estaduais e municipais do Brasil.

Marcelo Crivela por Marcelo Crivela.
Um inconformado em ver que num país tão bonito e rico existe e persiste tanta miséria. Entrei para a política para construir um Brasil mais justo, um Brasil menos desigual. E isso começou com o governo do Presidente Lula e espero que continue com a Ministra Dilma.

 

 

Capa da revista Jornal das Gravadoras | Ano XII - Edição 137 - Outubro 2009 | Foto Edvaldo Reis