Deus ao criar o homem, deu-lhe a responsabilidade de construir a paz. Moisés escreveu: a paz é fruto da justiça e a segurança se estabelece com o Direito. Quero reafirmar que acredito nos ideais de democracia da Revolução Francesa, mas com origem e substância cristã, pois foi Cristo quem primeiro ensinou a fraternidade quando disse que devemos amar uns aos outros; a igualdade porque, se cremos em Deus, somos todos irmãos; e a liberdade quando cunhou a legenda bela e estupenda que diz: “conhecereis a verdade e ela vos libertará”, e certamente não existe liberdade no engôdo, na dissimulação, na mentira e na hipocrisia. E para construir no coração dos homens a paz, é preciso relembrar que para sermos dignos de Deus, devemos repudiar a intolerância, a violência e o ódio.
Quero fazer isso hoje prestando homenagem a um povo escolhido para o extermínio e que estava na primeira fila do ódio do Führer. A cruz ariana, em sua maldição, foi o sinal oposto a estrela de Davi
e a Cruz dos Cristãos. Todos se lembram de quando se levantou o maior demagogo da história, que capitalizou as dificuldades econômicas da Alemanha para envenenar o povo com as quimeras
da vingança. Depois, com a censura da imprensa, o assassinato dos líderes políticos, a criminosa adesão do grande capital e a submissão das forças armadas, foi a cruzada do apocalipse, a
marcha da insanidade.
É preciso relembrar, por mais doloroso que seja, o crime daqueles que se considerando nação de senhores e raça superior, e defendendo uma teoria zoológica da origem do homem, perverteram e enlouqueceram as massas para cometer a mais abjeta das felonias, o mais odioso dos crimes que é o genocídio da guerra e do racismo.
Relembremos a revolta do Gueto de Varsóvia. Eram meninos e meninas, homens e mulheres, idosos, pobres, famintos e desprotegidos, todos inocentes, que como Davi diante do Golias, tinham apenas uma funda para se defender.
Relembremos a dor e o desespero na fila das piras ensangüentadas do holocausto, que cada um dos massacrados em Auschiwitz, Birkenau, Lodz, Terezim, Treblinka e Sachsenhausen, sentiram no paroxismo do seu sofrimento e na caminhada da agonia que os conduzia lentamente para a morte.
Não podemos esmorecer em nossas esperanças. Há no mundo hoje outros guetos, outros campos de concentração e outras Varsóvias, e não faltam os que ostentam arrogantes as armas contra os
indefesos. Como aquela imagem fotográfica, difundida no mundo inteiro, e tirada na oprobriosa Praça do Embarque, de onde partiam os judeus para o extermínio no leste. A foto daquele menino de
cinco anos com as mãos levantadas sobre a mira do fuzil de um soldado nazista. Seu olhar. Sua roupa maltrapilha. Anônimo e indefeso. Humilde e triste. Que fim levou aquele menino? Será que
sobreviveu a demência brutal do mundo em que viveu? Mas seu gesto não morreu. Não morrerá nunca. A imagem daquele menino será sempre um grão de remorso na consciência da humanidade.
Uma lágrima sentida nos olhos de quem, ainda que por um átimo, sentir o que sentiu a mãe, o pai, os irmãos e os amigos daquele pequenino.
Quando ouço as declarações de Armadinehar com suas palavras envenenadas de rancor contra o povo hebreu, me lembro daquele menino e do seu olhar. Olhar de incompreensão, sereno, sem
refletir a agressão covarde que sofria. Um símbolo da perplexidade que os inocentes têm diante da ira, da insensatez, do vértice da loucura de uma mente possessa pelo arbítrio, pelo ódio, pela
violência e pela prepotência.
Fica aqui um apelo aos democratas do Brasil. Ao comemorarmos o aniversário do Estado de Israel, a vitória sobre o holocausto, o triunfo dos homens livres, o ressurgir dos massacrados e o florescer do deserto, devemos fazer, em homenagem aquele menino, um voto de censura e de repúdio a quem quer que se levante, em qualquer parte do mundo, contra o sagrado e milenar direito de existir da Nação de Israel. Hoje é dia de um sonoro alerta global de que não se pode descuidar do passado. Ele sempre retorna, quando nos falta vigilância.
E para terminar essa oração que já vai longa e que passa a ser ditada pela emoção que se extravasa do coração, outras palavras não encontram para expressar o sentimento que os verdadeiros cristãos devotam a Israel, senão aquelas que as virtudes da bondade e o do amor eternizaram na boca da moabita Rute no seu derradeiro apelo a Noêmi:
“ Não me instes para que te deixe e me obrigues a não te seguir; porque aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.
Onde quer que morreres, morrerei eu, e ali serei sepultada; faça-me o Senhor o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte, me separar de ti óh Israel.”
Sen Marcelo Crivella