O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, V. Exª me anuncia como bispo; então, eu gostaria de homenagear os cearenses, dizendo que Jesus diz… Aliás, é o único Estado que Jesus cita na Bíblia, o Ceará, não tem outro. Ele diz o seguinte: “Os trabalhadores são poucos, mas o Ceará é grande”. Alguns dizem que é seara, mas o certo é Ceará. O Ceará é grande. (Risos.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Inácio Arruda. Bloco/PCdoB – CE) – Não há dúvida, Bispo Crivella. Depois de Adelmir Santana – porque é na Serra de Santana que nasce Patativa, no Município de Assaré –, vem o Bispo Crivella para coroar, exatamente informando que esta é a terra de Deus, é o Ceará.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB – RJ) – Muito obrigado.
Sr. Presidente, Senador Inácio Arruda, a quem quero dar os parabéns pela extraordinária iniciativa de homenagearmos um expoente da arte e da cantoria popular brasileira; Exmo. Sr. Senador Tasso Jereissati, que, com tanto amor e denodo, defende a sua terra, o Ceará, neste plenário; quero saudar também todos os presentes, em nome da dupla de cantadores, em nome de Gonçalo Gonçalves, os ilustres membros da Mesa, o filho do Patativa, enfim, todos que ilustram e abrilhantam esta nossa sessão histórica e solene; telespectadores da TV Senado; ouvintes da Rádio Senado; eu não poderia deixar de vir aqui hoje prestar também o meu tributo, porque sou do Rio de Janeiro, sou da região Sudeste.
Aqui disseram que, na Região Sudeste, não se conhece tanto a arte nordestina. Eu acho que deveria prestar aqui também o meu depoimento de que a região Sudeste tem, nas suas raízes mais profundas da arte e da poesia, toda a vocação nordestina. Basta ver: no nosso processo migratório, nos bairros, nas comunidades, nos antepassados de cada um dos cantadores, dos poetas, dos compositores, dos artistas que tocam, dos músicos, há sempre, sem sombra de dúvida, a inspiração que vem do sofrimento nordestino, a inspiração que vem da alma de quem enfrenta as adversidades e intempéries do tempo, muitas vezes em uma terra árida.
Pois foi o nome dessa ave que deu a Antônio Gonçalves da Silva, poeta e repentista cearense, o apelido que o acompanharia por toda a sua riquíssima vida artística. Refiro-me ao Patativa do Assaré, a quem, muito justamente, estamos homenageando hoje, nesta sessão solene.
De fato, tanto o canto do pássaro quanto o do poeta emocionam pela sua beleza. Patativa do Assaré cantou o seu sertão e a vida rural do interior do Ceará com belos versos, simples, diretos, musicais, sobretudo apaixonados. Transmitiu, assim, com sua obra, uma visão única e peculiar do mundo onde sempre viveu.
Patativa frequentou a escola por muito pouco tempo, apenas poucos meses, depois de ter sido alfabetizado aos 12 anos de idade. Mas foi o suficiente para que ele pudesse começar a escrever seus versos e a conhecer poetas da terra e outros, consagrados, como Guimarães Passos, Olavo Bilac e Castro Alves – este último, o seu predileto.
Aos 16 anos, já iniciava seus passos como cantador e violeiro, usando sua primeira viola, que ganhou de sua mãe.
Três anos mais tarde, numa viagem ao Pará, recebeu do escritor cearense José Carvalho de Brito o apelido de Patativa. Com ele, sua música e sua poesia foram se tornando conhecidas na região de Assaré, no Ceará, terra onde nasceu.
Compondo e cantando, passou a viajar por algumas cidades do Nordeste, apresentando-se como violeiro. Apresentou-se diversas vezes na Rádio Araripe, em razão das viagens que fazia à Feira do Crato, onde, com frequência, declamava seus poemas e cantava. Numa dessas apresentações, foi ouvido pelo latinista José Arraes de Alencar, que se tornou seu incentivador e o apoiou na publicação de seu primeiro livro,Inspiração Nordestina, em 1956.
Patativa só voltaria a publicar em 1967, reeditando o mesmo Inspiração Nordestina, com acréscimos, sob o título Cantos do Patativa. Em 1970, publicaria Patativa do Assaré: novos poemas comentados e, em 1978, Cante lá que eu canto cá. Depois, o poeta publicou, entre outras obras,Balceiro e Aqui tem coisa. Essa é a parte conhecida e preservada de sua obra, já que grande parte dela foi feita ao sabor do improviso, nas rodas de viola, sem nunca ter tido registro.
O poeta cearense também tinha uma veia política, era um homem engajado nas lutas do seu tempo, contra a miséria e as injustiças. E, como era natural, o mote dessa luta foi sempre a vida sacrificada dos sertanejos, assunto central de sua obra.
Temas como a migração, a reforma agrária, os desmandos dos poderosos e a desigualdade na divisão da riqueza sempre foram tratados por ele, podendo ser claramente identificados em Triste Partida, Eu Quero, Teia de Aranha e Seu Dotô não me conhece, algumas de suas obras mais conhecidas.
Finalmente, Patativa do Assaré tornou-se conhecido e obteve reconhecimento em vida. Recebeu toda sorte de homenagens e títulos, entre os quais cinco de Doutor Honoris Causa de universidades federais e estaduais do Nordeste. Também foi homenageado, em 1979, pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e recebeu os títulos de cidadão de Fortaleza e do Rio Grande do Norte.
Sua obra também teve reconhecimento internacional, especialmente na França. Ela foi traduzida para o francês por Jean-Pierre Rousseau, que conta, em documentário de Rosemberg Cariry, sobre a vida e a obra do poeta, as dificuldades que encontrou para manter fidelidade à métrica e à musicalidade peculiar dos versos do brasileiro.
O documentário recente Patativa do Assaré – Ave Poesia não foi o único sobre o vate cearense. Também o cineasta Ítalo Maia já havia feito o documentário Patativa, sobre sua vida e obra, em 2001, dando a esse grande artista popular o registro e as homenagens de que ele é, indiscutivelmente, credor pela beleza do seu trabalho.
O grande poeta cearense faria cem anos neste ano. Assim, nada mais oportuno do que homenageá-lo nesta sessão, da qual muito me alegra poder participar.
Quero aproveitar para cumprimentar, mais uma vez, o Senador Inácio Arruda, autor do requerimento desta homenagem, por essa feliz iniciativa.
Quero cumprimentar também o Senador Inácio Arruda, pelo projeto já aprovado por esta Casa, que tramita agora na Câmara, instituindo 2009 como o Ano Nacional de Patativa, a exemplo das homenagens já prestadas, em anos anteriores, a Santos Dumont, Oscar Niemeyer e Machado de Assis.
Encerro, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fazendo um apelo aos nossos colegas Deputados e Deputadas para que a Câmara aprove rapidamente esse projeto, de forma que possamos prestar mais essa justa homenagem a esse grande artista, o poeta que tão grande contribuição prestou às culturas nordestina e brasileira.
Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)