Pagamos uma dívida de 15,6 bilhões de dólares ao FMI, mas continuamos rigidamente com a política econômica que adotamos como condição para tomar esse empréstimo. Essa política mantém a produção e a renda do trabalho virtualmente estagnadas, com taxas de desemprego e subemprego que atingem quase um terço da população ativa. Assim mesmo, o Presidente Lula fez questão de garantir ao diretor-gerente do Fundo, Rodrigo de Rato, que não mudará a política por causa do ano eleitoral.
Rato ficou encantado. Elogiou muito a política do ministro Antônio Palocci. E fez questão de acrescentar algumas recomendações adicionais por conta própria. Entre estas, destacou a autonomia operacional plena do Banco Central e a desvinculação de receitas e despesas orçamentárias para dar mais flexibilidade ao governo na gestão do orçamento. São recomendações idênticas às que os neoliberais vêm fazendo aqui dentro, incluídas no que se pretende ser as novas gerações de “reformas”.
O Presidente fez questão de uma grande solenidade no Planalto, com cobertura de televisão e discursos de parte a parte, para celebrar o pagamento antecipado dos 15,6 bilhões. Foi apenas uma simulação. A efetivação do pagamento já havia sido feita antes, mas ele achou que o fato merecia mais divulgação. Assim, o País foi brindado com o espetáculo deprimente de um presidente em exercício prometendo bom comportamento eleitoral a uma agência estrangeira a que nada mais deve.
O senhor Rato, por sua vez, entrou no terreno das recomendações como se estivéssemos na ante-sala da prosperidade. Disse que o Brasil não explora o seu grande potencial de crescimento, mas ao mesmo tempo quer aprofundar a política econômica responsável por essa má performance. Em certos pontos a hipocrisia é patente. A desvinculação de receitas e despesas orçamentárias não é para dar flexibilidade ao investimento público, como dizem, mas para garantir pagamento de juros.
É esse farisaísmo que nos assusta no neoliberalismo. A política econômica neoliberal fracassou. O testemunho dos fatos é inegável. Quem seguiu sua receita, como nós, deu com os burros n’água. Somos um dos países que menos cresce na América do Sul, e olha que a América do Sul tem uma performance muito modesta – com exceção, nos três últimos anos, de Venezuela e Argentina. A Ásia, que não segue a receita neoliberal, é um espetáculo de prosperidade. Entretanto, o que nos dizem os neoliberais?
Não, eles não dão o braço a torcer. Dizem, sim, que temos de fazer mais reformas. Agora é a vez da sindical e trabalhista, para cortar direitos. E dizem que temos de aprofundar a política macroeconômica. Seu principal aliado, como sempre, é a manipulação do medo da inflação. Agora mesmo, bastou que a inflação no início do ano desse uma leve oscilação para que saíssem em campo, como se fosse uma calamidade. É um fetiche. Estão apenas preparando o terreno para manter lá em cima a taxa básica de juros, ou evitar que ela caia mais depressa. Assim, quanto mais reforma se faz, mais se fica no mesmo lugar!