O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Como Líder. Sem revisão do orador) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores que nos honram com sua presença, telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado, venho para fazer um curto comunicado.
Estamos na Semana do Trânsito, e há, no Brasil, um número crescente de acidentes. Muitos desses acidentes estão relacionados ao consumo de bebida alcoólica. É impressionante como os brasileiros estão bebendo mais e começando a fazê-lo cada vez mais cedo.
Sr. Presidente, a bebida alcoólica tem trazido perigosos, volumosos e, às vezes, irrecuperáveis danos ao nosso Brasil. Por isso, temos de fazer o controle de dois vetores do consumo de álcool, que considero os maiores promotores de acidentes no trânsito.
O primeiro deles é a propaganda, que, no caso das bebidas alcoólicas, está sempre associada ao sucesso, ao glamour, à beleza, parecendo que o consumo de álcool é fundamental, é imprescindível para as pessoas terem sucesso na vida. Na realidade, se o rótulo de uma garrafa de bebida alcoólica descrevesse o que nela realmente existe, dele deveriam constar os vícios, os lares destruídos, o desemprego, a primeira porta para se cometer um crime. Ninguém, neste País, comete crime sem antes beber, e, depois de cometê-lo, bebe novamente.
O Sr. Magno Malta (Bloco/PR – ES) – Para comemorar, Senador Marcelo Crivella.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ) – Para comemorar.
Já concederei um aparte a V. Exª, o que muito abrilhantará o meu pronunciamento.
O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. Bloco/PT – MS) – Eu gostaria, Senador Marcelo Crivella, de registrar que o aparte será uma concessão de V. Exª. Quando se fala pela Liderança, não se permite aparte, porque o tempo é curto, mas isso fica a critério de V. Exª.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ) – Concedo um aparte ao nobre Senador Magno Malta, meu irmão, a quem eu jamais poderia negar a palavra.
O Sr. Magno Malta (Bloco/PR – ES) – O Senador Delcídio sabe também que, se me cortar a palavra, quando chegar em Mato Grosso do Sul, sua mãe vai ter uma conversa com ele, porque ela está assistindo à sessão. Senador Crivella, V. Exª traz à tribuna um tema que interessa à sociedade. Há 26 anos, retiro drogados das ruas. Para cada 50 viciados em cocaína que recuperamos, recuperamos apenas um bêbado. O que o teor alcoólico faz no sistema nervoso central… Quando falo em bêbado, o sujeito diz: “Ah, mas eu não sou bêbado!”. Ninguém começou bêbado. Ninguém começou bebendo três garrafas por dia, mas um copo de cerveja ou meia taça de vinho, dentro de casa. Talvez seja um filho que aprendeu a pegar a bebida na geladeira, quando criança, ou vendo o pai beber. Há casas em que existe um bar onde as bebidas ficam como enfeites, e isso gera curiosidade. Há casos de jovens que começaram a beber por causa da curiosidade despertada por esse tal bar decorativo dentro de casa. Setenta e cinco por cento dos acidentes de trânsito no Brasil acontecem por causa da bebida alcoólica. Senador Marcelo Crivella, 70% dos órfãos do Brasil, de famílias desfeitas, sem pai e mãe, são resultado da bebida alcoólica. Então, V. Exª traz um tema do mais alto grau de significação para a sociedade brasileira. O tempo de V. Exª é curto e não vou fazer do meu aparte o seu pronunciamento e do seu pronunciamento um aparte, mas quero parabenizá-lo e pedir a V. Exª que continue o debate, porque esse, sim, deve interessar a uma sociedade hipócrita, que quer que se prenda e mate o menino que fuma maconha, mas que se alcooliza até em festa de criança, de aniversário de um ano ou de quinze anos. Em festa religiosa, a barraca que recolhe dinheiro é a do chope. Precisamos rever isso. V. Exª está de parabéns.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ) – Sr. Presidente, agradeço pelo tempo a mais.
Muito obrigado, Senador Magno Malta. O aparte de V. Exª abrilhanta o meu pronunciamento.
Para ser conciso, há duas proposituras que sugiro para os meus companheiros Senadores: primeiro, vamos tirar a bebida alcoólica dos postos de gasolina. Cada lojinha de conveniência dos postos de gasolina brasileiros, hoje, tornou-se um bar. As pessoas param para abastecer e ali encontram cerveja, vodca, e até uísque. As pessoas acabam sendo induzidas a beber. Aliás, no Brasil, vende-se bebida alcoólica em todos os lugares.
No Rio de Janeiro, ocorrem 200 mil afogamentos por ano. Mais de 60% são de pessoas bêbadas, porque se vende muita cerveja na praia. O tempo todo o sujeito fica tomando cerveja. Mas não é só ali: no engarrafamento de trânsito, na porta do Maracanã, em qualquer estádio no Rio de Janeiro se vende bebida alcoólica.
Há uma indução a esse consumo, porque o sujeito toma, quando criança, um guaraná Brahma e, depois, quando se torna adulto, continua tomando uma Brahma.
A palavra “álcool”, eu já disse aqui, vem de um termo árabe que significa “sutil”. Ele é muito sutil, porque o sujeito bebe quando está triste, para esquecer; bebe quando está alegre, para comemorar. Se o sujeito está com frio, bebe para esquentar; se está com calor, bebe uma geladinha para se refrescar. Essa bebida não somente está presente na confraria dos mendigos, debaixo da ponte, como também é primordial no encontro de presidentes.
O Sr. Magno Malta (Bloco/PR – ES) – Aliás, depois de Deus, somente a bebida alcoólica faz as pessoas serem iguais, porque rico bêbado é tão ridículo quanto pobre bêbado; analfabeto bêbado é tão ridículo quanto doutor bêbado; filósofo bêbado é tão ridículo quanto quem não sabe juntar dois raciocínios. Então, depois de Deus, somente a bebida alcoólica faz as pessoas serem iguais.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ) – Concluo, Sr. Presidente.
O segundo ponto é revermos a classificação de cerveja na legislação brasileira. Cerveja não pode ser considerada refrigerante como está na legislação. Precisamos rever isso, porque senão teremos anúncio de cerveja às 9 horas, às 10 horas, às 11 horas da manhã, ou em um sábado pela manhã, por exemplo, quando a televisão estiver transmitindo uma partida de futebol ou uma corrida de automóvel, induzindo as pessoas a, já pela manhã, começarem a beber.
Sr. Presidente, é fundamental conter a propaganda e também tirar as bebidas alcoólicas dos postos de gasolina brasileiros.
Muito obrigado, Sr. Presidente.