Todos os dias lemos denúncias nos jornais. Uma imprensa livre é patrimônio da democracia e da liberdade, mas o que parece é que essas notícias, que são eminentemente tristes e devem ser tratadas com pesar, posto que nos envergonham a todos, são no fundo publicadas por alguns com um certo sadismo.
Há também um vício de “denuncismo”, uma orgia histérica de um júbilo neurótico em que se busca, passado um escândalo, logo outro que lhe supere o horror, para condenar a priori quem quer que seja, na louca insensatez de supostos salvadores da pátria. No ímpeto desse estranho rancor é que se cometem excessos.
Digo isso porque ainda perduram os ecos da notícia de capa da Folha em 31/7 (“Comandante do Exército vira alvo de investigação”), e de outra, publicada em 9/8 (“TCU diz que comandante do Exército favoreceu empresas”), envolvendo nas suas teias insidiosas oficiais do mais alto escalão e destinada a apontar ao povo o comandante do Exército como traidor da pátria.
Dizia a primeira: general Enzo Martins Peri e mais sete generais viraram alvo de investigação da Procuradoria-Geral da Justiça Militar. É justo indagar que provas foram obtidas para estampar na capa de um jornal tão desalentadora e afrontosa notícia.
As provas foram supostamente obtidas na Procuradoria-Geral da Justiça Militar, que, assim que a notícia se tornou pública, a desmentiu. Em seguida, nova reportagem de mesmo teor foi publicada.
Dessa vez referia-se a processos no Tribunal de Contas da União, que também os desmentiu. Dois textos, dois desmentidos.
Mais não se podia fazer para encerrar num melancólico crepúsculo a descabelada reportagem. Surpreendido pelo dilúvio das infâmias, o comandante do Exército não perdeu a linha da sua compostura; antes, como aquele mar que Xerxes chicoteava, permaneceu tranquilo na sua consciência e intimorato no seu coração.
Ele encontrou forças na humildade cristã para suportar a desapiedosa insolência dos que, no fanatismo de acusar, vítimas da própria arrogância, se tornam energúmenos blindados aos apelos da razão.
É triste constatar que, no Brasil de hoje, um sacerdote, um leigo, um general, um civil, um cidadão qualquer, ninguém é digno de contar com o beneplácito da presunção de inocência diante da fúria das rotativas. Entretanto, por mais que deva defender a cidadania, não vou me deter no drama pessoal desses homens. São soldados. São bravos.
Hão de superar suas adversidades, mesmo que no vértice da insanidade, por um tempo, só lhes tenha restado o aplauso da própria consciência. Quero falar do meu país e da nossa gente, dos valores maiores da pátria, que, em última análise, repousa sobre o ânimo de seus cidadãos e sobre a esperança que os acalenta no sucesso do seu próprio destino.
É duro ver a tristeza e o pessimismo da dona de casa e do cidadão comum, pegos de surpresa por notícias levianas do que seria talvez a pior das nossas desgraças, que é a ruína moral de uma instituição sem a qual nem sequer existiria o Brasil.
Assim, nossa gente se sente traída, desconfia da índole da brasilidade, perde a autoestima e passa a ver com malícia seus governantes.
As sociedades que não cultivam o respeito aos seus líderes, para ao menos garantir o mais elementar dos direitos do homem, que é a sua honra, podem ser um ajuntamento de pessoas, um amontoado, mas jamais serão uma nação que se enobrece na prática das virtudes a serviço da humanidade.
Queira Deus que a mídia brasileira se engrandeça na livre expressão do pensamento e na liberdade de imprensa, mas sem esquecer de outro direito que os antecede e a eles se sobrepõe: o respeito à honra de cada cidadão brasileiro. Este artigo é um solene apresentar de armas a um soldado honrado que dignifica a pátria que serve.
MARCELO CRIVELLA, engenheiro civil, é senador pelo PRB-RJ e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus.
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