O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srªs e Srs. telespectadores da TV Senado, senhores presentes ao plenário desta Casa, domingo retrasado, na revista Veja, primeira página – desculpem-me, matéria de capa –, saiu uma reportagem dizendo: 
 

“PARECE MILAGRE!

Um novo remédio faz emagrecer entre 7 e 12 quilos em apenas cinco meses. E sem grandes efeitos colaterais. 
Saiba tudo sobre ele”.

  
Os senhores podem imaginar o impacto que uma reportagem de capa, na maior revista brasileira, de maior circulação no Brasil, tem com essa panaceia. Há muitos brasileiros que sofrem com a obesidade e esse remédio, segundo a Veja desta semana, já na segunda-feira, foi a coqueluche das farmácias. 
Sei que há uma predisposição de qualquer cientista ou de qualquer meio de comunicação a dar boa notícia aos seus leitores. Isso é da índole natural da imprensa, e nós temos de aplaudir. A indústria farmacêutica também, no mundo inteiro, investe trilhões de dólares e tem sido, para nós todos, motivo de muito júbilo, porque nós estamos melhorando a média de vida dos cidadãos e diminuindo muito o sofrimento. Agora, o que ocorre com essa matéria de capa, e isso é importante nós frisarmos, é que já na quinta-feira, na Folha de S.Paulo, saiu uma matéria, também na capa, com um alerta: “Anvisa alerta contra uso de antidiabético em regimes”. 
É isso que eu gostaria de ressaltar do plenário, da tribuna desta Casa. O que me preocupa é que, com a capa de uma revista tão importante quanto a Veja falando de um milagre – a manchete é “Parece Milagre” –, nós acabamos atraindo a atenção de milhares, de dezenas de milhares, eu diria mais, centenas de milhares, e diria mais, milhões de leitores, porque a revista acaba passando de mão em mão, e não sei se o alerta da Anvisa, o alerta da nossa Agência de Vigilância Sanitária será também visto por todos os brasileiros que se interessaram por comprar esse milagre. 
O que diz o alerta da Anvisa? Que esse medicamento traz risco para a função renal e traz distúrbios de tireóide, além de outros problemas. 
Eu acho que nós deveríamos, o Parlamento brasileiro, nos pronunciar, deveríamos fazer uma audiência pública, chamar aqui repórteres, chamar empresas, chamar a Anvisa, mas também legislar a respeito. Eu acho que é temeroso que hoje tenhamos propaganda de remédios anunciando benefícios para os quais não foram habilitados pela Agência. Pode ser que haja mesmo esse efeito colateral. Não digo efeito colateral, porque efeito colateral tem, eu diria, conotação ruim. Aqui não. Aqui ele tem um efeito não previsto de perder de sete a doze quilos em apenas cinco meses. No entanto, isso não está previsto na bula do remédio, isso não está previsto na Agência quando autorizou o medicamento. E, até que isso seja autorizado – eu gostaria que tivéssemos um remédio que pudesse dar aos brasileiros esse benefício extraordinário de perder tantos quilos em tão pouco tempo –, enquanto não houver uma autorização explícita do órgão regulador, não deveríamos permitir que esse remédio fosse alvo de propaganda. 
Acho que a Veja está nos devendo, pela importância da revista, pelos anos todos que tem, pela credibilidade junto ao provo brasileiro, uma outra manchete, na próxima semana: “Parece milagre! Mas não é”, fazendo alusão à matéria anterior. “Parece milagre! Mas não é.” E aí elencar todos os efeitos colaterais anunciados na capa de a Folha de S.Paulo e que já foi inclusive motivo de pronunciamento preocupado feito pelo Senador Eduardo Suplicy. 
Venho aqui apenas – sem o brilho e a acuidade com que ele fez seu pronunciamento, eu não seria capaz – reiterar essa nossa preocupação e fazer o apelo para legislarmos a respeito e também, quem sabe, sensibilizarmos a revista para fazer uma nova capa: “Parece milagre! Mas não é”, e aí esclarecer seus leitores. 
Muito obrigado, Presidenta.