A CPMI da Emigração Ilegal, da qual sou o presidente, foi ao Japão. Precisávamos verificar “in loco” a situação dos quase 300 mil brasileiros que emigraram para lá. A grande maioria trabalha muito e por isso conta com o prestígio por parte dos empregadores, que são unânimes em reconhecer que, comparados a chineses, coreanos e filipinos, outros grandes grupos de imigrantes, os brasileiros são mais eficientes e criativos. Mas há também o caso dos que têm dificuldades para se ajustar, hoje em torno de mil, que estão presos por terem cometido delitos, na maioria das vezes furto ou assalto.

A esse respeito, ouvi do Vice-Ministro da Justiça um pedido formal de desculpas em nome do governo japonês, já que eles estão convencidos de que esses transgressores não tinham antecedentes criminais e que, por falta de um programa de adaptação apropriado por parte das autoridades e empregadores locais, acabaram discriminados, injustamente excluídos e a transgressão refletiria essa revolta. Uma visão do problema que mostrou o grau de avanço civilizatório do país.

Outra vitória foi o compromisso formal que o Ministério da Justiça assumiu com os parlamentares que compõem a CPMI de publicar, nos próximos dias, nota ministerial orientando as brasileiras, cujos maridos trabalham no Japão e não estão pagando pensão alimentícia a seus filhos no Brasil, a recorrer ao ministério, que vai considerar a sentença da Justiça brasileira definitiva, não cabendo recurso ao réu, determinando à empresa que desconte do salário o valor e o remeta ao Brasil.

Visitamos as prisões. Os jovens brasileiros estão sob um regime disciplinar severo, mas em boas condições física e mental. Não houve queixas quanto ao tratamento recebido. Tanto que, embora manifestassem saudades do Brasil, foram unânimes em declarar a intenção de permanecer no Japão. Entre os adultos a situação é semelhante, apenas com a diferença de que eles trabalham oito horas por dia em linhas de produção montadas dentro dos presídios. É impressionante como o sistema carcerário japonês reeduca o detento sob o princípio não só do castigo da perda da liberdade, mas também através de trabalho intenso e investimento na educação.

O Japão é uma pequena ilha com 120 milhões de pessoas. Mesmo depois de ter sido arrasada por duas bombas atômicas, tornou-se a segunda maior economia do mundo e produz um PIB de quase 4 trilhões de dólares. Um país de inacreditáveis contrastes. Mercado competitivo somado à falta de fé em Deus faz do país o maior consumidor de vodca do mundo (depois da Rússia); de uísque (depois da Escócia) e de cerveja — depois de ninguém. Outro índice que assusta é o de suicídio. Mais de 100 pessoas o cometem diariamente.

Muitos apostam que até 2008, quando ocorrerá o centenário da imigração japonesa para o Brasil, a quarta geração de descendentes japoneses no Brasil será autorizada a vir trabalhar no Japão, o que deve significar a perda de mais de 100 mil jovens para o Brasil. Cada vez mais, brasileiros abandonam o país, por conta de uma desigualdade social monstruosa. Cada vez oferecemos menos emprego e educação. Triste história de uma pátria mãe querida, que manda seus filhos embora!